“Paulo nos indica o horizonte da busca, do caminho e da resposta”, diz Frei Daniel
25/01/2023
São Paulo (SP) – Na Festa da Conversão de São Paulo, neste 25 de janeiro, os Ministros Provinciais e Custódios continuaram os trabalhos da Assembleia Geral da União das Conferências Latino-americanas Franciscanas (UCLAF), em andamento no Convento São Francisco, em São Paulo.
O dia começou com a oração das Laudes, às 7h15, e, em seguida, Frei Daniel Alejandro Fleitas Zeni, Ministro Provincial da Província São Francisco Solano, da Argentina, presidiu a Celebração Eucarística. Frei Daniel, que é presidente da Conferência Brasil e Cone Sul, observou que o texto do Evangelho de Marcos enfatiza a incredulidade e a missão dos discípulos. “Cristo ressuscitado liberta os seus da sua cegueira, dando-lhes a tarefa de abrir os olhos dos outros. Estamos maravilhados com a grande confiança de Jesus naqueles homens que Ele havia escolhido, mas que permaneceram cheios de dúvidas. A sua palavra será fecunda porque é o próprio Jesus que fala pela sua boca”, disse.
Segundo ele, cada cristão, cada Frade Menor, é enviado para anunciar a boa nova da ressurreição do Senhor, curando a cegueira, e para semear a sua mensagem de esperança e de vida nas fraternidades provinciais e nas comunidades. “O conteúdo do anúncio é claro, curando feridas, doenças, o Ressuscitado é vida nova e fonte de alegria”, ressaltou o frade.
“São Paulo, mais do que um exemplo de mudança radical de vida e de sentimentos, é sobretudo um caminho de perseverança e de força, é a resposta de um processo de busca e escuta. Nenhum caminho na vida é sem desafios, fadigas e incertezas. O que Paulo quer dizer na vida e na difusão do cristianismo? O que significa Paulo no caminho de evangelização da Ordem hoje e aqui na América Latina? São Paulo levou a mensagem de Jesus até os confins do mundo então conhecido. Ele nunca se cansou de pregar, nem mesmo quando estava preso na prisão de Roma. A expressão de Paulo, ‘Se eu não proclamar o Evangelho’, é uma provocação ousada”, explicou.
Para ele, nestes tempos, de incerteza e talvez de perplexidade, a provocação de Paulo, a sua vida e a sua mensagem, “encorajam-nos, Frades Menores da América Latina, a prosseguir com o anúncio da esperança e do Reino. Deixar os nossos confortos provinciais ou estruturais, deixar todas as preocupações que não sejam as do Evangelho e encorajar-nos a dar passos concretos de renovação, transformação, mudança em favor de uma nova evangelização nas suas formas e métodos”.
“Paulo é busca, caminho e resposta. Diante dos desafios do tempo presente, Paulo nos indica o horizonte da busca, do caminho e da resposta. Não podemos ficar confortáveis lamentando perigos ou dificuldades, ou repetindo recursos por medo do risco. São tempos de respostas criativas, de novas lealdades, de esperanças partilhadas”, enfatizou.
Segundo ele, a Assembleia da UCLAF acontece no caminho de ação de graças pelo centenário da Regra Bulada e do Natal na Greccio. “Nossa melhor ação de graças é a fidelidade, a busca. Sabemos que a Regra de Touro é a narração escrita de uma experiência de vida. Talvez este seja um novo momento para narrar nossa própria experiência de vida. Nossa experiência de Jesus, do evangelho, da fé. A Regra contém poucas intuições e muita vida. Talvez seja um tempo de poucas intuições e muita vida. Quais são essas intuições fundamentais para o nosso tempo? E se olharmos para Greccio, celebramos a alegria da pequenez, da fraqueza que fez história, a inocência da confiança. Que a nossa ação de graças tenha gosto de pequenez, alegria e renovada confiança no Deus do impossível”, refletiu.
“Que a experiência de Paulo, Francisco e de tantos santos, nos encoraje na esperança”, concluiu. No final da Eucaristia, Frei Daniel abençoou as pílulas de Frei Galvão, que são preparadas no Convento São Francisco, onde viveu o santo brasileiro por 60 anos.
500 ANOS DA PRESENÇA FRANCISCANA NO MÉXICO
Frei Flávio Chávez abriu os trabalhos na Sala São Dâmaso, às 9h15, falando sobre o Jubileu franciscano no México. Segundo ele, os primeiros frades franciscanos a chegar à Nova Espanha foram Frei Pedro Melgarejo e Frei Diego Altamirano, que vieram nas tropas de “Hernán Cortés”. Como vinham como capelães militares e não como missionários, sua participação na evangelização tinha pouca relevância.
Um segundo grupo de três franciscanos de origem belga chegou em 1523. Dois deles viajaram com Cortés em sua incursão a Honduras e morreram no caminho. O outro, Frei Pedro de Gante, foi quem certamente iniciou a evangelização na Nova Espanha. A primeira missão realmente estruturada chegou ao México em 13 de maio de 1524 com doze frades chefiados por Frei Martín de Valencia e que mais tarde foram chamados de “os doze apóstolos”.
Os doze apóstolos foram os frades Martín de Valencia, Francisco de Soto, Martín de Jesús (ou de la Coruña), Juan Suárez, Antonio de Ciudad Rodrigo, Toribio de Benavente (Motolinía), García de Cisneros, Luis de Fuensalida, Juan de Ribas , Francisco Jiménez e os frades leigos Andrés de Córdoba e Juan de Palos. Em 13 de maio de 1524, o grupo de missionários franciscanos chamado “os doze apóstolos do México”, enviados pelo papa Adriano VI e pelo rei Carlos I, chegou ao porto de Veracruz.
À frente desta missão estava Frei Martín de Valencia, superior da Província Franciscana Espanhola de San Gabriel e que, a pedido do Ministro Geral da Ordem Franciscana, Francisco Quiñones, escolheu com extraordinário cuidado os doze apóstolos para a expedição.
Pouco depois de sua chegada fundaram a Província do Santo Evangelho e dividiram o grupo para distribuí-lo em quatro conventos, que atenderiam as regiões mais densamente povoadas dos vales centrais: México-Tenochtitlan, Texcoco, Tlaxcala e Huejotzingo. Da Província do Santo Evangelho saíram as demais Províncias franciscanas do México. Em 1559, a de São José de Yucatán; em 1565, a de São Pedro e São Paulo de Michoacán; e, em 1599, a de São Diego (Descalços), São Francisco de Zacatecas e Santiago de Jalisco.
PARA UM NOVO TESTEMUNHO EM NOSSO TEMPO
Este foi o tema da palestra de Frei Francisco Gómez Vargas, Secretário Geral para a Evangelização Missionária (SGEM) da Ordem dos Frades Menores.
Ele explicou que a Ordem não divides entre Evangelização ad-intra e Evangelização ad-extra e não distingue entre Evangelização e Missão: “Preferimos falar de nossa missão de evangelizar de acordo com o contexto e situações concretas, usando o termo Evangelização Missionária”.
Frei Francisco lembrou que o Secretariado Geral para a Evangelização Missionária recebeu o mandato do Capítulo Geral de 2021 para preparar uma Ratio Evangelizationis para a Ordem, “em harmonia com o ensinamento do Magistério da Igreja e os documentos da Ordem, através de um processo básico na Conferências e áreas continentais, com base no processo já empreendido pelo SGEM” (mandato n.º 20). “Todos nós na América Latina somos chamados hoje a continuar testemunhando, como franciscanos na construção da Paz, e é assim que o diálogo é uma importante mediação: precisamos participar do diálogo inter-religioso, ecumênico, social, político e econômico”, disse.
Segundo ele, as orientações das Novas Formas de Vida e Evangelização, propostas no documento “Ite, Nuntiate…”, são um bom ponto de partida para revitalizar e “atualizar nosso modo de vida e serviço”.
FORMAÇÃO E ESTUDOS
Frei Darko Tepert, Secretário Geral para a Formação e os Estudos, falou especialmente da formação inicial na Ordem. “Para a Formação no momento atual, a escuta é muito importante. Devemos escutar os candidatos que expressam seu desejo de fazer conosco a viagem desta vida. É preciso ouvir sua situação de vida, o clima social, as condições culturais, que no mundo de hoje estão mudando rapidamente. Devemos escutar os irmãos em formação inicial, escutar suas dificuldades, suas preocupações, seus desejos. Ouvir também envolve estar pronto para mudar”, explicou o frade.
Segundo ele, no mundo em transformação, não pode haver desinteresse. “Não somos cartuxos, mas irmãos chamados pelo Senhor e enviados juntos para o mundo, para este mundo em transformação. Os irmãos em formação inicial podem nos ajudar a descobrir e valorizar estas mudanças. Por outro lado, os irmãos em formação inicial devem ser ajudados a ouvir e a ouvir os outros”, lembrou.
Frei Darko disse que o Secretariado está se reunindo com os secretários das Províncias de cada Conferência. “Por enquanto, já realizamos estas reuniões na Conferência Bolivariana e na Conferência de Santa Maria de Guadalupe. Nestes dias teremos uma reunião semelhante com a Conferência do Brasil e Cone Sul. Desta forma, completaremos nossas visitas às Conferências Latino-Americanas e, a partir de abril, continuaremos com as reuniões nas Conferências Europeias”, explicou.
Segundo ele, nas Conferência Bolivariana e Conferência de Santa Maria de Guadalupe, foi verificado o desejo de preparar cursos, também em nível universitário, para formadores, e foram feitas propostas concretas nesse sentido. Cursos para a formação de formadores também são realizados em nível da Conferência do Brasil e Cone Sul.
Outro ponto importante destacado pelo frade foi o tema da identidade franciscana, “contida, como núcleo, em nosso nome de Frades Menores. A fraternidade e a minoridade, ou seja, a forma de viver e trabalhar como irmãos e como os menores de todos, permitem que o sopro do Espírito Santo anime toda nossa forma de estar no mundo (Documento Final do Capítulo Geral, 11). Portanto, o Capítulo Geral convida cada irmão e cada Fraternidade a uma mudança. Convida-nos a ser como irmãos entre os menores, entre os que estão à margem. Eu diria que, se temos um problema com o declínio do número de irmãos, se nos faltam vocações em algumas áreas, talvez uma das causas possa ser também o fato de não vivermos mais nossa identidade”, avaliou.
JPIC
O frade salvadorenho Frei Daniel Nicolás Rodríguez Blanco, responsável pela animação do Escritório Geral de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) da Ordem dos Frades Menores, explicou que o Escritório de JPIC deve trabalhar para conectar, desenvolver e apoiar projetos sobre ecologia integral, dando especial atenção à formação em questões de JPIC nos diferentes contextos da Ordem.
Frei Daniel lembrou que o Escritório estará envolvido, neste ano, na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa 2023, onde, juntamente com o Movimento Laudato Si’, promoverá as encíclicas do Papa Francisco, Laudato Si’ e Fratelli Tutti. Ele também falou dos cursos a serem promovidos neste ano: 1. Oferecer um curso virtual sobre ecologia integral em espanhol e português; 2. Oferecer um curso sobre a Economia de Francisco; 3. Curso anual para animadores JPIC; 4. Participação de um jovem frade professo temporário ou professo solene por entidade no Jornada Mundial da Juventude, Lisboa, 1-6 de agosto de 2023; 5. Reunião Continental JPIC 2024; 6. Encontro latino-americano de frades com obras nas artes visuais; 7. Peregrinação continental da imagem de São Francisco, o Migrante.
Outro trabalho importante é consolidar e expandir a Rede Franciscana de Migrantes na América Latina. “Pedimos que a Pontifícia Universidade Antonianum e os Centros de Estudos da Ordem que promovam a formação em ecologia integral em diferentes línguas e em colaboração com outras instituições”, acrescentou Frei Daniel.
Todas as palestras tiveram um tempo para perguntas e respostas. À tarde, cada Conferência se reuniu para fazer uma síntese dos desafios para a UCLAF e para cada Conferência. Os frades apresentaram em plenário as conclusões dos grupos, tendo como moderador neste dia Frei Fernando Aparecido dos Santos, da Custódia do Sagrado Coração de Jesus.
Equipe de Comunicação da Assembleia da UCLAF