Há vidas extremante tortas. Durante o caminhar da existência, pessoas foram sendo atraídas por situações vantajosas para si, ou se juntaram a perturbadores da ordem pública e foram detidos pelas autoridades policiais. Alguns desses foram devidamente julgados e condenados. Penso sempre na tristíssima condição de um assassino, de alguém que tenha cometido um crime bárbaro, e que, segundo as leis do país, é condenado à pena capital, como a cadeira elétrica. Vejo a cena final. Um ser humano no corredor da morte.
Minha atenção se volta agora para o alto do Calvário. No centro está Jesus em seus momentos finais. Dois salteadores o ladeiam. São designados meio paradoxalmente de bom e mau ladrão. Um deles reclama de Jesus. Esse Jesus, na sua maneira de ver, havia operado prodígios, feito milagres, agora deveria realizar um de seus milagres. Que pudessem ser salvos. Faz de modo indelicado e mesmo ofensivo. Um condenado revoltado. Um desesperançado violento e raivoso.
O outro salteador, o “bom ladrão” tem uma postura diversa. Talvez tenha pensado em sua vida e quem sabe lembrado que nos anos de sua juventude tenha descoberto o rosto de Deus. Provavelmente esse tempo na cruz (como “corredor da morte”) tenha se arrependido. Rejeita a postura do outro salteador. Houve em seu coração o arrependimento? Uma visita da graça?
Mesmo no desconforto físico total o “bom ladrão” se volta para Jesus: “Lembra-te de mim quando vieres em teu Reino. Eu existo, tive minha história, não sou nenhum anjo do céu. Na minha vida está acontecendo algo que não imaginava. Não tenho revolta dentro de mim. Gostaria de viver. Estou condenado a morrer. Não me revolto. Uma graça? Coloco-me a teus cuidados. Soube por outros de tua bondade, Jesus”. Tu morres inocentemente. Lembra-te de mim quando vieres em teu Reno”.
O pedido foi aceito de maneira bela, terna, amorosa. Jesus não pergunta como tinha sido sua vida. Não era hora de muitos questionamentos. A delicadeza do coração desse salteador encantara o Mestre. O salteador e Jesus morreriam. A morte do outro foi revestida de uma luminosa esperança. “Eu te asseguro: ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Uma outra maneira de esperar no corredor da morte.
Frei Almir Ribeiro Guimarães