Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Mensagem do Ministro Provincial para a Páscoa

31/03/2018

Notícias

Caríssimos irmãos e irmãs,

O Senhor Ressuscitado vos traga a paz e todo o bem!

Nos primeiros anos de seminário menor, dentre os preparativos para as festas pascais, ensaiávamos um canto, em forma de diálogo entre solista e coro, inspirado no Salmo 24: “Quem é esse rei da glória? O Senhor Todo-poderoso, é Ele o Rei da glória” (Sl 24,10). Nesse cantar se proclamava que a solenidade Pascal é a festa da vitória do Rei da glória, a festa da vida de Cristo e, com Ele, a festa de toda humanidade e da redenção da inteira criação de Deus. Santo Hipólito de Roma, no seu Sermão na Páscoa, assim visualiza este diálogo: “E vendo as potências angélicas aquele magnífico mistério de um homem que ascendia juntamente com Deus, receberam alegres a missão de gritar aos exércitos celestiais: Portões! Erguei os frontões, que se ergam as antigas comportas: o rei da glória vai entrar. E elas, por sua vez, vendo um novo milagre, ou seja um homem unido a Deus, gritam e dizem: “Quem é esse rei da glória? E as potências angelicais interrogadas voltam a contestar: O Senhor dos exércitos: Ele é o rei da glória, o herói valoroso, o herói da guerra”.

Para São Francisco de Assis, assim como o Natal, também a Páscoa é o “dia que o Senhor fez” (OfP IX,5) e no qual celebramos a vitória de Jesus sobre a morte. O Santo de Assis, chamado pelos biógrafos de “arauto do grande Rei”, na solenidade da Páscoa, assume o protagonismo de solista no grande coral da inteira criação para dialogar com todos os povos e com tudo o que a mãe-terra encerra: “Povos, batei palmas de aplauso, aclamai a Deus com vozes de alegria” porque, naquele dia, “o santíssimo Pai celestial, nosso Rei, enviou desde os tempos antigos do alto o seu dileto Filho, e operou a salvação por toda a terra” (cf. OfP VII, 1.3). E, “alegrem-se os céus, rejubile a terra, ressoe o mar com tudo o que ele contém, rejubilem-se os campos e o que neles existe” (OfP IX,7), “porque este é o dia que o Senhor fez, alegres exultemos por ele” (OfP IX,5). E ainda, em forma de louvor, proclama: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que libertou com seu próprio sangue sacratíssimo, as almas de seus servos. Não serão desamparados os que n’Ele esperam” (OfP VI,15).

fid-500A solenidade da Páscoa evoca a vitória do Rei da glória que, pela paixão, morte e ressurreição do seu Filho, ofereceu-nos vida em plenitude. Por outro lado, infelizmente, ainda nos deparamos com a miséria da humanidade que prefere reavivar de forma cruel o drama da paixão e da morte, sem esperança de vida e sem o sinal do maior presente que o Ressuscitado ofereceu à humanidade na manhã da Páscoa: “A Paz esteja convosco!” (Jo 20,21).

Nos nossos dias, não sem dor na alma, constatamos o quanto ainda ecoa o grito do “crucifica-o” (Jo 19, 6) e o clamor por “Barrabás” (Jo 18,40), diante da justiça cega e cômoda de “Pilatos” que prefere lavar as suas mãos. Nos nossos dias, a mesma notícia da morte de Jesus, que tanto intimidou os discípulos de Emaús (Lc 24,16), continua a ser o “choro” das Madalenas (Jo 20,13) que não conseguem vislumbrar alguma esperança de vida. Nos nossos dias, o “medo” (Lc 24,37) dos discípulos de Jesus, continua a ser o medo das pessoas trancafiadas e reféns nas suas próprias casas, assustadas com o “fantasma” da maldita morte, fruto da violência. Nos nossos dias, continuam disseminadas as corrupções e os “subornos” (cf. Mt 28,11-15) de pessoas que, egoisticamente, geram mais mortes por seus crimes, roubando o direito à vida plena de todo o ser humano. Nos nossos dias, assim como no manto de Verônica, ficou estampada a face do Senhor. Também as “Verônicas” da nossa história estampam em suas camisetas as faces ensanguentadas de seus filhos, vítimas de balas perdidas e/ou outras formas de violência, e quais novas “filhas de Jerusalém” (Lc 23,28), choram a morte sem resposta ao “porquê” dessa morte. E mais do que nunca, também nos nossos dias, da morte pecaminosa também padece a mãe-terra, “oprimida e devassada, que está gemendo como que em dores de parto” (LS 2) e que também clama por vida e ressurreição.

Assim mesmo, como proclamamos no lema da Campanha da Fraternidade deste ano, acreditamos no ser humano, capaz de promover um verdadeiro espírito de fraternidade, visibilizado pela superação de todas as formas de violência. A humanidade está farta da morte maldita e acalenta no coração o sonho consolador da vida que Cristo Ressuscitado nos ofereceu, e que Santo Hipólito chama de “Ó Mística liberdade! Ó Páscoa divina!”.
E assim concluo a minha mensagem pascal com a própria conclusão do Sermão da Páscoa de Santo Hipólito:

“A Páscoa, obra admirável da força

e do poder da divindade,

é realmente a festa e o memorial legítimo

e sempiterno;

é a passagem da paixão para a impassibilidade,

da morte para a imortalidade

da juventude para a maturidade

é a cura após a ferida,

ressurreição após a queda,

ascensão após a descida.

É assim que Deus realiza grandes coisas,

assim é como do impossível cria coisas admiráveis,

para demonstrar que ele é o único que pode

tudo o que quer”.

Feliz Páscoa! Que o Senhor Ressuscitado vos abençoe e vos guarde!

Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM
Ministro Provincial