Frei Luiz Iakovacz
Entre os dias 25 e 28 de abril, em Agudos, o Definitório reuniu-se para seu encontro habitual, previamente agendado. Nos dois primeiros dias, participaram os Guardiães e Coordenadores das casas.
O tema central foi a dimensão espiritual, tanto pessoal como comunitária. Após palestra e estudo em grupos, os participantes fizeram um plenário. Dele, extraíram-se fatos e apelos, tais como: “Muitas vezes, o ativismo no qual somos inseridos, quando temos que deixar de lado alguma coisa do dia-a-dia, geralmente, cortamos a oração por primeiro. Ainda não a temos como prioridade”. “Sem oração pessoal, a vida comunitária cai, certamente, num vazio”. “A oração qualifica nossa vida fraterna e nos dá credibilidade na missão evangelizadora”. “Nossa fé vem pelo ouvir, diz a Escritura, e é preciso deixarmo-nos atingir pela Palavra”. “Nossa oração corre o risco de muita fala e nos falta o exercício da escuta”.
Nas reuniões do Definitório, seguidamente, são abordadas questões de vida fraterna. Numa delas, os definidores assim se expressaram: “Muitos problemas de nossas fraternidades deveriam ser resolvidos pelo cultivo da espiritualidade”.
Os Evangelhos nos apresentam o ensino e a práxis de Jesus. Ele tinha três bons costumes: o de pregar (Mc 10,1), o de participar da comunidade todos os sábados (Lc 4,16) e o de rezar. Era seu costume rezar em comunidade, nas sinagogas (Lc 4,16), bem como ir romarias pascais (Lc 2,41-52) e das Tendas (Jo 5,1-9; 7,1-14).
Por outro lado, não esquecia a oração pessoal/sozinho (Lc 22,39), não só nos momentos decisivos, como a escolha dos apóstolos (Lc 6,12-16), ou na dúvida, quando o povo queria aclamá-lo rei, após a multiplicação dos pães (Jo 6,14-15).
Ela tinha características próprias: de noite, sozinho, na montanha.
Mas, se o trabalho é demais e avança noite adentro?!
O evangelista Marcos (1,21-39) nos relata este curioso e ilustrativo fato: após um dia intenso de pregação e curas na sinagoga, Jesus chegou à casa de Pedro, ao anoitecer. O povo acorreu de todos os lados, à sua procura. E Ele atendeu a todos!
Será que rezou?! Provavelmente não, motivado ou pelo cansaço, pela hora adiantada ou mesmo em atenção à casa que o hospedava. Porém, de “madrugada, ainda escuro, foi a um lugar deserto e aí rezava”.
Ao amanhecer, “Pedro e os companheiros O procuravam”. Encontrando-O, lhe dizem: “Todos te procuram”. Jesus responde: “Vamos a outros lugares, pois para isso fui enviado”.
Numa linguagem popular, característica de um pescador, Pedro poderá ter pensado ou falado: “O povo te procura, Jesus! Você caiu na simpatia dele e está em suas mãos. Aproveite este momento. O comentário é um só: você está bombando”.
Por sua vez, Jesus reafirma “vamos a outros lugares”.
Aqui, pode estar uma das eficácias da oração que “qualifica a missão”. O frade que, realmente, reza, aceita ir a outros lugares, mesmo quando o povo o quer reter para si.
Quem sabe, nesses outros lugares, o mesmo fato poderá se repetir. Então, só nos resta agradecer a Deus e à disponibilidade de abrir mão do próprio sucesso.
Mas, atenção! O costume de rezar, só se consegue pela repetição sistemática, amorosa e consciente, até que esta prática se torne algo inerente ao “próprio eu”. Este longo percurso nos qualificará a sermos, progressivamente, um frade “feito oração”, a exemplo de Cristo e Francisco.