Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

A urgência do cuidado e da autocontenção

31/08/2023

Imagem do Acervo da Província da Imaculada

Alinho-me àqueles cientistas descritos pela jornalista de assuntos ecológico-científicos, Elizabeth Kolbert em seus dois livros famosos, “A sexta extinção” e o outro “Sob o céu branco: a natureza do futuro” (Intrínseca, 2021).Embora alimente alguma esperança, Kolbert delineia como seria o céu após uma guerra nuclear devastadora: branco, impedindo a passagem dos raios sol dos quais quase tudo depende na Terra.

É um fato experimental, embora haja um grande número de negacionistas, particularmente entre os CEOs dos grandes oligopólios que negam o estado degradado da Terra que agora, possivelmente, inaugurou uma nova era: o piroceno.

A cultura do consumo daquelas porções opulentas, ego-centradas e desalmadas já está cobrando mais de uma Terra e meia (1,7) para atender voracidade deles. A Sobrecarga da Terra deste ano foi constatada no dia 22 de julho. Isso significa que que seus bens e serviços renováveis, indispensáveis para a nossa sobrevivência, se exauriram. Acenderam todos os sinais. Mesmo assim lhe fazem violência, arrancando-lhe o que não lhes pode mais dar. Como é um super-ente vivo que funciona sistemicamente, a Terra reage mandando eventos extremos como grandes secas de um lado, espantosas nevascas por outro, diminuindo as fontes de água, aumentando os desertos, destruindo com tufões regiões inteiras, sacrificando a biodiversidade, enviando mais vírus e outras enfermidades. O aumento da temperatura esperada para o ano 2030,um crescimento de 1,5 graus C, está celeremente se antecipando para os próximos 3-5 anos.

Compreende-se que muitos climatólogos se mostrem céticos e até fatalistas ao se dar conta de que a ciência a técnica chegaram atrasadas. Não temos muito que fazer senão prevenir as catástrofes e minorar seus efeitos danosos. A Terra está mudando, dia-a-dia, de forma irreversível, procurando um novo equilíbrio cujo centro de gravidade não nos é conhecido. Supomos que climaticamente se estabilize entre 38-40 graus C. Quem puder se adaptar a esta temperatura sobreviverá mas muitas pessoas, crianças e idosos e principalmente inúmeros organismos vivos não terão o tempo suficiente para se adaptar e serão condenados a desaparecer depois de milhões de anos de vida sobre este planeta.

São sérias as advertências dos sábios. A Carta da Terra (documento assumido pela ONU) ou as duas encíclicas do Papa Francisco: Como cuidar da Casa Comum e o outro Todos irmãos e irmãs peremptoriamente denunciam o alarme ecológico. A Carta da Terra adverte: “A humanidade deve escolher o seu futuro…ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida”. O Papa é mais severo: “Estamos todos no mesmo barco; ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”.

A grande maioria não pensa em tais coisas, pois parece-lhe insuportável lidar com os limites e eventualmente com o desastre coletivo, possível ainda dentro de nossa geração. Alienados. acabarão engrossando o cortejo daqueles que rumarão na direção da fossa comum.

Resta-nos uma réstia de esperança sempre suscitada pelo sábio de 103 anos Edgar Morin: “A história várias vezes mostrou que o surgimento do inesperado e o aparecimento do improvável são plausíveis e podem mudar o rumo dos acontecimentos”. Cremos que ambos – o inesperado e o plausível – sejam possíveis. Seria nossa salvação.

Entretanto, temos que fazer a nossa parte. Se quisermos garantir um futuro comum, da Terra e da humanidade, se impõem duas virtudes: a autocontenção e a justa medida, ambas expressões da cultura do cuidado.

Mas como postular essas virtudes se todo o sistema está montado em sua negação? Desta vez, porém, não há escolha: ou mudamos e nos pautamos pelo cuidado, nos autolimitando em nossa voracidade e vivendo a justa medida em todas as coisas ou enfrentaremos uma tragédia coletiva. O cuidado nos leva a estabelecer um laço afetivo para com todos os seres para que continuem entre nós.

A autocontenção significa um sacrifício necessário que salvaguarda o Planeta, tutela interesses coletivos e funda uma cultura da simplicidade voluntária. Não se trata de não consumir, mas de consumir de forma responsável e solidária para com aqueles que virão depois de nós. Eles também têm direito à Terra e a uma vida com qualidade.


Leonardo Boff escreveu “A justa medida: como equilibrar o planeta Terra”, Vozes 2023; “Habitar a Terra”, Vozes 2021.

Download WordPress Themes Free
Free Download WordPress Themes
Premium WordPress Themes Download
Download WordPress Themes Free
download udemy paid course for free
download intex firmware
Download WordPress Themes
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=