A mulher de Samaria
João 4, 5-42
Mês após mês, na primeira Sexta-feira, muitos discípulos de Jesus gostam de deter-se no amor do Senhor manifestado em seu peito aberto, na prodigiosa bondade de seu coração. Ao longo deste ano vamos tentar fazer algumas meditações em torno de encontros de Jesus nos evangelhos. Neles manifesta-se o grande do amor do Coração do Senhor. Começamos com o episódio da mulher de Samaria. Inspiramo-nos de perto em texto publicado revista Fêtes et Saisons n. 312. O autor do texto que nos inspira é o Padre François Montfort.
Não sabemos o nome desta mulher. Ela é simplesmente conhecida como a Samaritana. Talvez, aqui no quarto evangelho, ela esteja simplesmente representando muitas outras mulheres. Talvez haja no interior de cada mulher uma Samaritana que, ao meio-dia, se dirige ao poço de Jacó…
Esta, precisamente esta, será que alguma vez ela conheceu o amor? Já tivera cinco maridos e aquele com quem vivia no momento não era seu esposo. Pessoa de sorte: na sociedade de seu tempo a Lei mandava que se apedrejassem as mulheres surpreendidas em adultério. Verdade que os samaritanos eram menos rígidos na observância desta Lei.
Como todas as vizinhas, esta mulher vinha buscar água no poço. Executava esse labor no ardor do meio-dia porque, em outros momentos, quem sabe, seria insultada ou sofreria zombarias.
Chegando ao poço encontra um judeu chamado Jesus. No começo não se mostra impressionada com ele, esse que lhe pede água. Tudo banal. De repente, a conversa ganha um tom mais grave. Não é mais questão de balde para encher de água. No coração da mulher há uma fonte que não pede outra coisa senão que seja desobstruída. Jesus conhece a verdade do ser humano: “Se conhecesses o dom de Deus serias tu a me dizer “dá-me de beber”, tu que pedirias e eu te daria a água viva. Água viva! Água que vive e que dá vida! Um sonho para essa terra de seca. Água para ela também que estava seca por dentro sem encontrar tal água: Dá-me desta água, Senhor, para que eu não tenha mais sede.
A água tirada do poço de Jacó mata a sede do corpo. A que vem de Deus, contudo, satisfaz um desejo mais secreto. Vá, chama teu marido e vem aqui. O tom muda. O diálogo se trava agora em outro plano, tocando uma experiência íntima e dolorosa: Não tenho marido. Não posso dizer que sou mulher de um homem. As outras podem dizer: Sou mulher de Alfeu. Sou mulher de Simão. Enquanto tantas dessas mulheres viram seus filhos crescer como plantas de oliveira, eu conheci apenas encontros estéreis com homens dos quais não fui esposa, mas companheira por fugazes momentos. Não tenho marido. Não pertenço a ninguém. Tenho que me apresentar assim, sozinha.
Na verdade, ela não está mais sozinha. O homem que está perto dela é um enviado de Deus. É um profeta. Não julga, não condena, não apaga a mecha que ainda fumega. Ele inspira confiança. O diálogo continua. Nossos pais adoraram o Senhor nesta montanha… Vem a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e verdade. Estes são os adoradores que o Pai deseja. Em espírito porque ele se situa para além dos costumes humanos, dos ritos religiosos e dos ordenamentos litúrgicos. Em verdade porque o adoramos no âmago da verdade de ser que o encontramos e adoramos.
A mulher retoma: Sei que o Messias, o Cristo deve vir. Quando ele vier haverá de nos fazer conhecer tudo. Jesus então diz: Sou eu que te falo.
Houve o encontro. Não terminou. Passou uma primeira fase. A partir de então há uma fonte que jorra. Jesus se revelou a esta mulher bem no centro de suas expectativas ou esperas. A partir de agora sabe que existe um outro amor.
Não se pode encontrar Jesus sem ser, de alguma maneira, enviado a outros. A mulher deixa de lado o cântaro e dirige à cidade dizendo: Vinde ver um homem que disse tudo o que faço. Não seria o Messias? Apresenta-se agora como uma mulher cheia de convicções, ela que antes era toda feita de medo: forte em sua fé torna-se persuasiva, impressiona seus compatriotas que, por sua vez, se dirigem ao poço.
Nesse ínterim voltam aos discípulos estranhando que Jesus não sinta fome. Será que alguém lhe deu de comer? Não compreendem que Jesus também foi “saciado” na medida em que ele “saciou” a mulher de Samaria.
Em seguida, o encontro se torna mais amplo. Jesus recebe o convite de estar com os samaritanos. Não creram apenas pelo relato da mulher. Eles mesmos ouviram aquele que é o Salvador do mundo.
Frei Almir Guimarães