São Cipriano, bispo (+258), escreveu um Tratado sobre o Bem da Paciência. Transcrevemos alguns de seus pensamentos que nos colocam diante da magnanimidade do Coração de Jesus, do Paciente Jesus.
“Com poder divino Jesus presidiu aos discípulos, não como servos, mas benigno e manso, amou-os com caridade fraterna. Dignou-se também lavar os pés dos apóstolos para que, enquanto Senhor junto dos servos, ensinasse com seu exemplo de que modo deveriam agir.
Não é de admirar que junto de seus companheiros obedientes se mostrasse de tal maneira que pôde suportar Judas ao extremo. Com paciência infinita, toma alimento com o inimigo, sabendo-o inimigo doméstico, sem publicamente se manifestar, nem recusar o ósculo do traidor.
Durante a própria paixão e cruz, antes que chegasse à crueldade da morte e a efusão do sangue, ouviu pacientemente as injúrias das palavras e tolerou as blasfêmias. Recebeu daqueles que o insultavam. escarros, ele que com saliva, pouco antes, abrira os olhos ao cego. Foi flagelado quem, pela força do próprio nome flagela o próprio diabo. Foi coroado de espinhos quem, com flores eternas, coroa os mártires. Sofreu açoites na face com palmas, quem concede as verdadeiras palmas aos vencedores. Foi despojado da veste terrena quem aos outros veste com a imortalidade. Foi alimentado com fel quem oferece alimento celeste. Foi saciado com vinagre em sua sede, que brindou os outros com bebida salutar.
Ele, inocente, justo, a própria inocência e a própria justiça, é julgado entre criminosos e, com falsos testemunhos, é esmagado, ele que é a própria verdade. É julgado quem há de julgar. Ele, a Palavra de Deus, em silêncio é levado ao sacrifício. E quando, junto à cruz do Senhor, as estrelas se confundem, os elementos se perturbam, a terra treme, a noite encerra o dia, ele não fala e não se move, nem manifesta sua majestade, nem ao menos durante a própria paixão. Até o fim, sempre perseverante e continuamente tudo é tolerado, para que se consuma em Cristo a plena e perfeita paciência.
Transcrito do Lecionário Monástico II, p.544-545
Frei Almir Ribeiro Guimarães