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CFF: 8º Centenário de Aprovação da Regra

23/11/2011

Roma (Itália) – A Família Franciscana – Primeira, Segunda e Terceira Ordens, em suas diversidades e nas diferentes formas, os Institutos Seculares e os outros movimentos que se referem a Francisco – se prepara para celebrar, em 2009, um evento histórico particular. Não é questão de comemorar uma figura, Francisco, Clara ou qualquer outro, mas chamar de novo à nossa memória a origem do carisma franciscano.

Com efeito, serão de fato oito séculos, no ano 2009, que uma dúzia de homens se apresentou ao Papa Inocêncio 3º para pedir-lhe o reconhecimento e aprovação do seu projeto de vida evangélica. Quase vinte anos mais tarde (1226), o inspirador e guia deste grupo, Francisco de Assis, descreve assim, no seu Testamento, aquilo que sucedeu então: «E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou que devia fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho. E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples, e o Senhor Papa mo confirmou» (Test 14 e 15).

Os homens acolhidos em torno de Francisco se perguntavam o que fazer, sem que nenhum fosse capaz de indicá-lo, e eis que Deus mesmo os chama com a sua Palavra a viver o santo Evangelho de Cristo. Convencidos de que aquela era a vocação deles, desejaram submeter a sua decisão ao discernimento e à aprovação da Igreja representada pelo Papa de Roma.

Prudente e pela primeira vez de forma oral, esta não faltou. O texto apresentado ao Papa – a protoregra: programa e descrição de uma vida mais que um regulamento – foi retomada, definida, enriquecida ao longo dos anos, daquela sob a forma da Regra não Bulada nas suas diversas versões, depois definitivamente confirmada com um escrito pontifício (Regra Bulada 1223) e lembrada por Francisco no seu Testamento (1226). Ainda que o texto diga respeito em primeiro lugar o grupo dos frades, como se verá em seguida, isso era aberto a todos os estados da vida cristã.

O coração da vocação: a vida segundo o Evangelho
Quando se trata de apresentar globalmente a Regra, de indicar em forma sucinta o conteúdo central, de dar um título, é sempre a palavra «Evangelho» que aparece em evidência: «Viver segundo a forma do santo Evangelho» (Test 14); «Esta é a vida do Evangelho de Jesus Cristo» (Rnb Prol 2); «a Regra e a vida dos Frades Menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Rb 1,1). Alguns anos mais tarde (1253), quando Clara adapta a Regra de Francisco à vida das Irmãs Pobres, utilizará as mesmas expressões (RCl 1,1). Na Carta aos fiéis que apresenta um programa de vida, Francisco pede para observar «os preceitos e os conselhos» propostos por Cristo no seu Evangelho.

Compreende-se que o termo «Evangelho» indica o coração da vocação franciscana, é a chave que abre o acesso ao imenso espaço da «boa nova» de Deus e de Jesus. Mas, qual conteúdo Francisco dá a este vocábulo e como nós hoje podemos e devemos compreendê-lo e colocá-lo em prática?

Quando nós lemos as Regras, considerando o conjunto dos textos de Francisco, constatamos que o Evangelho não é só levar a sério as exigências de uma vida fraterna, vivida numa pobreza radical – renúncia à propriedade coletiva ou pessoal, ao dinheiro, apelo à esmola –, mas, é sobretudo assumir o conceito de autoridade que Francisco propõe – mestres que se fazem servos, o lavar os pés –com o seu convite a fazer-se «menor», pequenos, submissos a todas as criaturas, irmãos de todos os homens. Aqui para Francisco está o coração da mensagem evangélica.

Por esta razão mais que a «pobreza, a humildade e o santo Evangelho de Jesus Cristo» (Rb 12,4; RCl 12,4), os frades no seu comportamento tomam como modelo a humildade de Deus, do Verbo do Pai, santo e glorioso, que fez-se carne pela nossa humanidade e fragilidade e escolheu a pobreza (cf 2Fi 4-5). Nós descubrimos, portanto, que a visão de Francisco nos revela a face de Deus e o que é o homem precisamente tal como lhe oferece o Evangelho.

Esta «alegre e boa nova» nos leva, com efeito, em primeiro lugar, à revelação do mistério de Deus-Trindade, que pelo seu santo amor nos abriu o acesso à sua vida de comunhão e torna-se a primeira meta de todas as nossas buscas e de todos os nossos passos.  E junto nos dá, pois, o conhecimento de nós mesmos, «a mais digna das criaturas» (3In 21), imagem e semelhança, na sua intimidade e no seu corpo, de Deus e de seu Cristo, de grande nobreza e, paradoxalmente, limitada, pobre, pequena, pecadora, e por causa disso chamada à «penitência» – conversão ao Evangelho –, nunca concluída, sempre a recomeçar.

O amor do próximo qualquer que seja, «amigo ou inimigo, ladrão ou assaltante, cristão ou não», é, com o amor por Deus e em igualdade com ele, uma outra decisão evangélica radical. Amor que deve ser concreto, eficaz, feito de humilde serviço, assinalado pela atenção «materna», excluindo todas as formas de domínio. Isto concede à criação uma verdadeira «fraternidade», o nome que Francisco dá ao primeiro grupo de frades. Desde a primeira realizada entre os irmãos, deve permanecer aberta e estender-se a todos os homens e junto a todos os seres e elementos do mundo.

São estes, em grandes traços, os elementos base alcançados no Evangelho, que Francisco propôs como caminho de vida. Reconhecendo-os como próprios e aprovando a Regra, há oito séculos, a Igreja deu  origem ao movimento franciscano.

São estes os valores que somos chamados a viver no inicio do terceiro milênio com as nossas riquezas e fraquezas. De fronte a um mundo tecnológico e informático, em suas crises: guerras continuadas, terrorismo, pobreza, globalização, a fé cristã é exposta a todas as questões e desafios sobre Deus, seu entrar na História com a pessoa de Jesus, a diversidade das religiões e de suas relações, sobre a natureza do ser do homem e sobre o sentido da vida e da morte.

Esta situação de crise é ao mesmo tempo um grande desafio para que a Igreja viva a nova evangelização e para que a Família Franciscana viva a própria identidade, consciente de que o seu posto e a sua incidência são considerados frágeis e contestáveis. A nossa Família Franciscana está debilitada, em particular no mundo europeu, por causa da sua diminuição numérica, das incertezas sobre nossa identidade e com a tentação de retirar-se e de desencorajar-se. Todavia, a mesma identidade franciscana permanece um desafio para o mundo! É o nosso referir-se ao Evangelho, do qual a Regra é como o resumo, que somente pode nos ajudar a responder com confiança, criatividade e coragem aos muitos e múltiplos desafios.

O Evangelho para todos
A celebração do 8º centenário da aprovação da Regra primitiva – a «protoregra» –envolve evidentemente em primeiro lugar os frades da Primeira Ordem, que com a sua profissão se empenham em colocá-la como fundamento de sua vida pessoal e comunitária. Mas o âmago deste texto – a sua referência ao Evangelho é de fato a sua permanente riqueza – se destina a todos os cristãos e de  modo especial aos filhos de Francisco.

O apelo para viver radicalmente a mensagem de Jesus, as suas promessas e as suas exigências, que Francisco e os seus companheiros tinham compreendido e seguido, resulta em atualidade para todos os tempos e para todos os estados de vida.

De fato, apenas alguns anos depois, em 1212, Clara de Assis foi tocada e mais tarde (1252), para dar origem, à Ordem das Irmãs Pobres, tomará em quase toda a sua integridade a Regra de Francisco. Por outro lado, logo depois, indivíduos e grupos, homens e mulheres, vivendo no seu estado de vida – família, profissão – foram atraídos pela proposta evangélica franciscana, como nos testemunham alguns escritos que Francisco escreveu a eles: as duas Cartas aos fiéis, assim como o conteúdo do capítulo 23 da Regra não bulada, que constituíram a base e a referência espiritual, da qual derivará com o tempo a Ordem Terceira Franciscana.

Em nossos dias a Família Franciscana se compõe ainda destes três ramos: os Frades Menores, distribuídos nas três obediências: as Irmãs Pobres – Clarissas; o grupo, o mais numeroso, chamado «Terceira Ordem», na sua componente religiosa, irmãs e irmãos da Terceira Ordem Regular, TOR e na sua componente secular, a Ordem Franciscana Secular, OFS. A estes devemos juntar os membros dos Institutos Seculares franciscanos nascidos no século passado.

Todos se referem explicitamente à inspiração evangélica de Francisco e receberam os seus textos espirituais como base para a sua legislação. Sinal de irradiação da proposta evangélica franciscana é a existência fora da comunhão com a Igreja Católica, dentro das Igrejas anglicana e luterana, das comunidades de homens e de mulheres que se denominam e são de inspiração franciscana. Ao lado desta família de contornos jurídicos definidos, muitos homens e mulheres se interessam pelo carisma franciscano, o estudam, se inspiram: são todos os amigos de Francisco.

O vento que Francisco e os seus frades têm feito levantar, continua a animar a Igreja e toca a todos os cristãos e «todos os homens de boa vontade». Assim, este centenário pertence a todos.

Três passos para preparar o Centenário
Sejam enviados todos e imediatamente a ação de graças pelo dom que Deus fez, a nós e a sua Igreja, chamando os cristãos, por intercessão de Francisco e dos seus companheiros, a acolher a totalidade do Evangelho de Jesus Cristo para um novo viver.

Este chamado – a graça da origem – não cessou de ressoar, de ser entendido, de exprimir-se dentro da vida, e depois de oito séculos, alcança uma multidão inumerável de homens e de mulheres de cada condição e estado de vida. Tantos homens e mulheres ilustres ou desconhecidos têm produzido frutos de santidade, de sabedoria, de ciência, de identidade com os pobres, de serviço à Igreja e à humanidade, de martírio de sangue.

Difundindo-se e enriquecendo-se ao longo dos séculos com inúmeras contribuições, a corrente espiritual franciscana, como um rio de vida, nunca deixou de nos irrigar e a própria Igreja. Hoje, neste momento do terceiro milênio, graças a um melhor conhecimento dos escritos de Francisco, numa visão mais precisa e mais ampla daquela que é o centro do seu projeto originário, a sua mensagem nos é proposta como estímulo, encorajamento e pão para o caminho.

A esta alegre ação de graças ocorre, porém, unir o simples reconhecimento da distância entre a proposta evangélica e o modo com a qual é vista no curso da nossa longa e tumultuosa história. Não obstante o esforço permanente de retomada e de “reformas”, o nosso movimento não está ainda a altura das exigências do Evangelho.  Se não temos nada a acusar, nada a condenar aos nossos pais, devemos reconhecer diante da Igreja e do mundo que a nossa história e a nossa hereditariedade traz consigo suas sombras, tanto do passado como para o presente.

Este duplo movimento – ações de graças pelo chamar novamente a viver o Evangelho e a purificação da memória como reconhecimento das sombras da nossa família – deve nos levar a afrontar o desafio da refundação. A experiência de oito séculos nos ensina que, como Francisco, temos sempre que retomar de novo o nosso itinerário de penitência evangélica que é a conversão, por em prática com gestos concretos para encarnar com a vida, pessoal e comunitária de cada dia, qualquer coisa da novidade e da juventude do Evangelho.

Desde o primeiro século da nossa história, não temos cessado de “renascer”. (cf. Jo 3,3), como é testemunhado ainda hoje pelos nossos diferentes ramos e pelas centenas dos nossos Institutos. E é por isto que devemos alcançar as raízes, os “fundamentos”, ou seja, descobrir a maravilha da “força de Deus”, o Evangelho (Rm 1,16), a boa nova do Amor de Deus por nós e da comunhão com Ele, que a nós se oferece. Só sobre tal fundamento se pode construir um edifício sólido, uma verdadeira comunidade em missão na Igreja e no mundo. Este momento de graça –  kairós – que vivemos no presente, nos coloca à prova, nos revelando a nossa fraqueza, mas nos convidando sobretudo a contar com o poder de Deus.

Conclusão
Esta nossa Carta deseja ser um primeiro anúncio. O fazemos com três anos de antecipação para afirmar que o evento que nos propomos a celebrar atinge a todos nós: não podemos vivê-lo cada um por conta própria! É também um convite para começar desde já a render graças pelo dom que Deus deu à Igreja e ao mundo, desde quando o projeto de Francisco e dos seus frades de viver “segundo o Evangelho de Jesus Cristo”, foi aprovado em 1209, pelo Papa Inocêncio 3º. Nós temos há oito séculos a graça de ser os herdeiros deste projeto e o sério empenho de sermos os continuadores.

Irmãos e Irmãs, “restituamos ao Senhor Deus Altíssimo e Sumo Bem, Todo Bem
e reconheçamos que todos os bens são seus,
e de tudo rendamos graças a Ele, do qual procede todo bem” (Rnb 17,17).

Roma, 29 de novembro de 2006
Festa de todos os Santos Franciscanos

Conferência da Família Franciscana (CFF):
Fr. Mauro Jöhri, OFMCap, Ministro Geral e Presidente da CFF
Fr. José Rodriguez Carballo, OFM, Ministro Geral
Fr. Joachim Giermek, OFMConv, Ministro Geral
Fr. Ilija Živkovič, TOR, Ministro Geral
Encarnación Del Pozo, OFS, Ministra Geral
Sr. Anísia Schneider, OSF, Presidenta CFI-TOR

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