Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Solidários com Jesus

20/09/2002

Frei Hipólito Martendal

Com a entrada de Jesus em Jerusalém, celebrada no Domingo de Ramos, dá-se o primeiro passo no drama pascal. Jesus compreendera que era necessário enfrentar a morte se quisesse levar avante seu projeto de implantar o Reino de Deus e estabelecer com o seres humanos a Nova Aliança.

Quinta-feira Santa celebramos o Novo Mandamento; Amor expresso em três aspectos: serviço prestado aos irmãos (lava-pés); profunda união de todos os irmãos ao Divino Mestre e dos irmãos entre si (participação na Ceia Eucarística); participação e solidariedade nossas com o Cristo que sofre (“isto é meu corpo… Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim”). A redenção é também fruto de nossa participação solidária nos sofrimentos de Cristo e de toda a humanidade.

Sexta-feira Santa. Acompanhamos, passo por passo, a via-crucis, onde nossa Redenção se concretiza. A atitude básica é de profundo silêncio, solidário e grato. Aí a existência humana encontra seu sentido. Todo sacrifício, todo amor é transfigurado pelo Amor do Filho de Deus. Agora podemos sonhar com nossa plenitude, nossa glorificação no Sábado Santo à noite.

Os últimos dias de Jesus

A narração que vamos seguir está nas páginas 202 a 204 do Atlas Histórico da Bíblia e do Antigo Oriente de E. R. Galbiati e A. Aletti, da Editora Vozes. É a mais provável sucessão dos fatos.

Betânia, a uns três kms das muralhas de Jerusalém, na vertente leste do Monte das Oliveiras, era para Jesus seu refúgio entre pessoas amigas, depois da forte subida vindo de Jericó. Aí, na casa de um certo Simão, ocorre a cena em que Maria, irmã de Lázaro, presta homenagem a Jesus com o perfume precioso, seis dias antes da Páscoa, ou seja, na noite de sábado (1 de abril). Na manhã seguinte (Jo 12,12), Domingo de Ramos, querendo proclamar de público a dignidade messiânica, Jesus entra com certa solenidade em Jerusalém, capital do Reino Messiânico… Ao chegar às proximidades de Beftagé (“Casa dos Figos”), vila na vertente oriental do Monte das Oliveiras, envia à sua frente dois discípulos a fim de providenciar um jumentinho emprestado. Cavalgando nele, dirige-se a Jerusalém no meio da multidão que o aclama. Ao chegar à vista da cidade, chora pela cegueira atual e pela ruína futura de Jerusalém (Lc 19 41-44).

Seguindo o caminho mais direto, atravessa o vale estreito do Cedron, entra pela Porta Oriental… Neste ponto, os Sinóticos situam a expulsão dos vendilhões do templo (Mt 21, 12-13; Mc 11, 15-17; Lc 19,45-46) que Jo 2, 13-17 coloca o início do ministério público de Jesus. No templo, “depois de ter observado tudo” (Mc 11, 11), teve um primeiro confronto com as autoridades religiosas que não queriam ouvir as aclamações do povo. Neste contexto Jo 12, 20-35 relata os últimos lances das discussões de Jesus com a multidão. Ao anoitecer, Jesus retornas a Betânia.

Na manhã de segunda-feira, de volta a Jerusalém, Jesus amaldiçoa a figueira, símbolo da cidade carente de boas obras. De noite, após ter pregado no templo, volta a Betânia.

Manhã de terça-feira, no caminho para Jerusalém, os apóstolos observam que a figueira amaldiçoada já secou. Jesus lhes dá uma lição de Fé. Recomendo ler Mc 11,27 a 12,44. Jesus continua seus sermões. Cresce a animosidade de seus opositores. Lc 21, 1-3 registra o episódio da velhinha pobre que coloca sua moedinha nas esmolas. À tarde, deixando o templo, prediz sua destruição. No retorno a Betânia, sentado no Monte das Oliveiras, contempla sua cidade e o templo, pronuncia o sermão escatológico sobre a destruição de Jerusalém e o fim do mundo. Mt, 25, acrescenta ainda outros sermões.

Quarta-feira Jesus passa em Betânia, como que em retiro, antes de enfrentar os padecimentos e a morte. Enquanto isto, Judas sela o pacto com os chefes dos sacerdotes. De Betânia Jesus envia Pedro e João a Jerusalém a preparar a Ceia Pascal.

É Quinta-feira de tarde. Jesus, em companhia dos apóstolos, deixa Betânia e entra em Jerusalém… chega à casa, onde no andar superior (Cenáculo) celebra a Páscoa…

Saindo do Cenáculo, sai da cidade pelo mesmo caminho, atravessa o Cedron e vai para um jardim chamado Getsêmani (“prensa para óleo”). Em seguida, deixa oito discípulos provavelmente na gruta (que ainda existe) e, com Pedro, Tiago e João, adianta-se por entre as árvores, onde permanece longamente em oração nas horas da noite. A seguir vai juntar-se aos apóstolos. Eis que chega Judas com empregados do Sumo Sacerdote e um destacamento de soldados que a autoridade romana colocava à disposição da autoridade religiosa. Jesus é preso, amarrado e conduzido a Anás, depois a Caifás, que provavelmente moravam no mesmo palácio…

Com toda probabilidade, o Sinédrio reuniu-se na mesma casa. O processo foi instaurado à noite e repetido na manhã seguinte para ter validade jurídica. Enquanto isso, no pátio, ‘Pedro negava conhecer Jesus…

Sexta-feira de manhã, bem cedo, Jesus é conduzido a Pilatos, na Torre Antônia… De lá Pilatos mandou Jesus a Herodes Antipas que se hospedara no Palácio dos Asmoneus… Reconduzido à Torre Antônia, em seu pátio, Jesus é flagrado e escarnecido pela soldadesca romana.

A Via-crucis se desenrola num percurso de uns 600 metros de contínua subida. Tendo saído pela Porta de Efraim, o Cirineu ajuda Jesus a percorrer a última parte do trajeto. O lugar do Calvário, ou “Caveira”, era uma pequena elevação rochosa. A identificação do lugar, bem como o sepulcro no jardim vizinho, fundamenta-se em argumentos fora de qualquer dúvida… Naquele lugar realizou-se o ato supremo de nossa Redenção.

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