Frei Josielio da Silva Oliveira (*)
Deus se manifesta de várias maneiras…
Senhor que tudo criou e que mantém todas as coisas em perfeita harmonia e comunhão, e que sendo Onipotente e Bondoso, tudo pode. Também a nós, seres humanos, nas diversas formas de viver e estar nesse mundo, revela-se com perfeição e misericórdia. São Francisco, em contemplação diante da natureza, percebia Deus e a Ele cantava hinos, rezava e suspirava do mais recôndito de sua alma. Tudo isso, para dizer as maravilhas de tão grandioso Senhor, que se fez Pequeno diante do homem, sua criatura, mostrando que a grandeza só pode ser admirada e entendida, quando se torna tocável (Do Corpo do Senhor, Ad I, dos Escritos Franciscanos, p.95).
Diante de um mundo que, cada vez mais, menospreza e banaliza a fé, elitizando-a em uma “casta escolhida” e que está acima de Deus e da própria Igreja, podemos ainda enxergar a grandiosidade do Criador nas diversas facetas e culturas humanas e isso é motivo de louvor e de esperança. A nossa comunhão como criados diante do Criador, deveria ser a base para caminharmos em direção ao outro com reverência. Formas de chegar ao coração de Deus são derramadas por Ele no coração do homem, para que, por muitos caminhos, tenhamos um destino único, que é Ele mesmo. Podemos dizer que somos rios, que em origens diferentes, buscam o mesmo destino, que é o mar. Esse mar que incessantemente buscamos, que é Deus, desde que nascemos somos impelidos a encontrá-Lo!
Quando encontramos o ponto central onde nos conectamos com esse Divino, compreendemos que o que sustenta e nos move é justamente essa necessidade de estar com o Sagrado em nossa finitude, experimentar a eternidade que nos toca e leva de nós a angústia de sabermos que no mundo temos começo, meio e fim. Alcançando Aquele que não pode ser alcançado, mas que se faz assim para nos mostrar o caminho que conduz ao Belo e ao Bom, podemos enfim compreender que o Mistério se derrama em nossa alma e esta se faz transcendente e única, e tem por objetivo, como sugere o próprio Salmo 41, matar sua sede em Deus, que é Fonte de todo Bem.
Ao contemplarmos o cristianismo, percebemos a figura de um Deus-Humano, feito carne, morto em uma cruz e Ressuscitado. Neste Deus, temos a esperança e a certeza da Vida, que começa quando nascemos, mas não termina com a morte corporal. Francisco de Assis compreendeu bem o sentido de passagem da vida, quando acolhendo a morte, a chama de irmã; dela, ninguém pode escapar, mas ressignificando seu sentido, descobrimos em sua chegada, o avesso do avesso, o toque de Deus em nós e que nos chama a desfrutar a eternidade ao seu lado (Cnt 12-14, Dos Escritos Franciscanos, p. 104). Compreendendo a morte como irmã, as “desimportâncias” tornam-se preciosidades e o viver ganha um sentido cristão e cheio de leveza, pois contemplamos os passos de Cristo e aprendemos a levá-Lo em nós, por vocação.
A vocação de um cristão só pode ser plena quando ele aprende a olhar para o Cristo e seguir suas pegadas e sua Lei maior, que é o Amor, nascido de sua Misericórdia aos homens no Trono de Cruz (Admoestação V, dos Escritos Franciscanos, p. 98).
Somos realmente espelhos de Deus quando aprendemos a viver nossa fé e compreender a fé de nossos irmãos, que em sua liberdade de filhos, amados e livres, podem escolher como chegar a Ele, sem que isso se dê necessariamente dentro de uma Instituição Religiosa, ou entre aqueles que professam o cristianismo. Afirmo isso porque Deus é Amor e, assim sendo, não se limita aos padrões que concebemos, mas se molda e se torna quase Nada, para se fazer próximo daqueles aos quais Se esgotou, desde a criação do mundo. Deus, que não tem limites, quer ser próximo, e deixa-se tocar em lugares e de maneiras que nossa capacidade jamais poderia compreender, inclusive fora dos muros cristalizados de nossa fé, tornando-se para todos, ecumênico!
Em seu Filho Jesus, quando veio morar entre nós, tornou-se contradição diante do que esperava o povo. O Espírito tomou o espaço das leis, o Amor pautou a caminhada com seu povo, os olhares e os gestos, inclusive o choro, a compaixão e a alegria de Deus, derramaram-se no mundo como água que brota da fonte e vai gerando vida. Com isso, quebrou o conceito de um Deus distante e guerreiro, de um Deus político, de um Deus que se moldava nas leis de uma parte privilegiada de seu povo, dizendo assim, que veio para todos.
O que os Céus não puderam conter, derramou-se no meio de nós pelo Ventre Sagrado de Maria, e com isso chamou-nos a sermos geradores d’Ele e levá-Lo ao mundo. Ensinou que seguir seus passos é respeitar e acolher, é unir, é perdoar e sentir-se livre diante do mundo e de suas leis que impõem um Deus aprisionado numa fórmula para uma parte privilegiada e que está sendo destituído de sua divindade para servir interesses pessoais e nada cristãos. Não podemos ser divinos pela metade, lobos em pele de cordeiro, mas pelo testemunho de tantos homens no mundo devemos ser propagadores de um Criador Universal e Ecumênico, pois não elege uma raça como sua, mas toma para si o todo, sem se aprisionar ao templo materiale nos chama a sermos seu templo e imagem.
A religião racional, a fé que precisa atacar outra para se manter viva, não caminha com o que esse Criador ensina, pois este, com sua Encarnação, mostra como sermos progenitores de nossa caminhada sem precisarmos ser gerados por outros, mas por Ele mesmo. Só podemos chegar ao coração de Deus quando compreendermos antes o caminho que nos leva aos corações dos homens. Em cada cultura, em cada raça, em cada língua, em cada ser criado, o Espírito nos une e nos mostra que é na diversidade que a fé se completa, que é na acolhida ao outro e ao seu modo de estar com o Divino, que podemos dizer que realmente seguimos Aquele que nos chamou à vida e que nos chama a gerar vida, seja humana, espiritual ou existencial.
Lembremos que o Deus que conhecemos é carregado de Paz e de Bem, todo Bondade e Mansidão e quer que sejamos sua imagem e semelhança. Neste tempo de tantas discórdias e conflitos, de tantos ataques à Igreja de Cristo e a seu Vigário aqui na terra, o Papa Francisco, sejamos como águias: busquemos voos mais altos e intensos, e com nossos olhos, contemplemos as maravilhas diante de nós que vêm do Alto, mantendo sempre em mente que só chegaremos à plenitude quando caminharmos com os pés bem firmes no chão. Pés no chão e os olhos e coração fixos em Deus. Essa é a experiência que nos levará ao respeito e à certeza de que Deus quer, Deus pode e Deus se faz presença a todos, independente de qual seja sua crença ou sua religião. Que o Senhor, em suas diversas formas de se fazer presença, nos ajude a amar o nosso próximo, descobrindo na diferença, potencialidades e verdades, que nascem de seu Sagrado Coração!
Paz e Bem!
(*) Frei Josielio da Silva Oliveira é frade desta Província da Imaculada e cursa o terceiro ano de Filosofia em Curitiba.