Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Província celebra bicentenário da morte de São Frei Galvão (1822-2022)

30/05/2022

Em dezembro deste ano de 2022 teremos o bicentenário da morte de Frei Galvão. Fato que deve ser celebrado. Convido a todos os confrades da Província a celebrá-lo de muitas formas, usando a criatividade de cada Fraternidade. Celebrar é trazer para o presente um fato do passado. A vida de São Frei Galvão tem muito a nos ensinar, apesar dos duzentos anos que nos separam.

A velha Província era de mentalidade alcantarina, com forte acento na pobreza, no carisma missionário, na piedade cristocêntrica e no serviço gratuito aos necessitados. Esta mentalidade produziu dezenas de frades que morreram em fama de santidade. Lembremos apenas dois, que são os mais citados entre nós hoje: Frei Fabiano de Cristo (1676-1747) e Frei Antônio Galvão (1739-1822).

Os missionários alemães, que restauraram a velha Província, decaída não por falta de santidade, mas por proibição de receber noviços, tinham a mesma mentalidade e cultivavam com afinco os mesmos carismas: o desapego dos interesses pessoais; a evangelização do povo, não importando se rico se pobre; a oração primeiro vivida e só depois ensinada; a disponibilidade diurna e noturna de servir sem pensar em ser servido. Poderíamos lembrar dezenas de nomes, mas recordo só dois: Frei Bruno Linden (1876-1960) e Frei Rui Depiné (1942-2020).

Estes carismas cabem inteiros dentro da palavra “caridade”, que Jesus disse ser o mandamento que engloba todos os outros, e São João disse que é a qualidade por excelência de Deus (1Jo 4,8). A caridade verdadeira, ou seja, a caridade evangélica, que só existe na gratuidade, brota de um chão onde prevalece o desapego, sinônimo de pobreza. E é a força propulsora da missionariedade. E tanto a caridade quanto o desapego florescem quando envolvidos na piedade, virtude que é para todos os serviços o que a carne é para nosso corpo.

São Paulo escreveu aos coríntios que era a caridade que o impelia (2Cor 5,14). A caridade me impele para onde? Para o apostolado missionário. A celebração do bicentenário da morte de São Frei Galvão, a quem o Papa Bento XVI chamou de “apóstolo da caridade sem limites”, nos deve lembrar e levar a refletir sobre o exercício da caridade. Se o ambiente da caridade é o normal de todo batizado, tanto que todos deveriam em seu comportamento normal praticar a caridade, muito mais nós, que herdamos de São Francisco o carisma da caridade. De fato, se o franciscanismo só existe em fraternidade e nós sabemos que a fraternidade só é possível se enraizada e alimentada pela caridade, devemos sempre de novo olhar o tamanho e o âmbito da nossa caridade.

A de Frei Galvão tinha duas dimensões nítidas: a sacramental (o Papa chamou a atenção sobre sua fama no confessionário e sua fama de frade eucarístico) e a prática de cada dia, que vem antes e segue a sacramental e dando-lhe sentido. Lembremos seu cuidado com as empregadas domésticas, que o levou a fundar o Mosteiro da Luz para protegê-las; para com os escravos, sem defesa jurídica, que ele visitava na prisão e defendia diante dos juízes; para com os doentes e precisados de cuidados médicos, para quem inventou e abençoou as famosas pílulas; para com as famílias em crise, que ele costumava visitar em casa, levando com sua visita abençoada muitas vezes a pacificação tanto entre si, quanto com a vizinhança.

Não precisamos exemplificar mais. Não importa se os tempos eram e são outros. A criatura humana dos nossos dias continua precisando de proteção, de defesa, de saúde, de pacificação, de segurança. Bendigo os confrades que em diferentes lugares, são protetores e defensores de minorias, de enfraquecidos, de periféricos, de perplexos, honrando o nome de Menores entre os pequenos, que trazemos aposto ao nosso nome de batismo. A humildade que cultivamos nos leva sermos pessoas do todo, da unidade, da comunhão. Somos portadores e praticantes da caridade ensinada pelo Evangelho, caridade que não divide, mas unifica; caridade que não olha o ter, mas o ser da pessoa, imagem e semelhança de Deus, mas sempre criatura, ou seja, necessitada de compreensão e amparo. Frei Galvão se santificou e santificou muita gente, vivendo este carisma da caridade, que não tem partidos.

Desta caridade nasce o carisma missionário. O carisma missionário jamais nasce e vinga no terreno dos interesses. Se nascer, não é apostólico, mas proselitista. Que é mau, que sectariza, que impede a comunhão. Nenhum campo do apostolado é estranho a nós franciscanos. Mas é estranha qualquer iniciativa ou atividade que não crie comunhão.

São Frei Galvão não tinha propriedades. Tinha qualidades, entre as quais a humildade, fundamento de todas as virtudes, e o desapego, só possível se enraizado na humildade. Nascemos apegados, e por isso interesseiros. O desapego aprendemos no exercício da humildade, ou seja, no serviço gratuito aos necessitados. Jesus nos deu o exemplo. São Francisco nos deu o exemplo. São Frei Galvão nos deu o exemplo. Sejamos nós exemplo aos que nos cercam. O Papa chamou Frei Galvão de “andarilho missionário”. São Francisco nos mandou na Regra viver como peregrinos. Jesus nos recomendou não levar vida afora nem sacola nem bastão de comando e não ter medo de crítica e aplauso.

Vivemos num tempo de muita religião sectária. Quanto maior o sectarismo religioso, tanto menos o Evangelho está presente. A religião sectária é sempre interesseira. Não podemos cultivá-la. No centro da religião não pode estar nosso bem-estar. Não pode estar a solução de nossas dificuldades. Não pode estar nossa ideologia. Não podemos estar nós e nossas circunstâncias, mas o Cristo dos Evangelhos.

Quanta seriedade na afirmação do apóstolo Paulo: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim; vivo minha vida presente no Cristo, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). São Francisco pode repetir a frase de São Paulo. Tanto que o Papa Pio XI, em 1926, no sétimo centenário da morte do santo de Assis, escreveu numa encíclica: “Podemos afirmar que na face da terra em nenhum homem brilhou mais viva e mais parecida a imagem de Jesus Cristo que em Francisco. Podemos, portanto, saudá-lo como um outro Cristo por se apresentar aos contemporâneos e aos séculos futuros como um quase Cristo redivivo” (Rite expiatis). No processo de canonização de Frei Galvão se afirmou: “Pode-se dizer que sua vida foi uma verdadeira imitatio Christi, um esforço contínuo para reproduzir no seu corpo os mistérios de Cristo” (Vida Franciscana, dezembro de 1998, p. 63).

São Francisco e São Frei Galvão nos aconselham o mesmo que São Paulo: “Tudo quanto fizerdes, em palavras e em atos, fazei-o em nome do Senhor Jesus” (Cl 3,17). Aliás, Jesus nos lembrou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Somos cristocêntricos, cristóforos. Podemos dizer: “Sem Jesus, nada devemos fazer”. Com Jesus queremos, ao celebrar o bicentenário da morte de Frei Galvão, refletir sobre nossos principais carismas herdados de São Francisco, os mesmos vividos por Frei Galvão, através da espiritualidade alcantarina e recoletina: o desapego, também chamado pobreza, que, para existir, precisa da humildade; a caridade, que me impulsiona para a missão, mas que antes exige de mim o desapego dos meus interesses e dos sectarismos, e um ativo, efetivo e cultivado espírito de comunhão. O carisma do serviço, que caracteriza o franciscano, pressupõe a gratuidade, que faz conjunto com a caridade.

Citei quatro confrades. Os quatro emblemáticos. Olhando a vida de Frei Fabiano e Frei Rui, podemos refazer o propósito de atender bem, em nome de Jesus, a quantos nos procuram. O acolhimento não tem horário. O acolhimento gera simpatia e comunhão. É sábio o conselho de São Francisco: “Não haja irmão no mundo que, após ver os teus olhos, se sinta obrigado a sair de tua presença sem obter misericórdia. Ama-o, procurando conquistá-lo para o Senhor” (Mn).

Frei Bruno e Frei Galvão praticaram de forma clara e continuada uma pastoral, que nunca perdeu sua atualidade: a visita às famílias, em sua casa. Não só para celebrar aniversários ou batizados, ou para experimentar qualidades culinárias. Mas, principalmente, para abençoar, reconciliar, partilhar alegrias e dores, ser Cireneu (se preciso), ser anjo de Natal no campo de pastores (sempre). Para esta pastoral não precisamos de manuais de teologia, nem títulos acadêmicos, nem cargos na Fraternidade. Precisamos de humildade e desapego, que são excelentes carregadores de graça e de esperança. Precisamos de bom senso e gratuidade, que chamam confiança e não deixam nossa caridade ser interesseira. Em linguagem bem popular: precisamos vestir a camisa de Frei Galvão, que ganhou de São Francisco, que a recebeu do próprio Jesus no Lava-pés.


Frei Clarêncio Neotti, OFM

CELEBRAÇÕES DO BICENTENÁRIO DA MORTE DE FREI GALVÃO

• 30/05: 16h30 – Caminhada do Convento São Francisco até o Mosteiro da Luz (São Paulo, SP);
17h30 – Celebração Eucarística com os Frades do Regional São Paulo, as Irmãs Concepcionistas e leigos de Guaratinguetá e São Paulo.
• 05 a 08/09: Encontro dos Frades Under Ten, na Fraternidade São José (Guaratinguetá, SP)
• 10 e 11/09: Caminhada da Juventude “Com Frei Galvão, a Frei Galvão” (Guaratinguetá, SP)
• 22 a 25/10: Festa de Frei Galvão 2022 (Guaratinguetá, SP);
• 07 a 10/11: Conclusão das celebrações no Conselho Plenário da Província (Agudos, SP).

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