Frei Almir Guimarães
A cruz…sempre de novo, a cruz. Nós, discípulos missionários, contemplamos com imenso respeito a cruz do Senhor. O mais belo de todos os filhos dos homens, desfigurado, imobilizado, morto, com o lado aberto e nós acolhemos, na fé, esses rios de ternura e de graça. E ao longo do tempo de nossa vida encontramos rostos dilacerados pessoas que se apresentam feridas no corpo e no espírito. Elas continuam a Paixão de Cristo.
De uma conhecida e famosa antiga homilia do Grande Sábado Santo extraímos alguns tocantes textos, que nos levam à contemplação. O Senhor Jesus se dirige aos seus:
“Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê em minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme minha imagem tua beleza corrompida.
Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti, para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à arvore da cruz, por causa de ti, que outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso”.
Lecionário Monástico II, p.607-608
E agora palavras dos Hinos de Romano, o Melódio:
“Acabou a lei da iniquidade! Tua Paixão, ó Cristo, nosso Deus, enxugou as lágrimas de Eva. Em tua Paixão, o morto volta à vida, por ela o ladrão encontra asilo, e só Adão exulte!
Encha-se o céu de espanto! Escureça a terra no caos! Não te arrisques, ó sol, a levantar os olhos para o madeiro do qual teu Senhor pendeu voluntariamente. Fendam-se os rochedos, pois nesse instante o rochedo da vida está ferido de morte pelos cravos. Rasgue-se o véu do templo, pois a lança dos criminosos traspassou o lado do Senhor! Perante a Paixão do Senhor estremeça e lamente toda a criação, e só Adão exulte(…).
Desalteraram com vinagre a fonte de jorros deliciosos, deram fel “aquele que fez cair o maná e jorrar água do rochedo. Com a cana lhe batiam na cabeça, ele assinava o exilio dos inimigos. Estendido na cruz, nu, despojou os adversários da vida., fazendo deles objeto de riso tanto dos mortos quanto dos vivos. Foi descido do patíbulo, para alegria de Adão”.
Lecionário Monástico II, p. 608-610