Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O Papa reza pelos enfermeiros, exemplo de heroísmo. A paz de Jesus nos abre aos outros.

12/05/2020

Papa Francisco

Cidade do Vaticano – O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta terça-feira (12/05) da V Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento aos enfermeiros:

Hoje é o Dia dos enfermeiros. Ontem enviei uma mensagem. Rezemos hoje pelos enfermeiros e enfermeiras, homens, mulheres, rapazes e moças que têm essa profissão, que é mais que uma profissão, é uma vocação, uma dedicação. Que o Senhor os abençoe. Neste tempo da pandemia deram exemplo de heroísmo e alguns deram a vida. Rezemos pelas enfermeiras e enfermeiros.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia (Jo 14,27-31) em que Jesus diz a seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo”.

“O Senhor, antes de os deixar, saúda os seus e dá o dom da paz, a paz do Senhor”, disse o Papa. “Não se trata da paz universal, aquela paz sem guerras que todos nós gostaríamos que sempre existisse, mas a paz do coração, a paz da alma, a paz que cada um de nós tem dentro de si. E o Senhor a dá, mas – ressalta –, não como a dá o mundo.” Trata-se de pazes diferentes.

“O mundo – observou Francisco – dá a você paz interior”, a paz da sua vida, este viver com o coração em paz, “uma posse sua, como uma coisa que é sua e isola você dos outros” e “é uma aquisição sua: tenho a paz. E você, sem se dar conta, se fecha naquela paz, é uma paz um pouco para você” e o torna tranquilo e mesmo feliz, mas “o adormenta um pouco”, o anestesia e o faz permanecer consigo mesmo”: é “um pouco egoísta”. O mundo dá a paz desse modo. E é “uma paz cara porque você deve mudar continuamente os instrumentos de paz: quando uma coisa o entusiasma, uma coisa lhe dá a paz, depois acaba e você deve encontrar outra… É cara porque é provisória e estéril”.

“Ao invés, a paz que Jesus dá é outra coisa. É uma paz que coloca você em movimento, não o isola, o coloca em movimento, faz você ir ao encontro dos outros, cria comunidade, cria comunicação. A paz do mundo é dispendiosa, a de Jesus é gratuita, é grátis: a paz do Senhor é um dom do Senhor . É fecunda, leva você sempre avante. Um exemplo do Evangelho que me faz pensar como é a paz do mundo é aquele senhor que tinha os celeiros repletos” e pensou construir outros armazéns para depois viver finalmente tranquilo. “Insensato, diz Deus, este noite tu morrerás”. “É uma paz imanente, que não lhe abre a porta para o além. Ao invés, a paz do Senhor” é “aberta ao Céu, é aberta ao Paraíso. É uma paz fecunda que se abre e leva também outros com você ao Paraíso”.

O Papa convidou a ver dentro de nós qual é a nossa paz: encontramos a paz no bem-estar, na posse e em tantas outras coisas ou encontro a paz como dom do Senhor? “Devo pagar a paz ou a recebo grátis do Senhor? Como é a minha paz? Quando me falta algo, fico furioso? Esta não é a paz do Senhor. Esta é uma das provas. Estou tranquilo na minha paz, me adormento? Não é do Senhor. Estou em paz e quero comunicá-la aos outros e levar algo avante? Essa é a paz do Senhor. Mesmo nos momentos ruins, difíceis, permanece em mim aquela paz? É do Senhor. E a paz do Senhor é fecunda também para mim porque é repleta de esperança, isto é, olha para o Céu.”

O Papa Francisco contou ter recebido ontem uma carta de um bom sacerdote que lhe disse que ele fala pouco do Céu, que deveria falar mais do Céu: “E tem razão, tem razão. Por isso hoje eu quis ressaltar isto: que a paz, esta que o Senhor nos dá, é uma paz para agora e para o futuro. É começar a viver o Céu, com a fecundidade do Céu. Não é anestesia. A outra, sim: você se anestesia com as coisas do mundo e quando a dose dessa anestesia acaba, toma outra, depois outra, depois outra… Essa é uma paz definitiva, também fecunda e contagiosa. Não é narcisista, porque sempre olha para o Senhor. A outra olha para você, é um pouco narcisista”.

“Que o Senhor – concluiu o Papa – nos dê esta paz repleta de esperança, que nos torna fecundos, nos torna comunicativos com os outros, que cria comunidade e que sempre olha a paz definitiva do Paraíso.”

O Papa Francisco terminou a celebração com adoração e a bênção eucarística. Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antífona mariana “Regina Coeli”, cantada no tempo pascal:

Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!

Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!

Ressuscitou como disse. Aleluia!

Rogai por nós a Deus. Aleluia!

D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!

C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!


MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
A ENFERMEIROS E OBSTETRAS NO DIA INTERNACIONAL DA ENFERMEIRA

Queridos irmãos e irmãs!

Celebramos hoje o Dia Internacional da Enfermeira, no contexto do Ano Internacional da Enfermeira e da Obstetra, proclamado pela Organização Mundial da Saúde. Neste mesmo dia, recordamos também o bicentenário do nascimento de Florence Nightingale, que deu início à enfermagem moderna.

Neste momento histórico, marcado pela emergência sanitária mundial provocada pela pandemia do vírus Covid-19, redescobrimos o papel de importância fundamental que desempenha a pessoa do enfermeiro, como também a da obstetra. Diariamente assistimos ao testemunho de coragem e sacrifício dos profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiras e enfermeiros, que, com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, prestam assistência às pessoas afetadas pelo vírus, com risco da própria saúde. Prova disso mesmo é o alto número de profissionais de saúde que, infelizmente, morreram no fiel cumprimento do seu serviço. Rezo por eles – o Senhor conhece-os por nome um a um – e por todas as vítimas desta epidemia. O Senhor ressuscitado conceda a cada um a luz do Paraíso e, às suas famílias, o conforto da fé.

Os enfermeiros sempre tiveram papel central na assistência sanitária. No contacto diário com os doentes, fazem experiência do trauma que o sofrimento provoca na vida duma pessoa. São homens e mulheres que optaram por dizer «sim» a uma vocação específica: ser bons samaritanos que se ocupam da vida e das feridas do próximo. Guardiões e servidores da vida, ao mesmo tempo que ministram as terapias necessárias, infundem coragem, esperança e confiança[1].

Queridas enfermeiras, queridos enfermeiros, a responsabilidade moral guie o vosso profissionalismo, que não se há de limitar aos conhecimentos técnico-científicos, mas aparecer constantemente iluminado pela relação humana e humanizadora com o doente. «Ocupando-vos de mulheres e homens, crianças e idosos, em cada fase da sua vida, do nascimento à morte, estais comprometidos numa escuta contínua, destinada a compreender as exigências daquele doente, na fase que está a atravessar. Com efeito, diante da singularidade de cada situação, nunca é suficiente seguir um protocolo, mas é exigido um contínuo – e cansativo! – esforço de discernimento e de atenção a cada pessoa»[2].

Vós, assim como as obstetras, estais junto da pessoa nos momentos cruciais da sua existência – o nascimento e a morte, a doença e a cura –, para a ajudar a superar as situações mais traumáticas. Às vezes encontrais-vos ao lado dela quando está a morrer, oferecendo-lhe conforto e alívio nos últimos momentos. Por esta vossa dedicação, estais entre «os santos de ao pé da porta»[3]. Sois imagem daquela Igreja «hospital de campanha» que dá continuidade à missão de Jesus Cristo: Ele aproximou-Se e curou pessoas que sofriam de todo o gênero de males e ajoelhou-Se a lavar os pés dos seus discípulos. Obrigado por este vosso serviço à humanidade!

Em vários países, a pandemia fez vir à luz também muitas carências a nível da assistência sanitária. Por isso, apelo aos Responsáveis das nações de todo o mundo para que invistam neste bem comum primário que é a saúde, reforçando as estruturas e empregando mais enfermeiros, para se garantir a todos um atendimento adequado, no respeito pela dignidade de cada pessoa. É importante reconhecer, com factos, o papel essencial que desempenha esta profissão no cuidado dos pacientes, nas atividades territoriais de emergência, na prevenção das doenças, na promoção da saúde, na assistência aos setores familiar, comunitário e escolar.

Os enfermeiros e as enfermeiras, bem como as obstetras, têm direito e merecem ser melhor valorizados e coenvolvidos nos processos que dizem respeito à saúde das pessoas e da comunidade. Está comprovado que investir neles melhora os resultados em termos de assistência e saúde geral. Portanto, é necessário elevar o seu perfil profissional, fornecendo instrumentos adequados para a sua formação a nível científico, humano, psicológico e espiritual, bem como melhorar as suas condições de trabalho e garantir os seus direitos, para que possam desempenhar com toda a dignidade o seu serviço.

Neste sentido, cabe uma função importante às Associações dos profissionais de saúde, que, além de oferecer uma formação orgânica, acompanham individualmente os respetivos aderentes, fazendo-os sentir-se parte dum único corpo e não os deixando jamais perdidos e sozinhos perante os desafios éticos, econômicos e humanos que a profissão comporta.

Agora dirigindo-me de forma particular às obstetras, que prestam assistência às mulheres grávidas e as ajudam a dar à luz os seus filhos, digo: o vosso trabalho conta-se entre os mais nobres que há, consagrado como está diretamente ao serviço da vida e da maternidade. Na Bíblia, quase ao início do livro do Êxodo (cf. 1, 15-21), ficaram imortalizados os nomes de duas parteiras heroicas: Chifra e Pua. Também hoje vos olha com gratidão o Pai celeste.

Queridos enfermeiros, queridas enfermeiras e obstetras, que esta ocorrência coloque no centro a dignidade do vosso trabalho, em benefício da saúde da sociedade inteira. Por vós, pelas vossas famílias e por quantos assistis e cuidais, asseguro a minha oração e, de coração, concedo a Bênção Apostólica.

Roma, em São João de Latrão, 12 de maio de 2020.

Francisco


[1] Cf. Nova Carta dos Profissionais de Saúde, nn. 1-8.

[2] Francisco, Discurso aos membros da Federação Italiana das Ordens das Profissões de Enfermagem, 3/III/2018.

[3] Francisco, Homilia na Missa da Ceia do Senhor, 09/IV/2020.


Fonte: Vatican News