Quando tentamos compreender a Deus (compreender o incompreensível!), vemo-lo como fonte de todo o ser e, ao mesmo tempo, aquele que ama com paixão. Bento XVI, na Deus caritas est, quando começa a dissertar sobre o Mistério de Deus escreve: “…por um lado, nos encontramos diante de uma imagem estritamente metafísica de Deus: Deus é absolutamente a fonte originária de todo ser; mas esse princípio criador de todas as coisas, o Logos, a razão primordial – e, ao mesmo tempo um amante com toda paixão de um verdadeiro amor” (Deus caritas est, n.10).
Somos buscadores do Mistério, peregrinos do Altíssimo, gente que tem perguntas a arder no peito. Triste quando acabam as perguntas que queimam a garganta e ficam apenas respostas secas, frias e mortas, sempre soluções do momento, provisórias. E a gente se acostuma com as respostas que se coloca em caixinhas fechadas. Não há mais surpresas. O problema da religião está resolvido. Não se fala mais. Vai assim e pronto.
Os homens e mulheres de todos os tempos sempre sentiram saudade de Deus. As Escrituras falam dessa presença do Deus amor. Oseias nos leva para o deserto, somos a esposa que o Esposo atrai. Ele quer falar ao nosso interior. Núpcias de amor. E amam os que fazem delicadamente a sua vontade. Buscar a Deus, viver com Deus é escrever a dois e a muitos uma história de amor.
“Como te abandonarei, ó Efraim? Entregar-te-ei, ó Israel? O meu coração dá voltas dentro de mim, comove-se a minha compaixão. Não desafogarei o furor de minha cólera, não destruirei Efraim; porque sou Deus e não um ser humano, sou o santo no meio de ti” (Os 11, 8-9).
Viemos do amor e para o amor nos dirigimos. O Deus belo que procuramos no silêncio das grutas, na límpida e persistente leitura das Escrituras, o Deus que resolveu ter carne, ser gente, beber de nossas fontes e sonhar nossos sonhos, nasce e é colocado numa estrebaria. Vive falando do Pai, falando com amor sem controle. Morre na cruz. Que mais poderia ter feito? Quer saber a razão de uma certa e grande indiferença de nossa parte.
O segredo de uma vida profundamente feliz só é possível quando se consegue entabular um diálogo com aquele cujo coração dá voltas dentro do peito.
Frei Almir Guimarães