Não gostamos muito de ouvir falar e ou de escrever sobre o tema da morte. A palavra nos assusta. A morte de familiares e amigos costuma levar consigo um pedaço de nós mesmos. Nossa sociedade prefere ocultar sua realidade. O homem parece ter vergonha de ainda não vencer a tarefa desta teimosa inimiga. Nossos doentes, sobretudo os mais idosos, são internados, por vezes intubados e, quando morrem, há rápidos velórios. As imagens dos mortos durante a pandemia estão vivas dentro de nós. Cada primeira sexta-feira é, para nós, ocasião de contemplar o peito aberto de Jesus pela lança do soldado. Nunca perdemos de vista que a morte de Jesus nos redimiu, nos deu vida.
A morte de Jesus, segundo o quarto evangelista, tem entre outras características ser cumprimento de amor que já fora profetizado no gesto de deposição das vestes para inclinar-se diante de seus discípulos e lavar os pés deles. João tinha introduzido a cena do lava-pés com estas palavras: “Sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar desse mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). A cruz aponta para uma vida doada até o fim, até o ponto de não haver retorno. Jesus doa a vida por seus amigos mas também por seu inimigo que continua no meio dos apóstolos e que já tem em mente a traição (cf. Luciano Manicardi, O humano sofrer, CNBB, p. 131-132).
Não somos pessoas que paramos na morte do Senhor. Somos seres novos, ressuscitados. Reunimo-nos muitas vezes para celebrar a presença do Ressuscitado entre nós. Há um júbilo em nosso interior quando participamos da Eucaristia e ouvimos o relato do corpo dado e do sangue derramado. Fica bem, no entanto, que acerquemos carinhosamente da morte/entrega do Senhor para sempre ter consciência do quanto valemos aos olhos do Senhor.
Frei Almir Guimarães