Morreu no dia 5 de abril em sua casa Tübigen, seguramente um dos maiores teólogos da Igreja Católica romana do século XX, aberto à ecumene cristã, religiosa e política. Sua produção foi imensa, frequentando os principais temas que iam da música à nova cosmologia, passando pelo estudo das grandes religiões, da teologia ecumênica, da filosofia, da política, da economia e da ética mundial. Fomos amigos, pois juntos trabalhamos na edição da revista internacional “Concilium” (sai em 7 línguas, no Brasil pela Vozes) por mais de 20 anos.
Aproximamo-nos muito por ocasião da minha convocação por parte da Congregação da Doutrina da Fé (Ex-Inquisição, ex-Santo Ofício) em razão de meu livro “Igreja:carisma e poder”, ajuizado em 1984. Ele mesmo fora convocado, mas diante de seus argumentos e do apoio de cardeais, bispos, autoridades eclesiásticas e também políticas, foi dispensado. Mas perdeu o título de teólogo católico e, com isso, a cátedra de teologia sistemática e ecumênica na Universidade de Tübingen. Mas a Universidade o acolheu como professor de ética e de ecumenismo, num instituto que ele ajudara a criar.
Lutou sempre pela reforma da Igreja, tornando o celibato opcional, assumindo uma ética evangélica e humanitária nas questões de família e de sexualidade. Apoiou-me publicamente no meu processo judicial em Roma e nos sentimos companheiros de tribulações. Muitas são as tribulações que ambos tivemos que suportar por causa da sistemática vigilância doutrinária e até penas e restrições que aquela instância do Vaticano, sem qualquer piedade, impõe. Quero aqui manifestar meu reconhecimento e pesar pela partida desse entranhável amigo que tanto contribuiu para tornar crível e compreensível a herança de Jesus, apresentada por ele, Hans Küng, como algo bom e profundamente humano para todos e não apenas para os professantes da fé cristã. Que o Cristo que ele tanto anunciou e amou lhe dê o abraço infinito de comunhão eterna e de paz perpétua.
Leonardo Boff