Carta do Ministro Geral para a Festa de São Francisco
01/10/2013
Perseveremos na verdadeira fé
Caríssimos irmãos,
O Senhor vos dê a paz!
Na solenidade de São Francisco queremos partilhar convosco a nossa vida e desejar-vos todo o bem em Deus, nosso Sumo Bem.
Vivemos num tempo em que a mudança, muitas vezes utilizada como categoria para qualificar a nossa época, é hoje visível também na Igreja e na Ordem dos Frades Menores.
«a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a
existência humana»
(LF 4)
É neste clima de novidade que a comunidade eclesial está vivendo o Ano da é, em coincidência com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e é convidada a renovar-se por meio da Nova Evangelização, através do testemunho oferecido pela vida das pessoas de fé. Como escreve Papa Francisco na Encíclica Lumen Fidei, “urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência humana” (LF 4).
É nosso desejo manter acesa a luz da fé, seguindo o exemplo de Francisco de Assis, para que seja o fundamento da nossa vida, a paixão na missão e a lâmpada que “nos desvenda o caminho e acompanha os nossos passos na história” (LF -8)
Crer de verdade e humildemente
São Francisco, na Regra não bulada, exorta a permanecer na verdadeira fé: “humildemente rogamos e suplicamos para que perseveremos todos na verdadeira fé e penitência, porque de outra maneira ninguém pode salvar-se” (Rnb 23,7). A experiência de fé do Santo de Assis permanece iluminadora para a nossa vocação franciscana e é um impulso exemplar a fazer nosso o modo singular como ele viveu a experiência de Deus Altíssimo, Trindade e Unidade, e o encontro pessoal com o Cristo pobre, humilde e crucificado, fazendo do Evangelho a Regra e vida dos Frades Menores.
Na mesma Regra não bulada, no capítulo XXIII, nos oferece uma admirável e profunda profissão de fé eclesial em forma de ação de graças e de louvor. Também através dela Francisco nos convida a perseverar na fé e a crer de verdade e humildemente. Tal fé, que se expressa no honrar e adorar, é estreitamente ligada à experiência do nada mais desejar, nada mais querer, nada mais agradar ou deleitar a não ser o nosso Criador, Redentor e Salvador, único Deus verdadeiro…, o verdadeiro e sumo bem.
Para o Santo de Assis uma tal fé encontra o seu fundamento na Palavra de Deus e na Eucaristia, isto é, na relação com essas duas formas de presença do Ressuscitado. Francisco, quando escuta a Sagrada Escritura, a reconhece como dirigida a ele pessoalmente. Como Orígenes, que dizia que o Evangelho é o Corpo de Cristo, assim Francisco tem uma percepção sacramental da Palavra de Deus. Para ele a Palavra é pronunciada no presente através do sinal frágil das palavras humanas. Por isso, na carta A toda a Ordem, nos recorda o respeito e a reverência para com o Corpo do Senhor, além da veneração pela Sagrada Escritura (cf. Ord 14-16; 34-37).
O Ano da Fé nos convida a retornar a este essencial da fé e da vida franciscana, que são a Palavra de Deus e a Eucaristia, com a consciência de que tal experiência de encontro leva sempre
«nada mais agradar ou deleitar
a não ser o nosso Criador, Redentor
e Salvador, único Deus
verdadeiro…, o verdadeiro e
sumo bem.» (Rnb 23)
ao “sacramento do irmão”, aos mais pobres e à evangelização qual anúncio do Reino de Deus mediante o testemunho da vida e a palavra (cf. CCGG 89). Na espiritualidade eucarística somos convidados a fazer memória das origens da nossa vocação no encontro com Jesus Cristo e, através de um caminho de oração, penitência e conversão, a “reencontrar o primeiro amor, a centelha inspiradora” da qual nasceu o nosso seguimento (cf. RdC 22).
Senhor, a quem iremos?
Todos sabemos que a fé cristã não é um aspecto central da cultura contemporânea, e “acontece não raramente que os cristãos se preocupam mais pelas consequências sociais, culturais e políticas do seu compromisso, pensando que a fé seja um pressuposto óbvio no viver comum” (Pf 2). O nosso ambiente é marcado por formas de indiferença religiosa, pela sedução de um sagrado à medida do homem. Esta realidade leva muitos homens e mulheres a um “crer” sem pertença, fechados na solidão da própria vivência religiosa.
Na fé assume, assim, sempre maior importância o aspecto da decisão pessoal de aceitar o chamado a seguir Jesus Cristo, pondo a confiança n’Ele e nutrindo-se da sua Palavra. É quanto põe em evidência também o Evangelho de João (Jo 6,60-70), quando apresenta os desafios da Palavra e faz emergir a dificuldade dos discípulos diante das afirmações de Jesus: “as palavras que vos disse são espírito e vida. Ma há alguns de vós que não creem” (Jo 6,63-64). Também nós, como tantos irmãos nossos e comunidades nossas, vivemos problemas de fé.
O Evangelho revela que alguns, embora pertencendo ao grupo de Jesus, vivem sem ter fé em Jesus, fazendo oposição ao seu espírito e à sua vida. De fato, a crise no interior da comunidade cristã se joga sobre esta questão: crer ou não crer em Jesus. O fato que “a partir desse momento muitos de seus discípulos voltaram atrás e já não andavam com ele” (Jo 6,66) é um modo para entender quem são os verdadeiros seguidores de Jesus.
A escolha é decisiva tanto para aqueles que voltam atrás como para aqueles que permanecem com Ele. O grupo dos discípulos, naquele tempo como hoje, se reduz e Jesus faz a pergunta àqueles que permanecem: “também vós quereis ir embora?” (Jo 6,67). A mesma pergunta é dirigida hoje a nós que permanecemos na Igreja, na Ordem: o que desejamos? Estamos convictos de permanecer para seguir Jesus e viver como Ele? O certo é que não é possível viver na ambiguidade, é necessário perseverar de forma decidida. A resposta de Pedro é exemplar: “Senhor, a quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna”
«Senhor, a quem iremos?
Só tu tens palavras de vida
eterna» ( Jo 6,68)
(Jo 6, 68). Aqueles que permanecem devem reconhecê-lo: “Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6,68). Aqueles que permanecem devem fazê-lo unicamente por Jesus, para envolver-se e comprometer-se com Ele. Este é o único motivo para permanecer. Um dos serviços que podemos oferecer à sociedade é colocar à disposição do homem e da mulher de hoje a pessoa de Jesus, ajudando-os a entrar sempre mais em contato com a Palavra de Jesus e sempre menos com as nossas.
Nós acreditamos
Caríssimos Irmãos, encontramo-nos num momento de graça que nos impele a louvar com todo o nosso ser, como fez Francisco, o Deus Altíssimo dizendo: “Tu és nossa fé” (LD,7). Estamos numa época propícia para aprofundar a “nossa fé” em Deus e fazer a experiência de confiar a Ele a nossa Vida Consagrada e a nossa missão, partilhada com os leigos, na Igreja e para o mundo, para que seja evidente que “nós cremos e reconhecemos que tu és o Consagrado de Deus” (Jo 6,69).
Como pessoas de fé e consagrados, não obstante as várias dificuldades em que nos encontramos, somos desafiados a responder à pergunta de Jesus: “Quereis também vós ir embora” (Jo 6,67). Não podemos acostumar-nos a viver uma fé à medida dos próprios interesses e desejos. O Senhor Jesus renova o convite para colocar-nos em caminho, com fidelidade e perseverança, “para encontrar Aquele que não buscaríamos se não tivesse já vindo ao encontro. Exatamente a este encontro a fé nos convida e nos abre em plenitude” (Pf 10).
O Senhor vem ao nosso encontro para nos ajudar a superar a amargura, a tentação de fugir e de deixar a nossa Fraternidade, por nos sentirmos cansados e desiludidos diante dos problemas institucionais, comunitários ou pessoais, e nos assegura que «a vida na fé é a verdadeira fonte da nossa alegria e da nossa esperança, do nosso seguimento de Jesus Cristo e do nosso testemunho no mundo. A fé é a porta através da qual o Senhor entra em contato conosco, nos cura das nossas enfermidades, nos reconcilia e nos envia» (cf. Sfc 18).
Com a ajuda e a oração de Maria Santíssima, Rainha da Ordem, façamos a experiência cotidiana fundamental do encontro com Deus que nos ama e sobre quem edificamos a nossa vida. Ao celebrar a solenidade de São Francisco de Assis vos convidamos a renovar a vossa fé: “Senhor, a quem iremos?» (Gv 6,68), «Tu és nossa fé» (LD 7).
Roma, 17 de setembro de 2013
Festa dos Estigmas de São Francisco
Os vossos irmãos do Definitório geral
Fr. Michael Anthony Perry, ofm (Min. geral)
Fr. Julio César Bunader, ofm (Vic. geral)
Fr. Vincenzo Brocanelli, ofm (Def. geral)
Fr. Vicente-Emilio Felipe Tapia, ofm (Def. geral)
Fr. Nestor Inácio Schwerz, ofm (Def. geral)
Fr. Francis William Walter, ofm (Def. geral)
Fr. Roger Marchal, ofm (Def. geral)
Fr. Ernest Karol Siekierka, ofm (Def. geral.)
Fr. Paskalis Bruno Syukur, ofm (Def. geral)
Fr. Vincent Mduduzi Zungu, ofm (Def. geral)
Fr. Aidan McGrath, ofm (Seg. geral)