Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Papa: o cristão é um maratonista esperançoso

27/05/2017

Papa Francisco

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Cidade do Vaticano – O Santo Padre concluiu sua Visita Pastoral a Gênova, presidindo a uma solene Celebração Eucarística, no Largo Kennedy da cidade.

Além dos milhares de fiéis genoveses, participaram da Santa Missa cerca de 40 pessoas excepcionais dos Centros da Obra Don Orione, como também os religiosos, religiosas e voluntários da “constelação de solidariedade” da Congregação Orionita de Gênova.

Em sua homilia aos milhares de fiéis presentes, o Papa citou as palavras de Jesus antes da sua Ascensão ao Céu: “Foi-me dado todo poder no céu e na terra”.
O poder de Jesus e a força de Deus são temas que permeiam as leituras da Liturgia de hoje sobre a Ascensão do Senhor. Mas, no que consistem esta força e este poder? Falando de poder de ligar o Céu e a Terra, o Papa respondeu: “Quando Jesus subiu ao Pai, a nossa carne humana cruzou o limiar da porta do Céu; a nossa humanidade está em Deus, para sempre. Deus jamais se separará dos homens. Jesus prepara o lugar para cada um de nós no Céu. Eis o poder de Jesus: manter-nos ligados com o Céu”.

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Porém, – acrescentou o Papa – este poder de Jesus não acaba com a sua Ascensão ao Céu, mas continua hoje e sempre: “Eu estarei com vocês até o fim do mundo”. Logo, Jesus está conosco e intercede por nós junto do Pai. Eis, então, que a palavra-chave do seu “poder” é “intercessão” por nós. E acrescentou: “Esta capacidade de interceder, Jesus deu também a nós, à sua Igreja, que tem o poder e o dever de interceder e rezar por todos. Ele é a nossa âncora! Na oração, confiamos o nosso mundo a Deus. Intercessão é caridade, é pedir, bater à porta, buscar e colocar-se em jogo. Logo, interceder, sem cessar, é a nossa primeira responsabilidade de cristãos; é a nossa missão!”.

Além da intercessão, o Papa acrescentou outra palavra-chave do poder de Jesus: o “anúncio”. O Senhor envia seus discípulos a anunciar a sua Mensagem, com o poder do Espírito Santo. Trata-se de um ato de extrema confiança. Ele confia em nós, apesar das nossas faltas e de não sermos perfeitos. Mas, podemos superar uma nossa grande “imperfeição”: o “fechamento”. E explicou: “O Evangelho não pode ser fechado e sigilado, porque o amor de Deus é dinâmico e deve chegar a todos. Para anunciar é preciso ir com confiança, sair de si mesmos, livres de qualquer tentação de comodismo. Com o Batismo, Jesus conferiu a cada um de nós o poder de anunciar. Eis a identidade do cristão!”.

O cristão – disse ainda Francisco – é um peregrino, um missionário, um maratonista esperançoso, confiante e ativo, criativo e respeitoso, empreendedor e aberto, laborioso e solidário. Com este estilo, como fizeram os discípulos, – frisou – o cristão deve percorrer as estradas do mundo transmitindo a Mensagem de Jesus, com a força límpida e mansa do seu alegre testemunho.

O Papa concluiu sua homilia pedindo ao Senhor a graça de dedicar-nos plenamente à urgente missão, trabalhando concretamente pelo bem comum e pela paz!

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TRABALHO É PRIORIDADE HUMANA

Ao chegar ao aeroporto da cidade de Gênova, Francisco foi recebido por autoridades religiosas, entre as quais o Cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo da cidade, e outros representantes políticos e civis de Gênova. A primeira atividade do Santo Padre, às 8h30, foi o encontro com o mundo do trabalho na Siderúrgica Ilva, a segunda mais importante indústria da Itália, depois de Taranto, no sul do país.

No encontro com os trabalhadores, o Papa respondeu espontaneamente a algumas perguntas que lhe foram dirigidas por um operário, uma desempregada, um empresário e um representante sindical.

O Santo Padre fez uma promessa: “O mundo do trabalho é uma prioridade humana. Portanto, é uma prioridade cristã, uma nossa prioridade; e também uma prioridade do Papa.” O Pontífice ressaltou que “sempre houve uma amizade entre a Igreja e o mundo do trabalho, começando por Jesus trabalhador. Onde há um trabalhador, ali há interesse e o olhar de amor do Senhor e da Igreja”, frisou.

O Papa falou também sobre as virtudes do empresário: “A criatividade, o amor pela própria empresa, a paixão e o orgulho pela obra de suas mãos, de sua inteligência e a dos trabalhadores. O empresário é a peça fundamental de toda boa economia: não há boa economia sem um bom empresário, sem a sua capacidade de criar, criar trabalho e criar produtos.”

Virtudes
“O importante é reconhecer as virtudes dos trabalhadores e das trabalhadoras. Trabalhadores e trabalhadoras devem fazer bem o seu trabalho, porque o trabalho deve ser bem feito. Às vezes se pensa que um trabalhador trabalha porque é bem pago: esta é uma grave falta de estima dos trabalhadores e do trabalho, pois nega a dignidade do trabalho que inicia com o trabalhar bem pela dignidade e pela honra”.

“O empresário verdadeiro conhece os seus trabalhadores, porque trabalha junto com eles, trabalha com eles. Não nos esqueçamos de que o empresário deve ser primeiramente um trabalhador. Se ele não tem esta experiência da dignidade do trabalho, não será um bom empresário. Partilha as fadigas dos trabalhadores e partilha as alegrias do trabalho, de resolver juntos os problemas, de criar algo juntos. Nenhum bom empresário ama demitir a sua gente.”

Para Francisco, “quem pensa de resolver o problema de sua empresa demitindo as pessoas, não é um bom empresário: é um comerciante. Hoje, vende a sua gente, amanhã, vende a sua dignidade”.

Especuladores
Segundo o Papa, “uma doença da economia é a transformação progressiva dos empresários em especuladores. O empresário não deve absolutamente ser confundido com especulador: são dois tipos diferentes. O especulador é uma figura parecida com aquela que Jesus no Evangelho chama de ‘mercenário’, em oposição ao Bom Pastor. O especulador não ama a sua empresa, não ama os trabalhadores, mas vê a empresa e os trabalhadores como meios para obter lucro. Demitir, fechar, mudar a empresa não criam nenhum problema para ele, porque o especulador usa, instrumentaliza, se alimenta de pessoas e meios para alcançar seus objetivos de lucro”.

“Quando a economia é habitada por bons empresários, as empresas são amigas das pessoas e também dos pobres. Quando passa para as mãos de especuladores, tudo se arruína. Com o especulador, a economia perde o rosto e os rostos. É uma economia sem vulto. Uma economia abstrata. Por trás das decisões do especular não há pessoas.”

“Às vezes o sistema político parece incentivar quem especula sobre o trabalho e não quem investe e acredita no trabalho. Por que? Porque cria burocracia e controles, partindo da hipótese de que os atores da economia sejam especuladores, e assim quem não é fica em desvantagem e quem é consegue encontrar os meios para evitar os controles e alcançar os seus objetivos. Sabe-se que os regulamentos e as leis pensadas para os desonestos terminam por penalizar os honestos. Hoje, existem verdadeiros empresários, empresários honestos que amam os seus trabalhadores, que ama a empresa, que trabalha junto com eles para levar adiante a empresa. Esses são os mais prejudicados pelas políticas que favorecem os especuladores, mas os empresários honestos e virtuosos vão adiante, não obstante tudo.”

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Democracia
O Papa citou uma frase de Luigi Einaudi, economista e presidente da República Italiana: “Milhares, milhões de indivíduos trabalham, produzem e economizam não obstante tudo o que nós podemos inventar para incomodá-los, fazê-los tropeçar e desencorajar. É a vocação natural que os impulsiona e não apenas a sede de lucro.”

“Tirar o trabalho das pessoas ou explorar as pessoas no trabalho indigno e mal pago é inconstitucional. Se a República Italiana não fosse fundada no trabalho não seria uma democracia”, disse o Papa.

Ainda citando a Constituição italiana, o Papa disse que “o trabalho é amigo do homem e o homem é amigo do trabalho e por isso não é fácil vê-lo como inimigo porque se apresenta como uma pessoa de família até mesmo quando nos fere. Homens e mulheres se nutrem com o trabalho e com o trabalho são ungidos de dignidade. Por esta razão, em torno do trabalho se edifica o pacto social porque quando não se trabalha ou se trabalha pouco, mal, ou muito, é a democracia que entra em crise.”

Dignidade
Respondendo à pergunta de uma desempregada, o Papa disse que “quem perde o trabalho e não consegue encontrar outro trabalho bom sente que perde a dignidade, como perde a dignidade quem é obrigado por necessidade a aceitar trabalhos ruins e errados. Nem todos os trabalhos são bons, existem trabalhos ruins, como o tráfico de armas, a pornografia, o jogo de azar, mas também o trabalho de quem não respeita os direitos dos trabalhadores, a natureza ou quem não coloca limites aos horários”.

“Nas famílias onde há pessoas desempregadas, nunca é realmente domingo e as festas se tornam às vezes dias de tristeza porque falta o trabalho na segunda-feira. Para celebrar a festa, é necessário celebrar o trabalho. Ao trabalhar nos tornamos mais pessoa, a nossa humanidade floresce, os jovens se tornam adultos somente trabalhando”.

“Um mundo que não conhece mais os valores e o valor do trabalho, não entende mais a Eucaristia, a oração verdadeira e humilde dos trabalhadores e trabalhadoras. Os campos, o mar e as fábricas sempre foram altares de onde se elevaram orações bonitas e puras, que Deus acolheu. Orações ditas por quem sabia e queria rezar, mas também orações feitas com as mãos, com o suor, com a fadiga do trabalho de quem não sabia rezar com a boca. Deus acolheu estas e continua acolhendo estas orações também hoje.”

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TESTEMUNHO É A CHAVE PARA VENCER A CRISE VOCACIONAL

Após o encontro com o mundo do trabalho, o Santo Padre se transferiu de automóvel para a Catedral de São Lorenço, em Gênova, onde manteve um encontro com os Bispos da região italiana da Ligúria, como também com o Clero, os Seminaristas, os Religiosos, Religiosas, colaboradores leigos engajados na Cúria e Representantes de outras Confissões Religiosas.

Antes de iniciar seu diálogo com a Igreja da Ligúria, o Papa rezou pelos cristãos coptas assassinados no Egito na manhã de sexta-feira: “Rezemos pelos coptas egípcios assassinados, porque não quiseram renegar a sua fé”, disse Francisco.

Neste encontro, o Papa também respondeu às perguntas de quatro religiosos: três sacerdotes e uma religiosa. “Se imitarmos o estilo de Jesus, faremos bem o nosso trabalho como pastores. Este é o crédito fundamental: o estilo de Jesus. Como foi o estilo de Jesus como pastor? Jesus estava sempre em caminho. Os Evangelhos nos fazem ver Jesus sempre em caminho, no meio das pessoas, da multidão.”

Movimento
“Jesus nunca ficou parado e como todos aqueles que caminham, Jesus era exposto à dispersão, a ser fragmentado. Não devemos ter medo do movimento e da dispersão de nosso tempo. Mas o medo maior ao qual devemos pensar, que devemos imaginar é o de uma vida estática”, disse o Papa aos religiosos.

“De uma vida de sacerdote que tem tudo bem resolvido, tudo em ordem, estruturado, tudo está no próprio lugar, com os seus horários de abrir e fechar a secretaria. Tenho medo do sacerdote estático. Tenho medo, também quando é estático na oração, eu rezo de tal hora a tal hora. Uma vida estruturada dessa maneira não é uma vida cristã.”

Abertura
O Papa disse que Jesus sempre foi um homem que estava nas ruas, um homem que caminhava, um homem aberto às surpresas de Deus. “O sacerdote que tem tudo planificado, tudo estruturado, geralmente é fechado para as surpresas de Deus e perde aquela alegria da surpresa do encontro.”

“O Pároco não pode ter um estilo de empresário. Deve estar com as pessoas, estar com o Pai. No encontro com o Pai e o encontro com os seus fiéis, se vive esta tensão: tudo deve ser vivido nesta chave do encontro”, sublinhou.

O Santo Padre disse que os sacerdotes devem se perguntar: “Sou um homem de encontro? Sou um homem do Tabernáculo? Sou um homem da rua? Sou um homem de ouvido, que sabe escutar? Jesus tinha uma consciência clara de que a sua vida era para os outros: para o Pai e para as pessoas, não para si mesmo. Ele se doava às pessoas, se doava ao Pai na oração. Ele viveu a sua vida em chave de missão: sou enviado pelo Pai para dizer estas coisas”.

Murmurações
É preciso deixar-se “olhar pelo Senhor” quando estamos diante do Tabernáculo, sem rezar “como um papagaio”. “Sem a relação com Deus e com o próximo nada tem sentido na vida de um sacerdote. Talvez fará carreira, mas o coração permanecerá vazio.”

O Santo Padre frisou ainda que as murmurações destroem a fraternidade sacerdotal e chamou a atenção para o risco da autossuficiência de ser um sacerdote Google ou Wikipédia que pretende saber tudo.

“O maior inimigo da fraternidade sacerdotal é este: a murmuração por causa da inveja, os ciúmes. Quanto mais formos fechados em nossos interesses, mais criticaremos os outros.”

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Disponibilidade
O Papa disse ainda aos religiosos que é preciso ver o carisma “encarnado nos lugares concretos” para amar as pessoas concretas. Uma concretude que requer disponibilidade: “A disponibilidade de ir aos locais onde há mais risco, onde mais precisa, para doar o carisma e inserir-se onde mais precisa. A palavra que uso muitas vezes é periferia, mas digo todas as periferias, não somente a pobreza: todas. Até mesmo a do pensamento.”

Por fim, o Papa abordou o tema da crise vocacional. Disse que existe uma crise que afeta toda a Igreja, todas as vocações, também o matrimônio. “É preciso perguntar ao Senhor o que fazer, o que mudar: Aprender dos problemas e buscar uma resposta.” Falou também sobre o estar atento aos fenômenos graves como o “tráfico de noviças”, “um escândalo”.

Testemunho
“Para aumentar as vocações é preciso investir no testemunho, testemunho da alegria e na maneira de viver”. Testemunhar o que Jesus fez. A mundanidade, o contratestemunho provocam certas crises vocacionais.”

Segundo o Papa, “é necessária uma conversão pastoral, uma conversão missionária. Convido todos a ler os trechos da Evangelii gaudium que fala sobre isso, sobre a necessidade de conversão missionária. Este é o testemunho que atrai vocações. O testemunho é a chave para vencer a crise vocacional. Um testemunho que não precisa de palavras, mas que através do amor saiba atrair as pessoas”.

ENCONTRO COM OS JOVENS

O Papa Francisco encontrou-se, no final da manhã deste sábado (27/5), no Santuário de Nossa Senhora da Guarda, em Gênova, com os Jovens da Missão Diocesana. O encontro foi acompanhado pela televisão pelos presos do Cárcere da Cidade.

Após ter feito um breve Ato de Consagração a Nossa Senhora e após as palavras de saudação do Cardeal Angelo Bagnasco, quatro jovens, duas moças e dois rapazes, pediram conselhos ao Papa.

Respondendo à representante da Missão Diocesana, que tem como título “A Alegria plena”, Francisco deu algumas sugestões de como ser missionários, sobretudo entre os seus coetâneos que vivem em situações difíceis.

Recordando que a experiência da Missão é seguir o Senhor, dando aos outros respostas concretas que tocam o coração, Francisco disse que a missão deve ser transformadora. E acrescentou: “Mas há também outro tipo de transformação que muitas vezes não se vê, que é oculta, que nasce na vida de cada um de nós: é a missão; ser missionários nos leva a olhar a nossa realidade com os olhos de Jesus”.

De fato, a experiência missionária – explicou ainda o Papa – abre nossos olhos e nossos corações; não devemos olhar os outros como turistas, com superficialidade. A missão nos aproxima das pessoas, às quais devemos falar com autenticidade e transparência; não devemos ser hipócritas, pois a hipocrisia é um suicídio.

É Jesus que nos envia à missão. Por isso, somos transformados e damos testemunhos da sua Palavra. A missão, além da transformação, também é fraternidade, purificação. Enfim, respondendo ainda às questões levantadas pelos jovens, o Santo Padre disse que “ser missionários entre os coetâneos é amá-los, olhar em seus olhos, dar-lhes a mão e esperança como se fossem o próprio Jesus.

ENCONTRO COM CRIANÇAS EM HOSPITAL

O penúltimo encontro que o Papa manteve em sua Visita Pastoral a Gênova foi com as Crianças das várias repartições do Hospital Pediátrico “Giannina Gaslini” e com o pessoal que se dedica, há mais de 80 anos, à assistência da infância.

Em sua breve saudação, Francisco recordou, inicialmente, a função especial deste conhecido Hospital, fundado pelo Senador Gerolamo Gaslini, em honra da sua filha morta em tenra idade: continuar sendo símbolo de generosidade e solidariedade com base na fé católica.

A seguir, detendo-se no aspecto do sofrimento das crianças, que não é fácil aceitar, o Pontífice disse que “a fé sem a caridade é morta”.
Por fim, Francisco encorajou os presentes a desempenhar esta nobre obra com caridade, como “bons samaritanos”, atentos às necessidades dos pequenos pacientes e das suas fragilidades”.

O Papa Francisco assinou o Livro de honra do Hospital Pediátrico “Giannina Gaslini” e escreveu as seguintes palavras: “A todos aqueles que trabalham neste hospital, onde a dor encontra ternura, amor e cura, agradeço de coração pelo seu trabalho, sua humanidade e pelo carinho a muitas crianças que, desde pequenas, carregam a cruz. Com admiração e gratidão. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim.”


Cobertura jornalística da Rádio Vaticano