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D. Frei João Muniz: “Tempo de Calvário” na Igreja do Xingu

23/04/2018

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Frei Gustavo Medella

São Paulo (SP) – “Nós, na Igreja do Xingu, vivemos uma Semana Santa em clima de verdadeiro Calvário”. Estas foram as palavras do Bispo Prelado do Xingu, Dom Frei João Muniz, OFM, que presidiu a Missa desta segunda-feira, dia 23 de abril, às 7h30, no Convento São Francisco em São Paulo. Dom Muniz fazia referência à prisão do Padre José Amaro Lopes de Sousa, da Paróquia do Município de Anapu, no dia 27 de março, terça-feira da Semana Santa. “Prenderam nosso irmão e fazem contra ele onze acusações, das mais diversas. É uma tentativa de criminalizar alguém que está do lado dos pequenos e luta pelos seus direitos. Padre Amaro é muito querido e respeitado pelo povo da região”, explicou Dom Muniz. “Desde que foi ordenado, Padre Amaro atua na cidade da Anapu. Ele dá prosseguimento ao trabalho de defesa dos pobres e de promoção do desenvolvimento sustentável realizado pela Missionária Norte Americana Dorothy Stang, que foi assassinada com seis tiros, em fevereiro de 2005. Padre Amaro trabalha em parceria com a Congregação de Irmã Dorothy nesta missão de defesa da vida e promoção dos pequenos”, conta. Segundo Dom Muniz, a causa de tanta violência é a disputa pela exploração das terras amazônicas. “A grande maioria das terras pertence à União. Grileiros e latifundiários buscam uma exploração predatória daquele território e agem com violência contra todos aqueles que denunciam e combatem seus interesses, que são de destruição”, denuncia o bispo franciscano.

joao_230418_2Segundo o Dom Muniz, uma equipe de seis advogados trabalha na obtenção da liberdade para o padre e a expectativa é que nesta semana ainda seja julgado o pedido de habeas corpus, apresentado ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará. Dom João Muniz definiu a região Amazônica como um lugar de muitas riquezas e grandes desafios e destacou o papel importante da Igreja naquele contexto. “A Igreja da Amazônia tem uma missão profética na defesa da vida. Muitos religiosos e missionários já foram mortos e são perseguidos por se posicionarem contra os poderosos”, destaca Dom Muniz, ao citar como exemplo as constantes ameaças sofridas por seu antecessor, o bispo emérito Dom Erwin Krautler, que até hoje precisa andar acompanhado por seguranças.

Além das riquezas naturais, Dom João Muniz também chama a atenção para o patrimônio cultural e humano presente na história dos grupos que originariamente povoaram aquela região, como os indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Também chamou a atenção para a extensão territorial da prelazia que está sobre seus cuidados. “São Felix do Xingu é maior circunscrição eclesiástica em território no Brasil e, talvez, no mundo. São 360 mil quilômetros quadrados. A paróquia mais distante fica a 1.110 km da sede da Prelazia”, explicou o bispo para descrever o tamanho da Prelazia. Dom João também pediu oração pela missão da Igreja na Amazônia e destacou as muitas manifestações de solidariedade recebidas por ocasião da prisão do Padre Amaro. A Missa contou com a participação da Fraternidade Franciscana do Largo São Francisco, de militantes e voluntários da Educafro e de paroquianos e demais fiéis. Dom João Muniz Alves é Bispo da Prelazia de São Felix do Xingu desde 3 de abril de 2016. É frade franciscano e foi Ministro Provincial da Província Franciscana de Nossa Senhora da Assunção, dos estados do Maranhão e Piauí. Na Prelazia sucedeu a Dom Erwin Krautler, bispo austríaco reconhecido na defesa da Floresta Amazônia e dos direitos humanos.