Ordenação do Frei António Boaventura Zovo Baza
05/01/2015
No dia 9 de janeiro, dia do Batismo do Senhor, a equipe de preparação da ordenação sacerdotal de Frei António, formada por Frei Vialino Piaia, Frei Afonso, Frei Chincocolo, Frei José, Frei Fábio e pelos jovens Edson e Filipe da JUFRA de Viana, chegava ao povoado de Subantando, que significa “cara da planície”. Subantando localiza-se a 18 km de Cabinda, uma das províncias de Angola mais ricas em petróleo e diamante. Fomos muito bem acolhidos pelo pároco da paróquia N. S. de Fátima, Pe. Carlos Bambi. Os preparativos, durante a semana, tiveram a participação de muita gente e estavam a todo vapor: as “mamás” com catanas e enxadas a capinar e a limpar. Os pintores, embelezando todo o ambiente e até os “palmadores” a subir, à maneira africana, até o topo das palmeiras para colher o dendê, a bebida chamada “Matchenvo”, e a podar as folhas. O coral, com 150 vozes a ensaiar os cantos. Toda a estrutura de altar, toldos, tornaram o campo de futebol um ambiente bonito e litúrgico. Neste sentido, queremos destacar a figura de Pe. Carlos que, com seu dinamismo e liderança, não deixou faltar nada.
O primeiro dia de preparação iniciamos na matriz, com as laudes e missa. Em seguida, e após o “mata bicho”, nos dirigimos à aldeia de Champuto Rico. Recordando o nosso interior, lá estava a pequena comunidade a nos esperar. A celebração foi dinâmica e bilíngue: português e ibinda, língua local. A alegria de todos era visível, pois era o primeiro filho da região a ser sacerdote.
No segundo dia dos preparativos, na matriz, Frei António fez o juramento de fidelidade. Igreja lotada, desde cedo, atenta à leitura do juramento de Frei António. Neste dia a aldeia visitada foi Banda Gembo. Frei Afonso presidiu e deu à missa um cunho vocacional, destacando o chamado de Frei António que, como Samuel, várias vezes, perguntou a Eli: Me chamastes? No final do dia ainda fizemos uma caminhada até a fonte de água que abastece a vila de Subantando. Foi um exercício grande, pois a descida era bem íngreme. Durante a caminhada, ainda no asfalto, Frei António nos relatou que no tempo da guerra ele e mais uns quinze jovens foram “rusgados” pela tropa e depois colocados sentados na pista e levaram uma rajada de tiros, mas, por sorte do destino e proteção de Deus, não foram atingidos.
No terceiro dia de preparação da Ordenação, durante a missa da manhã, na matriz, Frei António fez a Profissão de Fé diante da comunidade e de testemunhas. Após a missa na matriz, visitamos a aldeia de Chibodô, que tem como padroeiro Santo António. Com a comunidade toda presente para a Celebração Eucarística, a equipe destacou que a vida e a busca da vocação, às vezes, é uma verdadeira luta, como nos relata a leitura do livro de Samuel. Os trabalhos da manhã foram concluídos com uma entrevista para a TV Pública de Angola (TPA).
No quarto dia de preparação da ordenação, após os compromissos na Matriz, nos dirigimos à aldeia de Luavo e houve a missa e pregação vocacional. Foi grande a alegria das crianças que foram ao nosso encontro e nos acompanharam, a pé e cantando hinos típicos. Ainda pela parte da manhã, por ser próximo da fronteira do Congo Democrático, acompanhados pelo catequista regional, fizemos um rápida visita à feira instalada entre os dois países (Angola e Congo Democrático). Pela parte da tarde, antes da visita ao bispo diocesano, Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias, a equipe esteve na fronteira do Congo Brazavil. Todos os dias, após a missa eram visitadas e abençoadas as casas da aldeia, que sempre são próximas da capela. Por parte das comunidades das aldeias era grande a alegria pela ordenação. Todos os dias éramos acompanhados pelos acólitos da paróquia e pelo catequista animador das aldeias. Em todas as aldeias, após a missa e bênção às casas, tomávamos uma refeição oferecida pela comunidade.
O quinto dia foi reservado somente para a matriz. Na missa da manhã, presidida por Frei Angelo José Luiz, Presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, Frei António leu e assinou a declaração de que iria receber de livre e espontânea vontade a Ordenação Presbiteral. Após a missa, a equipe missionária atendeu confissões, visitou e deu bênção nas casas. Após os trabalhos do dia ainda tivemos forças, juntamente com as equipes de trabalho, de assistir ao filme Irmão Sol, Irmã Lua.
Ordenação
No domingo, dia quinze de janeiro de 2012, desde muito cedo, aconteciam os últimos preparativos. O povo ia chegando das aldeias de caminhão, candongas, ônibus, carros particulares, motos, uma verdadeira romaria. Calcular os presestes é sempre um risco. Com certeza estavam presentes acima de quantro mil pessoas. Coube a Frei Piaia e ao Pe. Cuebo a animação da ordenação, bilíngue: Português e Ibinda. Destaca-se: “Reunidos e unidos em Subantando – Cabinda, para participar da Ordenação Sacerdotal do primeiro filho daquela Comunidade Paroquial, Frei António, Franciscano da Ordem dos Frades Menores. Esta ordenação sacerdotal foi sonhada e esperada pela família do Senhor Eduardo e Teresa Baza. Foi sonhada e esperada pela paróquia N. S. Fátima. Foi sonhada e esperada pela Igreja de Cabinda. Esta ordenação foi sonhada e esperada por muitos. Neste dia, o sonho e a espera tornam-se realidade. É o segundo “Filho” (frade) que a Fundação Imcaulada Mãe de Deus de Angola apresenta para a Ordenação Sacerdotal. Ao completarmos 22 anos de presença em Angola, estamos felizes com este acontecimento”. Foi com essa motivação que iniciou-se a missa de ordenação.
O coral, com 150 vozes, animou a celebração que contou com a presença de sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, vocacionados da diocese, e de várias congregações. Dom Filomeno, de início, destacou: “… é importante estarmos aqui, pois Subantando tem a graça desta grande celebração”. Coube a Frei Angelo apresentar o candidato ao ministério sacerdotal ao senhor Bispo. Frei António disse “presente” e acompanhado de seus pais, levantou-se do meio da assembleia, e entoou o hino“Eis-me aqui, Senhor”, em Ibinda. Momento lindo. Abraça seus pais e se coloca diante do bispo. Na sua homilia, Dom Filomeno enfatizou o rito da Ordenação Presbiteral. A cada parte, bem explicada, fazia uma aplicação à vida do padre no seu dia a dia. No momento da ordenação, como sinal de agradecimento, um grupo da cultura tradicional, com seus berrantes, anunciava a alegria de se ter um sacerdote ungido e confirmado. Concluída a ordenação, Frei António foi conduzido, por Frei Angelo e Padre Carlos (pároco), pelo meio da assembléia que não parava de aplaudir. Foi um momento muito emocionante. A tâmbula estava repleta com muitos presentes para Frei António, bem como produtos da terra e símbolos. O mais expressivo dos símbolos foi “o arco usado pelos “palmadores” para subir nas palmeiras e colher líquidos e frutos. Essa atividade é muito típica da região. E assim prosseguiu a missa com a apresentação das oferendas.
Agredecimentos: Frei Angelo falou em nome da Fundação e destacou: “Somos gratos a Dom Filomeno por aceitar ordenar Frei António. O Bispo nos garantiu que a paróquia N. S. de Fátima daria todo o apoio. Isso foi uma realidade que todos podemos ver e sentir. Quero manifestar, em nome da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, a minha gratião ao Pe. Carlos Bambi pelo belíssimo trabalho onde tudo saiu maravilhosamente bem…”. Padre Carlos, em nome da paróquia, também agradeceu a presença de todos e deu os informes de como continuariam os festejos. Frei António, por sua vez, agradecu a todos. Destacamos parte de sua fala: “O Senhor conceda graças e bênçãos àqueles que, direta ou indiretamente, deram de si para que este dia se transformasse num projeto realizado, em que a entrega total e definitiva ganhasse corpo no ministério sacerdotal. Tendes a certeza de que recebereis o que vos está reservado da parte do Senhor; porquanto atendestes ao Seu solidário pedido expresso na parábola do bom samaritano: cuida bem dele, e o que gastares a mais, eu pagar-to-ei quando voltar (Lc 10,35).
Do pressuposto de que “não se alcança o mérito sem batalha”, também este milagroso acontecimento resultou de vários sacrifícios; pois, ao longo do percurso não faltaram lágrimas e lamentações, desprezos e abandonos, humilhações e zombarias; mas, como diz S. Paulo: nada nos separará do amor de Cristo: nem a tribulação, nem angústia, nem a perseguição, nem a fome e nem a nudez (Rm 8,35).
Aos meus pais e familiares que são a fonte e a razão do meu “sim” ao serviço do Reino e do Evangelho, superiores e formadores, vai o meu eterno reconhecimento; graças a Deus, por seu intermédio, sou constituído ministro da Sua vinha. Obviamente sejam reconhecidos, pois deram de si, esvaziaram-se para enriquecer o alfobre do viveiro… Uma palavra digna de menção dirige-se ao benemérito e inefável, Reverendíssimo Pe. Carlos Bambi, pelo grandioso apoio em ambas dimensões, quer material, quer espiritual, que se empenhou com todas as forças…”
Festa
Após a missa de ordenação, Frei António recebeu os abraços de todos numa grande fila. Em seguida, o neo-sacerdote foi carregado num “andor” até o local da festa, numa grande caravana, cantando. Foi um momento, diríamos “espetacular”. Durante o almoço, que foi servido para todos, numa grande área com belas árvores nativas, grupos folclóricos se apresentavam. O ponto alto foi os Bakamas, que só aparecem em grandes acontecimentos. São sete personagens míticos, da cultura tradicional. Imagine alguém revestido de folhas de bananeria, com máscaras simbólicas, panos e sem mostrar nada do corpo. As fotos são proibidas. No final da sua apresentação, eles fizeram reverência ao neo-sacerdote, como sinal de que eles aceitam e respeitam a autoridade do padre.
Concluímos pedindo ao Senhor que proteja e abençoe os 17 frades da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. Que proteja e abençoe os 5 frades estudantes, em formação. Que a Mãe de Angola ampare os 5 noviços e os mais de 40 seminaristas, nas suas diversas etapas de formação. Afirmamos: Foi com grande alegria e emoção que participamos desta ordenação. Foi uma grande semana, uma grande celebração, uma grande ordenação e uma grande festa. Grande em vários sentidos: espiritual, preparação externa, acolhida, ambiente, alegria, organização, disponibilidade da comunidade… Parabéns Subantando! Parabéns Pe. Carlos Bambi! Parabéns Frei António! Parabéns Cabinda! Obrigado, Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola! Obrigado, Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil! Obrigado, Irmãs Prediletas de Jesus! Obrigado, Eduardo e Teresa Zovo Baza! Mkuaça, buela mkuaça (palmas, muitas palmas).
Frei Vitalino Piaia
Na íntegra – PALAVRAS DE AGRADECIMENTO POR OCASIÃO
DA ORDENAÇÃO PRESBITERAL DE FREI ANTÓNIO
Vossa Excelência Reverendíssima Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias, bispo da Diocese de Cabinda, presidente desta celebração.
Reverendo Frei Angelo José Luiz, delegado do Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil e Presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola.
Reverendo Pe. Dr. Carlos Bambi, pároco da circunscrição que nos acolhe.
Magníficos reitores: do Seminário Maior de Luanda, Pe. Dr. António Afonso Rodrigues e Pe. José Bassanza, do Seminário Menor de Cabinda.
Vossa Excelência sr. Maweto João Baptista, digníssimo Governador da Província de Cabinda.
Vossa Excelência Sr. Bento Bembe, ilustre secretário do Estado pelos direitos humanos, Sr. Francisco Tanda, administrador municipal de Cabinda, e demais entidades governamentais e autoridades tradicionais.
Diletos confrades, sacerdotes diocesanos, religiosos e religiosas de diversas congregações, caros amigos, ilustres colegas e seminaristas.
Distintos convidados,
Santo Povo de Deus,
PAZ E BEM!
Eis-nos hic et nunc, para neste dia saborearmos o quanto é belo estarmos reunidos sob este teto de Cabinda por causa do Amor de Deus: é graça, é amor, e é providência divina.
O homem, no seu percurso, é chamado a abandonar-se nas mãos de Deus para que conheça a verdade: a Verdade Deus, a Verdade Cristo, a Verdade Espírito Santo. É, pois, esta Verdade trinitária que, no nosso rosto sorridente e afável, vai distribuindo a suave fragrância do amor de Deus para os irmãos, através desta magnífica celebração.
O Senhor conceda graças e bênçãos àqueles que, direta ou indiretamente, deram de si para que este dia se transformasse num projeto realizado em que a entrega total e definitiva ganhasse corpo no ministério sacerdotal. Tendes a certeza de que recebereis o que vos está reservado da parte do Senhor; porquanto atendestes ao Seu solidário pedido expresso na parábola do bom samaritano: cuida bem dele, e o que gastares a mais, eu pagar-to-ei quando voltar (Lc 10,35).
Do pressuposto de que “não se alcança o mérito sem batalha”, também este milagroso acontecimento resultou de vários sacrifícios; pois, ao longo do percurso não faltaram lágrimas e lamentações, desprezos e abandonos, humilhações e zombarias; mas, como diz S. Paulo: nada nos separará do amor de Cristo: nem a tribulação, nem angústia, nem a perseguição, nem a fome e nem a nudez (Rm 8,35).
Aos meus pais e familiares que são a fonte e a razão do meu sim ao serviço do Reino e do Evangelho, superiores e formadores vai o meu eterno reconhecimento; graças a Deus, por seu intermédio, sou constituído ministro da Sua vinha. Obviamente sejam reconhecidos, pois deram de si, esvaziaram-se para enriquecer o alfobre do viveiro. E como dizia o Papa Gregório Magno,“desprezaram o que eles mesmos sofreram e preocupam-se para que, os discípulos não sofram em, seu interior, desvio algum. Desprezaram em si as feridas dos seus corpos e curaram aos seus formandos as feridas do coração; enquanto sofriam com paciência os seus próprios tormentos, continuavam a instruir o seu próximo, como os médicos magnânimos quando eles próprios estão doentes: suportam os golpes dolorosos das suas feridas e proporcionam os remédios necessários para a saúde dos outros”.
A verdade dita, o reluzir do dia e da vida, clamando que tudo seja feito e conduzido à base da humildade, da simplicidade e da bondade; a vós, Sr. (s). Bispo (s), superiores, colegas, santo Povo de Deus peço que me ajudeis a delinear os meus passos sacerdotais, ainda franzidos, nos prumos das citadas virtudes.
Uma palavra digna de menção dirige-se ao benemérito e inefável, Reverendíssimo Pe. Carlos Bambi pelo grandioso apoio em ambas dimensões, quer material, quer espiritual, que se empenhou com todas as forças, ao ponto de esquecer-se de si, dispensando os seus momentos de descanso e tantos outros trabalhos que teve que deixar de lado, priorizando este evento, e pelo acolhimento dos que vieram de outras localidades, dentro e fora do país.
Excelentíssimas Irmãs Prediletas de Jesus, que fizeram da noite e dia como um horário único de labor, sabemos que as nossas palavras não são suficientes para dizermos muito obrigado, porém, o nosso Deus a quem nada escapa recompensar-vos-á com a sua bênção e graça. Ilustres benfeitores que tudo fizestes para que a nossa festa acontecesse de forma maravilhosa, recebam do fundo do nosso coração a nossa gratidão; permitam-nos destacar o Sr. Francisco Tando, digníssimo administrador municipal de Cabinda e o seu executivo que dedicadamente orienta; a Dra. Lina Sambo, que durante os preparativos deste evento honrou-nos com a sua presença, trabalhando junto às irmãs na disponibilidade de apoiar-nos em situações que evocam a intervenção médica; às forças de segurança dirigimos o nosso agradecimento, porque a sua presença nos oferece tranquilidade e ordem; à pessoa da Senhora Angelina Teresa Essinda Tchamwenho, pela sua entrega e ajuda, à comunicação social que, no anterior e neste momento, nos faz presente em todo território nacional pela televisão pública de Angola e a Rádio Nacional, seja abençoado o vosso trabalho.
Ao estimado confrade Gabriel Tchivela, OFMCap, que foi o pregador do retiro alusivo à minha ordenação, o meu seráfico agradecimento. Ao Revendo Pe. Bassanza, cerimoniário, e ao grupo coral que, pelas suas harmoniosas melodias, tornam brilhante a nossa bela celebração, o nosso muito obrigado.
Aos seminaristas: não tendes vergonha de assumir Cristo nas vossas vidas, tal como dizia o Papa Bento XVI, quando da sua visita ao nosso País: Cristo seja sempre a razão do vosso existir. As dificuldades existem e existirão sempre e sempre por causa da limitada estrutura ôntico-humana, mas como diziam os grandes embondeiros da história da humanidade, “é subindo aos ombros dos mais velhos que se pode olhar mais além”. Colocai-vos, pois, nas mãos do divino Mestre que Ele saberá acudir-vos em momentos difíceis.
A todos aqui presentes, as vossas orações se elevem ao meu e ao nosso favor, para que possamos alcançar a santidade de vida. Assim alcançaremos a glória e cantaremos os nossos louvores diante do Senhor Criador. Queridos irmãos e irmãs, ajudai-me a viver santamente este sagrado ministério, para que, assim, consiga fazer santo o Povo que a mim for confiado.
Que dizer mais ainda? Esgotaram-se as palavras, mas num olhar terno e alimentado pelo Espírito Divino, digo afavelmente: O MEU ETERNO RECONHECIMENTO.
Frei António Boaventura Zovo Baza