Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Papa Francisco: o pontífice que humanizou a Igreja

30/04/2025

Notícias

A voz daquele que tantas vezes clamou por paz, por compaixão e por um mundo mais fraterno silenciou-se na segunda-feira, dia 21 de abril. A morte do Papa Francisco repercutiu em todo o mundo; autoridades civis e eclesiásticas lamentaram com profunda tristeza a partida do Santo Padre. O assunto tomou as ruas, os noticiários e as redes sociais. Partindo de diferentes lugares e classes sociais, muitas foram as homenagens dirigidas ao “Pontífice do fim do mundo”.

Para Dom Cristiano Souza, OSB, monge beneditino, prior do Mosteiro Monte Avellana, na Itália, e que esteve muitas vezes com o Pontífice, Francisco foi um homem apaixonado por um projeto manifestado na pessoa de Jesus de Nazaré. “Francisco propôs uma conversão estrutural da Igreja. Para isso, é preciso ter coragem de fazer rupturas para que o Evangelho possa voltar a ser o centro, e não marginalizado. Acho que a Igreja se tornou muito religiosa e pouco evangélica. E Francisco conseguiu retomar um caminho de conversão evangélica das estruturas. Era uma proposta daquele ensaio teológico de Leonardo Boff, que foi perseguido por causa disso. E Francisco fez de maneira muito tranquila, serena e propositiva. E isso não é outra coisa senão humanizar a Igreja, humanizar nossas relações, humanizar a hierarquia da Igreja – que é necessária e precisa ser humanizada”, afirmou.

Outro aspecto destacado por Dom Cristiano é a simplicidade do Papa Francisco. “Sendo sucessor de Pedro, a mim me impressionou a sua simplicidade de ser um homem normal. Basta ver as imagens, a linguagem não-verbal no pontificado de Francisco fala muito mais do que suas palavras. Quando ele foi para o Brasil em 2013, na Jornada Mundial da Juventude, vimos ele carregando a sua própria maleta, já bem gasta. A cena gerou uma curiosidade sobre o que ele carregava. Ele falou: barbeador, um livro, escova de dentes. Ele era um homem de normalidade, de vida normal, de ser humano, que não tinha medo de errar e, quando errava, pedia desculpas. Acho que essa mensagem fica clara na vida desse homem. Ele despetrificou, descristalizou o papado”, sintetiza o prior.

Em entrevista à Rádio Frei Galvão, Frei Augusto Luiz Gabriel, OFM, presidente da Fundação Frei Rogério, destacou a ousadia do Papa Francisco na área da comunicação. “Nestes 12 anos de pontificado, ele tornou a Igreja mais próxima de todos, inclusive em relação ao uso da comunicação na sociedade e da Igreja. Ele fez um apelo convidando todos para não ter medo de se tornarem cidadãos do mundo digital. Recebemos a notícia com muita tristeza, mas também sabendo que aquilo que o Papa Francisco construiu, esta Igreja em saída, não tem como não voltar atrás”, celebrou o frade.

Dom Frei João Bosco, bispo de Osasco, denominou o sentimento como uma tristeza alegre. O bispo recordou ainda que no dia do falecimento do Santo Padre, é celebrado em Roma o dia do anjo. Muito emocionado, o franciscano afirmou: “O anjo da Páscoa veio avisar o mundo que houve a ressurreição do Papa Francisco”.

Para Dom Bosco, o pontífice se destacou por suas inovações e, ao mesmo tempo, por sua simplicidade e espontaneidade. “Ele tinha uma fidelidade muito grande à tradição da Igreja, especialmente ao Concílio Vaticano II e, ao mesmo tempo, com tantas inovações. Esta proximidade com o povo é uma delas. Ele foi o único que teve uma conversa franca com os jornalistas, sempre respondendo com muita clareza todas as perguntas, até as mais complexas”, recordou o bispo franciscano.

Um canto de louvor à Irmã Morte

Frei César Külkamp, definidor geral da Ordem dos Frades Menores, falou sobre a herança franciscana recuperada pelo pontificado do Papa Francisco e recordou que a morte do pontífice acontece no ano em que o Cântico das Criaturas celebra 800 anos.

“No momento da sua morte, São Francisco pediu que os frades cantassem, que não fosse um momento de derrota, mas a coroação de todo um projeto de vida, no encontro com o Pai. E assim nós também vemos a morte do nosso querido Papa Francisco. É um momento de gratidão por essa bela missão que foi o seu pontificado, por ter escolhido o nome de Francisco, uma inspiração para toda a Igreja. Ele buscou aquilo que é mais fundamental da espiritualidade e do pensamento franciscano e os transformou em um projeto de Igreja. São Francisco não queria outra coisa do que a fidelidade ao Evangelho, e justamente o Papa Francisco buscou estes elementos na espiritualidade, tornando-os muito presentes nos seus escritos”, destacou o religioso.

O discernimento inaciano no coração da Igreja

Francisco foi o primeiro em muitos aspectos, o primeiro Papa com o nome do Santo de Assis, o primeiro a ter uma conta no Instagram, o primeiro papa latino-americano e o primeiro papa jesuíta. Para Pe. Carlos Alberto Contieri, sacerdote da Companhia de Jesus da Província do Brasil e diretor do Pateo do Collegio, em São Paulo (SP), a espiritualidade inaciana permeou todo o pontificado de Francisco. “Os Sínodos convocados, até mesmo o tema da Sinodalidade, em primeiro plano está a escuta em vista do discernimento, que é um tema tipicamente inaciano. O papa utilizava os elementos da espiritualidade inaciana, sem, contudo, mencioná-la e para o bem de toda a Igreja, porque, em última instância, a espiritualidade inaciana é um patrimônio da Igreja, assim como a espiritualidade das diferentes e mais diversas ordens religiosas. Francisco foi alguém que não falava só para dentro da Igreja. A palavra do Papa Francisco era para a humanidade inteira. Basta mencionarmos as grandes Encíclicas do Papa: Evangelii Gaudium, Laudato Si’ e Fratelli Tutti. O Papa alertou o mundo para as grandes questões climáticas e depois, na Encíclica Fratelli Tutti, chamou a atenção para a urgência de uma fraternidade universal ou uma amizade social, que seja capaz de criar na humanidade pontes de reconciliação no mundo marcado por tantas tensões, por tantos conflitos, por tantas guerras”, pontuou o jesuíta.

Um coração jovem para uma Igreja jovem

Dom Vilsom Basso, bispo de Imperatriz (MA) e bispo referencial da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que o Papa Francisco foi a encarnação do Evangelho nos dias atuais. “Um homem que impressionou a Igreja Católica e a humanidade por sua presença corajosa, misericordiosa e profética, ao antever mudanças por onde o mundo estaria passando, por exemplo, as crises climáticas, quando manifestou grande preocupação na encíclica Laudato Si’ há 10 anos.

Para o bispo, o pontífice tinha um carinho e um olhar de esperança para a juventude. “Ele carregava os sentimentos que nós, que trabalhamos com jovens, temos: precisamos formar as novas gerações com os valores do Evangelho, de respeito às pessoas e à Casa Comum”, afirmou.

Dom Vilsom recordou com alegria dois momentos em que esteve muito próximo, no convívio diário com o Papa Francisco. “Em 2018, no Sínodo dos Jovens, fiquei hospedado na Casa Santa Marta, a residência do Papa, e pude conhecê-lo mais de perto, fazendo as refeições no mesmo local e depois, desfrutando de sua presença nas salas sinodais. Carrego no coração imagens muito fortes, muito bonitas, do Papa Francisco. Que se renovaram em 2019, no Sínodo para a Amazônia. Sou um privilegiado, tive a graça de participar de dois sínodos com o Papa Francisco e carrego no coração a imagem de um homem simples, totalmente tomado por Deus, pela espiritualidade, pela fé, que semeou a esperança. Só podia ser este o tema deste Ano Santo. Ele deixa plantada em nós a semente da Esperança e somos muito felizes por sermos parte desta história”, celebrou Dom Vilsom.


Érika Augusto, Rádio Frei Galvão – Guaratinguetá (SP)

As entrevistas foram concedidas à Rádio Frei Galvão FM nos dias 21 e 24 de abril. Ouça na íntegra em radiofreigalvao.org.br