Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Ter sede e fome de Deus”

02/01/2020

Aquele que tem sede aproxime-se; e o que deseja beba gratuitamente da água da vida

(Apocalipse 22,17).

Ano novo, vida nova, novo entusiasmo, vontade de recuperar o que se foi perdendo ao longo da peregrinação devido às nossas indolências.  O tempo que nos é dado percorrer no tempo da vida é limitado. Dias hão de vir em que não veremos mais o explodir dos fogos nem poderemos brindar a chegada do ano novo com uma garrafa de espumante na Praia de Copacabana, na  Avenue des Champs Elysées e no Central Park de Nova York. Ano novo e vida nova.  Alento, coragem.  E coragem vem de coração.  Vem também do peito rasgado do Senhor Jesus.

Como anda nosso viver? Até que ponto o Cristo Jesus vai acompanhando as etapas de nosso existir e as estações de nossa caminhada?  Temos sede Cristo ou já nos acomodamos a tudo, achando que tudo está bem assim e pronto, sem mais, sem questionamentos, sem o perfume da novidade de Deus?

Quando nos auscultamos de verdade notamos que temos sede de plenitude. Não queremos e não podemos nos contentar com um relacionamento correto, mas sem alma, com  o Mistério da  Beleza que anda sempre a nos seduzir  e cativar.  Ele quer nos levar para o deserto, para a verdade de nós mesmos, para satisfazer uma sede de plenitude, do  amanhã, de  uma vida esplendidamente humana e parecida com a de Jesus.

Os satisfeitos com tudo e com a vida não atingem a plenitude  humana e cristã.  Costumamos,  muitas vezes,  nos dar  por satisfeitos com  as coisinhas da vida de todos os dias. Não podemos, no entanto, domesticar o Evangelho.   Nada de catolicismo de manutenção.  Jesus amou até o fim e, lá no alto da cruz,  “inventou”  uma fonte de viço e de vida de seu coração, de seu lado aberto pelo  soldado.  Um fonte que vem saciar essa bendita sede de plenitude.

“Precisamos redescobrir a bem-aventurança da sede. A pior coisa para um crente é estar saciado de Deus.  A vida espiritual na rotina  das suas expressões, torna-se uma dose suficiente e tornarmo-nos conformistas, não queremos mais. Dizemos para conosco: já fomos ao templo,  já subimos a Jerusalém, já rezamos,  já oferecemos o sacrifício, e isso nos desobriga dos encontros fundamentais  com a fantástica e  desconcertante  surpresa de Deus.  Talvez tenhamos criado imagens equívocas da vida cristã:  um crente não aquele que está saciado de Deus; o crente é aquele que tem sede e fome  de Deus.  A experiência da fé não é para resolver a sede, mas para ampliá-la, para dilatar nosso desejo de Deus, para intensificar nossa busca. Talvez  precisemos  nos reconciliar  com nossa sede, dizendo mais vezes: “a minha sede é minha bem-aventurança” (José Tolentino Mendonça,  Elogio da Sede,  Paulinas,  p.  146).

Há uma fonte jorrando do alto da cruz, da brecha aberta em seu peito pela lança do soldado!

Frei Almir Guimarães

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