Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“O homem moderno busca, incansavelmente, o rosto de Cristo”

19/03/2012

Entrevistas

Filho de Maria José e Jovino Grasi, natural de Marilândia, no interior do Espírito Santo, Frei Vanderley Grassi nasceu no dia 21 de outubro de 1975 e será ordenado presbítero no dia 24 de março, às 19 horas, no Santuário do Divino Espírito Santo, em Vila Velha (ES), pelo bispo de Colatina, Dom Décio Sossai Zandonade. Suas primícias serão celebradas no dia 24, às 9h30, no mesmo Santuário. Como conta nesta entrevista, o discernimento vocacional de Frei Vanderley começou em 2001, quando subiu o morro do Convento da Penha em busca de respostas. Em 2002 ingressava no Aspirantado de Imbariê (RJ) e no Postulantado de Guaratinguetá (SP) em 2003, etapas que o prepararam para ingressar na Ordem dos Frades Menores, que fez em 2004 ao ingressar no Noviciado de Rodeio (SC). Professo temporário, Frei Vanderley deu seu sim definitivo à Ordem Franciscana com a profissão solene no dia 5 de novembro de 2009. Cursou Filosofia em Curitiba de 2005 a 2007 e Teologia de 2008 a 2011. Foi ordenado diácono no dia 4 de dezembro de 2010. Nesta entrevista, conheça mais o futuro presbítero da Província da Imaculada Conceição do Brasil.  

Site Franciscanos – Como se deu seu discernimento vocacional? Fale um pouco de sua vocação e por que escolheu a vida religiosa franciscana?

Frei Vanderley – Sou natural de Marilândia, um pequeno município de 11.107 habitantes, com uma única paróquia que tem por padroeira Nossa Senhora Auxiliadora. Meus pais são pessoas simples que viveram toda vida no campo, de onde tiravam o sustento dos cinco filhos, dos quais sou o mais novo. Venho de uma família católica e acredito que minha vocação veio do testemunho de minha mãe, com sua simplicidade e falta de palavras eloquentes diante das dificuldades da vida, mas que, com uma fé inabalável, se apegava a Deus e à Virgem Maria por meio da oração do terço.  Aos 17 anos de idade, deixei a casa paterna e fui morar na grande Vitória, com o objetivo de trabalhar e poder dar continuidade aos estudos. Comecei a trabalhar e estudar à noite, e nos finais de semana participava nas comunidades Santa Luzia e Nossa Senhora das Graças, que pertence à paróquia Santa Clara de Assis, dos franciscanos capuchinhos em Vila Bethânia – Viana. Em 2000, fui morar em Vila Velha e todos os dias subia ao convento da Penha como milhares de pessoas que por lá passam com suas dores e alegrias. O que eu buscava? Ainda não sabia! Sabia somente que ali todas as minhas perguntas e dúvidas se calavam diante do mistério divino. Em 2001, comecei a participar dos encontros vocacionais no Santuário Divino Espírito Santo com o desejo de conhecer mais de perto o carisma franciscano. Orientado pelo Frei Ladí Antoniazzi, que era o animador vocacional juntamente com Benita e Flaviano. Eles ajudaram-me em meu discernimento pela opção à vida religiosa franciscana. O carisma franciscano me mostrou a possibilidade da visão de um Deus mais humano e pleno que se apresenta por meio da misericórdia.  Assim, senti o desejo de experimentar esse Deus que é vivenciado concretamente junto aos desvalidos e marginalizados de nossos tempos. Cheio de esperança e confiante, iniciei a minha caminhada vocacional em 2002, aos 25 anos de idade, passando pelo aspirantado, postulantado, noviciado, filosofia e teologia, o  que é próprio da nossa formação inicial.

Site Franciscanos – Como ser presbítero num mundo cada vez mais secularizado?

Frei Vanderley – Em nossa sociedade atual, onde predomina o hedonismo e a secularização, a figura do presbítero é objeto de muita discussão, inclusive na mídia. Mesmo, muitas das vezes, sem ter o conhecimento do assunto, querem emitir juízos a respeito da figura do presbítero.  O presbítero é homem de Deus. Esta é sua característica fundamental. Tudo que se queira acrescentar à sua figura, são detalhes acidentais. Isto não impede que seja uma pessoa comprometida com a realidade que está ao seu redor.  Apesar do secularismo, o homem moderno busca, incansavelmente, o rosto de Cristo. Por isso, o presbítero é chamado a ser representante do próprio Senhor. Ele o torna novamente presente. E quanto mais transparente e mais perfeita for essa presença, melhor responderá às indagações dos que a procuram. O presbítero é reconhecido pelo seu agir por meio da misericórdia e da caridade sempre em nome de Deus. E acredito que para nós, franciscanos, o ministério sacerdotal deve ser exercido sempre num espírito de alegria, pois somos anunciadores da Boa Nova. Exultando de alegria porque o Senhor me chamou. Eis que respondo: “Eis-me aqui, ó Senhor, venho para fazer a tua vontade”.

Site Franciscanos – Quais os desafios do presbítero hoje?

Frei Vanderley – Os desafios nos dias atuais são muitos para a vocação de um presbítero. Poderíamos elencar vários desafios, mas o maior desafio como presbítero é justamente se manter atualizado a respeito dos desafios que são próprios da sociedade. Já que aquilo que Deus nos revela, nos fala, deve sempre iluminar e orientar o que nós vivenciamos na sociedade. Devemos estar atentos a tudo o que a sociedade está vivendo, os caminhos por onde ela percorre e nos mantermos presente, dentro de um processo de formação continuada que é próprio da Ordem e da Igreja, com retidão daquilo que é a vontade de Deus para nós e para a sociedade. O presbítero, à imagem do Bom Pastor, é convocado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo a seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades.

Site Franciscanos – Como falar de Francisco e Clara para os jovens de hoje?

Frei Vanderley – Francisco, ainda jovem, vai além, beija o leproso, uma pessoa que a sociedade ignorava, como sinal de sua escolha pelos excluídos. Clara deixa a casa paterna na penumbra da noite para consagrar-se ao Cristo que Francisco anuncia. Esse amor de Clara e Francisco pelo Senhor deve contagiar a juventude de hoje, ser diferente, reconstruir o que está perdido, acolher os excluídos.  O jovem deve desejar ardentemente ser essa diferença no mundo, mesmo em meio ao cotidiano de nossas vidas. Ser radicalmente apaixonado pelo Senhor, a ponto desse amor não caber mais no peito e transparecer nas palavras, gestos e atitudes. O jovem Francisco, tomado pela coragem e ousadia, pergunta ao Senhor: “Que queres que eu faça?”. O Senhor não o queria como um reformador de construções, mas como um reformador de corações.  Clara, da mesma forma ousada, admirada pela sua beleza, entregou seus longos e belos cabelos, e privou-se deste mundo, para viver consagrada totalmente a Ele, seguindo Francisco, mas percebendo que aquele caminho a levaria ao Cristo pobre. A diferença dos jovens Clara e Francisco está na decisão radical pelo Senhor, pelo maior de todos os amores, levando-o a todos, com todo o vigor e alegria. A juventude pode estender-se até o final de nossa existência, com o coração alegre e disposto a tudo que é novo.