Papa: vivamos as tarefas de cada dia em espírito de serviço
15/05/2022
O Papa Francisco canonizou dez novos santos durante a missa celebrada na manhã deste domingo (15/05), na Praça São Pedro. Dentre os novos santos estão o carmelita Tito Brandsma, Maria Rivier e Charles de Foucauld.
«Assim como Eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros». Com estas palavras Jesus diz aos seus discípulos o que significa ser cristão. “Este é o testamento que Cristo nos deixou, o critério fundamental para discernir se somos verdadeiramente seus discípulos ou não: o mandamento do amor”, disse o Papa em sua homilia.
A seguir, Francisco refletiu sobres os dois elementos essenciais deste mandamento: o amor de Jesus por nós, «assim como Eu vos amei», e o amor que Ele nos pede para viver, «amai-vos também vós uns aos outros».
Primeiro ponto: «Assim como Eu vos amei». “E como nos amou Jesus?”, perguntou o Papa. “Até o fim, até o dom total de si mesmo”, respondeu o Pontífice. Segundo o Papa, “causa impressão vê-Lo pronunciar estas palavras numa noite tenebrosa, enquanto se respira no Cenáculo um ambiente denso de comoção e turbamento: comoção, porque o Mestre está prestes a despedir-se dos seus discípulos; turbamento, porque anuncia que será precisamente um deles a traí-Lo. Podemos imaginar a tristeza que havia no íntimo de Jesus, a escuridão que se adensava no coração dos apóstolos, a amargura vivida ao ver que Judas, depois de receber o bocado de pão ensopado para ele pelo Mestre, saía da sala para adentrar-se na noite da traição. É justamente na hora da traição que Jesus confirma o amor pelos seus. Com efeito, nas trevas e tempestades da vida, o essencial é isto: Deus nos ama”, sublinhou Francisco.
«Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou». Que este anúncio “seja sempre central na profissão da nossa fé e nas suas expressões”, disse Francisco, acrescentando: “Nunca nos esqueçamos disto! No centro, não está a nossa capacidade nem os nossos méritos, mas o amor incondicional e gratuito de Deus, que não merecemos. No início do nosso ser cristão, não estão as doutrinas e as obras, mas a maravilha de descobrir que se é amado, antes de qualquer resposta nossa. Enquanto o mundo quer muitas vezes convencer-nos de que só temos valor se produzirmos resultados, o Evangelho nos lembra a verdade da vida: somos amados. Assim escreveu um mestre espiritual do nosso tempo: «Ainda antes que nos visse qualquer ser humano, fomos vistos pelos olhos amorosos de Deus. Ainda antes que alguém nos ouvisse chorar ou rir, fomos escutados pelo nosso Deus que é todo ouvidos para nós. Ainda antes que alguém neste mundo nos falasse, já nos falava a voz do amor eterno».
Segundo o Papa, “esta verdade nos pede uma conversão da ideia de santidade que frequentemente possuímos. Às vezes, insistindo muito sobre o nosso esforço para praticar boas obras, criamos um ideal de santidade demasiado fundado em nós mesmos, no heroísmo pessoal, na capacidade de renúncia, nos sacrifícios feitos para se conquistar um prêmio.
Deste modo fizemos da santidade uma meta inacessível, separamo-la da vida de todos os dias, em vez de a procurar e abraçar na existência quotidiana, no pó da estrada, nas aflições da vida concreta e, como dizia Santa Teresa de Ávila às suas irmãs, «entre as panelas da cozinha». Ser discípulo de Jesus e caminhar pela via da santidade é, primeiramente, deixar-se transfigurar pela força do amor de Deus. Não esqueçamos o primado de Deus sobre o próprio eu, do Espírito sobre a carne, da graça sobre as obras”.
“O amor que recebemos do Senhor é a força que transforma a nossa vida: dilata-nos o coração e predispõe-nos a amar. Por isso, e passamos ao segundo ponto, Jesus diz «assim como Eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros». Este «assim como» não é apenas um convite a imitar o amor de Jesus; mas significa que só podemos amar porque Ele nos amou, porque dá aos nossos corações o seu próprio Espírito, Espírito de santidade, amor que nos cura e transforma. Por isso podemos decidir-nos a praticar gestos de amor em toda a situação e com cada irmão e irmã que encontramos”, disse ainda o Pontífice.
“E que significa, concretamente, viver este amor?”, perguntou o Papa. “Antes de nos deixar este mandamento, Jesus lavou os pés aos discípulos; depois de o ter pronunciado, entregou-se no madeiro da cruz”, disse Francisco, acrescentando: “Amar significa isto: servir e dar a vida. Servir, isto é, não colocar os próprios interesses em primeiro lugar; desintoxicar-se dos venenos da ganância e da preeminência; combater o câncer da indiferença e o caruncho da autorreferencialidade, partilhar os carismas e os dons que Deus nos concedeu. Perguntando-nos o que fazemos de concreto pelos outros, vivamos as tarefas de cada dia em espírito de serviço, com amor e sem alarde, sem nada reivindicar”.
“Primeiro servir, depois dar a vida”, sublinhou o Papa. “Aqui não se trata só de oferecer aos outros qualquer coisa, alguns bens próprios, mas dar-se a si mesmo.”
É sair do egoísmo para fazer da existência uma dádiva, estar atento às necessidades de quem caminha ao nosso lado, gastar-nos por quem precisa, mesmo que seja apenas ouvir a pessoa, dedicar-lhe um pouco de tempo, fazer-lhe um telefonema. A santidade não se faz de alguns gestos heroicos, mas de muito amor diário.
Somos chamados a “servir o Evangelho e os irmãos”, a oferecer a nossa vida “sem retribuição, sem buscar nenhuma glória mundana, mas escondido humildemente como Jesus”.
Os nossos companheiros de viagem, hoje canonizados, viveram assim a santidade: abraçando com entusiasmo a sua vocação, de sacerdote, de consagrada, de leigo, gastaram-se pelo Evangelho, descobriram uma alegria que não tem comparação e tornaram-se reflexos luminosos do Senhor na história. Tentemos fazê-lo também nós, porque cada um de nós é chamado à santidade, a uma santidade única e irrepetível. Sim, o Senhor tem um projeto de amor para cada um, tem um sonho para a sua vida. Acolhe-o. E realiza-o com alegria.
Foram canonizados os Beatos: Titus Brandsma; Lázaro dito Devasahayam; César de Bus; Luigi Maria Palazzolo; Giustino Maria Russolillo; Charles de Foucauld; Maria Rivier; Maria Francesca di Gesù Rubatto; Maria di Gesù Santocanale; Maria Domenica Mantovani.
Fonte: Vatican News (texto de Mariangela Jaguraba)