“Não são as coisas exteriores que nos fazem santos”
31/08/2015
Cidade do Vaticano – Na manhã deste domingo (30) durante o Angelus, com a Praça São Pedro tomada de fiéis e peregrinos de diversas partes do mundo, Papa Francisco comentou sobre o Evangelho do dia que apresenta uma disputa entre Jesus e alguns fariseus e escribas, sobre o valor da ‘tradição dos antigos’.
Francisco convidou a fazer distinções entre os “preceitos dos homens” que não são “os mandamentos de Deus”: “As antigas prescrições compreendiam não somente os preceitos de Deus revelados a Moisés, mas uma série de regras que especificavam as indicações da lei mosaica. Os interlocutores aplicavam tais normas em modo muito escrupuloso e apresentavam elas como expressões de autêntica religiosidade. Portanto, repreendiam Jesus e os seus discípulos pela transgressão delas, em particular, daquelas em relação à purificação exterior do corpo. A resposta de Jesus tem a força de um pronunciamento profético: ‘Ignorando o mandamento de Deus, observam a tradição dos homens’.”
Jesus ensina para nós, hoje, sobre o perigo de nos considerarmos “melhores dos outros pelo simples fato de observar as regras, as tradições”.
“A observação literal dos preceitos é alguma coisa de estéril se não muda o coração e não se traduz em comportamentos concretos: abrir-se ao encontro com Deus e à sua Palavra, procurar a justiça e a paz, socorrer os pobres, os fracos, os oprimidos.”
Improvisando durante seu pronunciamento do Angelus, da janela do seu escritório, Papa Francisco colocou em causa a vida nas comunidades eclesiais e afirma: “Todos sabemos, nas nossas comunidades, nas nossas paróquias, nos nossos bairros, quanto mal fazem à Igreja e fazem escândalo aquelas pessoas que se dizem ‘muito católicas’ e vão frequentemente na igreja mas, depois, na sua vida quotidiana, descuidam da família, falam mal dos outros e assim por diante. Isso é aquilo que Jesus condena”, porque é um testemunho contra a vida cristã.
“Prosseguindo na sua exortação”, afirmou ainda o Papa, “Jesus foca a atenção sobre um aspecto mais profundo e afirma: ‘Não existe nada fora do homem que, entrando nele, possa torná-lo impuro. Mas são as coisas que saem do homem que o tornam impuro’”. E o Santo Padre não tem dúvidas: “Não são as coisas exteriores que nos fazem santos ou não santos, mas é o coração que expressa as nossas intenções, as nossas escolhas e o desejo de fazer tudo pelo amor de Deus. As atitudes exteriores são a consequência daquilo que decidimos no coração, mas não o contrário. Com as atitudes exteriores, se o coração não muda, não somos verdadeiros cristãos. Portanto, é o coração que deve ser purificado e se converter. Sem um coração purificado, não se pode ter mãos realmente limpas e lábios que pronunciem palavras sinceras de amor.”
E, então, fez um oração à Maria: “Peçamos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria, para nos dar um coração puro, livre de toda hipocrisia. Esse é o adjetivo que Jesus disse aos fariseus: ‘hipócritas’, porque dizem uma coisa e fazem outra. Livre de toda hipocrisia, assim, que sejamos capazes de viver segundo o espírito da lei e alcançar o seu fim, que é o amor.”
ÍNTEGRA DO ANGELUS
Queridos irmãos e irmãs,
o Evangelho deste domingo apresenta uma disputa entre Jesus e alguns dos fariseus e escribas. A discussão é referente ao valor da “tradição dos antigos” que Jesus, referindo-se ao profeta Isaías, define “preceitos de homens” e que nunca deve ficar no lugar do “mandamento de Deus”. As antigas prescrições compreendiam não somente os preceitos de Deus revelados a Moisés, mas uma série de regras que especificavam as indicações da lei mosaica. Os interlocutores aplicavam tais normas em modo muito escrupuloso e apresentavam elas como expressões de autêntica religiosidade. Portanto, repreendem Jesus e os seus discípulos pela transgressão delas, em particular, daquelas em relação à purificação exterior do corpo. A resposta de Jesus tem a força de um pronunciamento profético: “Ignorando o mandamento de Deus, observam a tradição dos homens”. São palavras que nos enchem de admiração pelo nosso Mestre: sentimos que nEle tem a verdade e que a sua sabedoria nos libera dos preconceitos.
Mas, atenção! Com essas palavras, Jesus também quer colocar em alerta nós, hoje, que ao manter a observação exterior da lei seja suficiente para sermos bons cristãos. Como naquela época para os fariseus, existe também para nós o perigo de nos considerarmos tranquilos ou melhores dos outros pelo simples fato de observar as regras, as tradições, mesmo se não amamos o próximo, somos duros de coração e orgulhosos. A observação literal dos preceitos é alguma coisa de estéril se não muda o coração e não se traduz em comportamentos concretos: abrir-se ao encontro com Deus e à sua Palavra, procurar a justiça e a paz, socorrer os pobres, os fracos, os oprimidos. Todos sabemos, nas nossas comunidades, nas nossas paróquias, nos nossos bairros, quanto mal fazem à Igreja e fazem escândalo aquelas pessoas que se dizem ‘muito católicas’ e vão frequentemente na igreja mas, depois, na sua vida quotidiana, descuidam da família, falam mal dos outros e assim por diante. Isso é aquilo que Jesus condena, porque é um testemunho contra a vida cristã.
Prosseguindo na sua exortação, Jesus foca a atenção sobre um aspecto mais profundo e afirma: “Não existe nada fora do homem que, entrando nele, possa torná-lo impuro. Mas são as coisas que saem do homem que o tornam impuro”. Desse modo, enaltece o primado da interioridade, do coração: não são as coisas exteriores que nos fazem santos ou não santos, mas é o coração que expressa as nossas intenções, as nossas escolhas e o desejo de fazer tudo por amor. As atitudes exteriores são a consequência daquilo que decidimos no coração. A fronteira entre o bem e o mal não passa fora de nós, mas sim, dentro de nós. E podemos nos questionar onde está o meu coração? Jesus dizia: ‘O teu tesouro é onde está o coração’. Qual é o meu tesouro? É Jesus, a sua doutrina? É o coração bom ou o tesouro é uma outra coisa. Portanto, é o coração que deve ser purificado e se converter. Sem um coração purificado, não se pode ter mãos realmente limpas e lábios que pronunciem palavras sinceras de amor: tudo é duplo, não? Aquela dupla vida; palavras que pronunciam misericórdia, perdão. Somente isso pode fazer o coração sincero e purificado.
Peçamos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria, para nos dar um coração puro, livre de toda hipocrisia para que, assim, sejamos capazes de viver segundo o espírito da lei e alcançar o seu fim, que é o amor.
Fonte: Rádio Vaticano