Relíquia de São Francisco e o encontro com a fé no Brasil
11/10/2024
Em cada manifestação de fé, havia a certeza de que a presença do amor incondicional de Deus estava presente. Nos olhos marejados, na contemplação, homens e mulheres, jovens e aqueles mais calejados pelo tempo ocuparam com fervor o Santuário de Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP), e o Santuário de São Francisco, em São Paulo (SP), durante a visita da Relíquia de São Francisco, neste mês de outubro.
Antes de chegar a São Paulo, em um movimento de uma Igreja em saída a Relíquia também esteve, no começo deste mês, no Santuário de São Francisco das Chagas, em Canindé (CE).
Segundo Frei Giuseppe Caro, um dos guardiões da relíquia, a passagem pelo Brasil foi rápida, mas a experiência foi marcante. “Para nós, é uma grande graça ter assumido o compromisso de cuidar da Relíquia de São Francisco, e poder visitar este país trazendo um fragmento do sangue do Santo Seráfico é uma graça ainda maior. Vimos a esperança de paz brotar nos corações das pessoas”, salientou.
Ele e Frei Martino Chiaramonte saíram, em janeiro deste ano, da Província Toscana de São Francisco Estigmatizado, localizada no Monte Alverne, na Itália, onde, há 800 anos, em 14 de setembro de 1224, São Francisco recebeu os estigmas do Cristo crucificado. A Relíquia é um pedaço do hábito que São Francisco usava no dia em que recebeu os estigmas, marcado pelo seu sangue.
Antes de chegarem ao Brasil, os frades estiveram na Turquia, Egito, Lituânia, Malta e Albânia. Na América Latina, passaram primeiro pela Bolívia e encerraram a peregrinação deste ano em terras brasileiras. “Nessa caminhada, encontramos muitas pessoas que fizeram a experiência do amor profundo de Deus. Tivemos a oportunidade de estar com pessoas acolhedoras e de oração sincera. Diante de tantas situações vividas, percebo que o grande milagre de São Francisco é a promoção do sentimento de paz, por onde sua Relíquia passou”, afirmou o frade.
Visita a espaços da Província
A visita da Relíquia ao Santuário de Frei Galvão, nos dias 5 e 6 de outubro, mobilizou muitos devotos do Santo Seráfico, que se aglomeraram para tocar naquele pequeno fragmento repleto de significados, pois nele conseguiram sentir ainda mais a presença daquele que seguiu os passos de Jesus Cristo e deixou exemplos marcantes da importância de se entregar ao amor pelos que sofrem e por todas as criaturas de Deus.
Na ocasião, mais de 40 frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, que estavam na cidade para o Encontro Regional São Paulo, também participaram das celebrações. Os devotos de São Francisco também tiveram a oportunidade de receber um cartão com uma oração e um pequeno fragmento que representa a Relíquia em visita ao Brasil.
Na terça-feira, 8 de outubro, a Relíquia de São Francisco chegou à capital paulista, no Convento e Santuário que leva o nome do santo. A programação com a relíquia começou com a oração das Laudes, às 7h10, seguida de uma celebração Eucarística. Depois, às 10h, outra Santa Missa foi presidida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé.
“A vinda dessa Relíquia é um sinal maravilhoso que nos dá a oportunidade de nos unirmos ainda mais a São Francisco, não apenas através dos nossos sentidos, pelo fato de podermos ver e tocar em algo que fez parte da vida desse santo, mas também de reviver o sentimento de amor que nos une a ele”, disse o Bispo.
De acordo com Dom Rogério, São Francisco continua desafiando o mundo, as pessoas, o sistema e a nossa organização humana, que nos conduz a girarmos em torno de nós mesmos. “São Francisco se diminui, a exemplo do que ele aprendeu no Evangelho e também a partir de Jesus Cristo, que também se humilhou e se diminuiu. Desta forma, ele pôde experimentar a profundidade do que é conhecer Deus. Para se aproximar do Pai, o ser humano precisa vencer a idolatria do eu. Francisco teve a graça de servir como sinal e permitiu que Deus agisse sobre ele”, concluiu.
Espaço sagrado de devoção a São Francisco
Segundo Frei Mário Luiz Tagliari, reitor do Santuário São Francisco, o espaço sagrado, localizado no coração de São Paulo, tem 377 anos, e, nesta igreja, os frades, desde sempre, apresentaram o santo como um amigo da natureza, das pessoas, e também como aquele que, desde o início, encontrou nos pobres e nos doentes, nos crucificados do seu tempo, no abraço e no beijo no leproso o mesmo Cristo que também havia encontrado na cruz de São Damião. “Para nós, a vinda da Relíquia tem um significado muito especial. Que todos nós, que participamos do Santuário de São Francisco, possamos também encontrar, como Francisco, os crucificados do nosso tempo e ver neles o próprio Cristo, para que possamos abraçar, cuidar deles e de toda a Criação, que também está muito ferida”, salientou.
Após a Santa Missa das 10h, os fiéis formaram uma grande fila para tocar e rezar diante da Relíquia de São Francisco. Enquanto caminhavam lentamente até a Relíquia, era possível perceber a grande expectativa para ter a oportunidade de sentir a proximidade do santo. Era a certeza de estar diante daquele que é capaz de interceder pelos seus pedidos junto a Deus, assim como era clara e forte a presença da fé, manifestada pelo gesto de amor expresso pelo toque e pelas muitas lágrimas de emoção.
A missa de encerramento ocorreu às 12h, na Igreja das Chagas de São Francisco, da Ordem Franciscana Secular, e foi presidida pelo Frei Estevão Ottenbreit, capelão do Mosteiro da Luz, em São Paulo. A homilia foi conduzida pelo Frei Giuseppe, que mais uma vez ressaltou a importância de São Francisco de Assis no mundo atual e a graça de trazer a Relíquia ao Brasil.
Ao final, a Ministra da Fraternidade das Chagas, Maria Aparecida Crepaldi, agradeceu a presença da Relíquia na igreja, que traz em seu altar a representação do momento em que São Francisco recebe os estigmas no Monte Alverne.
Ainda na terça-feira, 8, os frades guardiões da Relíquia de São Francisco voltaram para a Itália, levando para o Monte Alverne as experiências de fé ao santo vividas no Brasil. Em suas memórias estará sempre viva a certeza de que o Santo Seráfico deixou marcas profundas e amor no povo católico brasileiro, que permanecem vivas na devoção e nos atos concretos a favor dos mais pobres e excluídos, os crucificados da atualidade.
Adriana Rabelo