Na cruz, o derradeiro apelo: Adão, onde estás?
Jean Sulivan
Cruz, Gólgota, Jesus suspenso entre o céu e a terra. Era uma sexta-feira. Naquele dia, muitos se contentaram em passar diante da cruz. Passaram alguns que mal e mal tinham ouvido falar desse Nazareno que suscitava interesse. Sem parar lançaram um olhar para a cruz e continuaram a caminhar. Nos dias de hoje há os que respeitam a Cruz e o Crucificado também sem se deter. Fazem o sinal da cruz, colocam na parede, aqui e ali um crucifixo. Não param. Não enxergam com o olhar interior. A vida corre de outro lado.
Todos aos quais foi revelada a misericórdia divina gostam de prostrar-se diante da Cruz. Seus braços se abrem a todos os tempos e a todos os lugares. Os corações sensíveis se calam. Adoram essa vida “entregue” por nós, essa morte que nos deu vida, esse amor que amou até o fim, essa obediência que não recuou diante da morte e mesmo diante da morte de cruz, esse mistério que encerra a solução para todos as questões. Um irmão mais velho que nos deu vida com sua vida.
Contemplando aquele que foi traspassado, os corações se conscientizam de seu pecado. Procuram se aproximar do Filho do Pai, esse que morreu em sacrifício por eles. Ele nos livra da ignomínia de nosso pecado. Vigiam, extasiam-se diante desse amor sem limites. De Francisco de Assis se diz: “Chorava em voz alta pela Paixão de Cristo, como se tivesse diante de si constantemente a visão dela. Na rua ouviam-se o seus gemidos; lembrando-se nas chagas de Cristo, recusava todo consolo (2Celano 11).
“Vocês que passam… vejam se há dor igual à minha dor. Minha morte não é uma fatalidade. Andei pelos caminhos de vocês, sentei-me às suas mesas, chorei as dores de tantos. O Pai pediu que lhes mostrasse seu bem-querer. Andei traçando uma rota de viagem que lhes permitisse ter uma vida venturosa cientes que o Pai ama a todos. Vocês contam aos meus olhos e aos olhos do Pai. Minha morte é começo de vida. Vocês contam…”
Frei Almir Guimarães