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Frei Valmir Ramos: de Visitador a Definidor Geral

23/05/2015

Entrevistas

Moacir Beggo

São Paulo (SP) Anunciado como Visitador Geral durante o Capítulo das Esteiras no ano passado, Frei Valmir Ramos iniciaria a Visita Canônica na Província da Imaculada neste mês de junho. Mas o Capítulo Geral o escolheu, neste sábado, em Santa Maria dos Anjos, para um desafio ainda maior: Definidor da Ordem dos Frades Menores para a América Latina. Nesta entrevista, que sairia nas “Comunicações” de junho, tínhamos a intenção de apresentar o início dos trabalhos da Visita Canônica de Frei Valmir. Não deu tempo! Mas não deixe de ler a entrevista e conhecer um pouco mais sobre o novo Definidor Geral e sobre o serviço de visitador, que será assumido por outro frade indicado pela Ordem.

Em Assis, Frei Walter de Carvalho Júnior, detalha a eleição: “A primeira sessão da manhã do sábado, 23, iniciou-se com oração em memória de Dom Oscar Romero, beatificado pelo Papa Francisco no mesmo dia. Foi emocionante ouvir a mesma voz de Dom Oscar ressoar na sala capitular, em sua última homilia, um dia antes de ser assassinado, convocando os soldados mandados pelos perseguidores do povo de El Salvador a darem atenção à própria consciência e não à lei ou a qualquer tipo de poder ou imposição.

Em seguida, procedeu-se à votação para o serviço de Definidor Geral. Pela Europa, foram eleitos: Frei Antonio Scabio, Frei Lórant Orosz e Frei Ivan Sesar. Pela América Latina, foram eleitos: Frei Valmir Ramos, brasileiro, e Frei Ignacio Jiménez Ceja, mexicano. Pela Conferência Africana, Frei Nicodème Kibuzehose. Pela Conferência de Língua Inglesa, Frei Kevin Caoimhín Ó Laoide. Pela Conferência do Sul da Ásia e Oceania e pela Conferência do Leste Asiático, Frei Lino Gregorio Redoblado”.

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Frei Valmir, fale um pouco de você, sua vida e sua vocação?
Frei Valmir – Sou filho de uma família de fé. Aprendi as primeiras orações ainda no berço, pois me recordo com gratidão quando meus pais me ajudavam a fazer o sinal da cruz e a rezar antes de dormir. Segurava na gradinha do berço! Cresci no sítio herdado de meu avô materno e estudava à noite desde os 13 anos para trabalhar na roça. Quando jovem, trabalhava, jogava bola, namorava e sempre ia à igreja. Lendo a Bíblia, um texto ficou ressoando em minha mente quando li sobre a vocação de Samuel (1Sm 3). Os franciscanos são fundadores da Paróquia de origem de minha família. Aí fui escolhido e procurei o Frei David Precaro para pedir orientação de como fazer para ser padre. Então, ele encaminhou-me para os encontros vocacionais.

Por que escolheu ser frade menor?
Frei Valmir – Hoje tenho convicção de que fui escolhido. De início não conseguia nem prestar atenção ao que me diziam da existência dos padres diocesanos. Com 18 anos, em 1984, entrei no Seminário de Vocações Adultas (SEVOA), em Guaratinguetá. Lá fiz os dois anos preparatórios para o noviciado. Então, nossa Custódia resolveu que os postulantes iriam para Franca (SP) cursar Filosofia. Em nenhum momento tive dúvida se o chamado era mesmo para ser franciscano. São Francisco era o modelo e pronto.

Quais são as suas expectativas para este início de trabalhos como visitador canônico?
Frei Valmir – Espero corresponder à grande responsabilidade deste serviço à Ordem. Sei dos meus limites e sei também dos grandes desafios que a realidade hoje nos apresenta. Contudo, acredito sinceramente que a graça de Deus vai atuando quando a gente menos imagina. A fraternidade da Província da Imaculada Conceição é grande, com muitas presenças e atuações nos mais variados campos de evangelização. Isto não me assusta. Não vejo como muito trabalho. É um trabalho a ser realizado com persistência e dedicação. No fundo, o visitador é um frei privilegiado, pois tem a possibilidade de conhecer tantos confrades e tantas experiências que o fazem crescer, o fazem enxergar sempre mais o essencial da vida humana, cristã e religiosa. No encontro com cada confrade, espero ser um irmão capaz de ouvir e de discernir o melhor para cada confrade e para toda a fraternidade.

Esta é sua quinta visita canônica. Quais são as vantagens e desvantagens desta experiência prévia para a missão de visitar a Província da Imaculada Conceição?
Frei Valmir – A vantagem é que o visitador já está escaldado! Quando pensamos nas experiências edificantes, nas conquistas fraternas, na fidelidade ao Evangelho e tudo mais que dá alegria de pertencer à Ordem sabemos que isto se repete também na Província da Imaculada Conceição. Por outro lado, como se diz, os problemas e dificuldades humanas são sempre quase as mesmas, apenas mudam de endereço. A experiência diz que vou encontrar freis humanos, cada um com sua personalidade, com seu jeito de viver o Evangelho, mas também com suas dificuldades. Não acredito em desvantagens, pois mesmo o que não foi muito bom nas outras visitas ajudou-me a crescer.

02Qual o papel do visitador canônico, especialmente falando para um leigo?
Frei Valmir – O visitador é chamado de “Visitador Geral” por ser um delegado do Ministro Geral da Ordem Franciscana, e por fazer a visita em nome da própria Ordem. Ele é eleito pelo Definitório Geral para visitar todos os confrades de uma Província. Nesta visita deve confortar, admoestar e, se necessário, com humildade e caridade, corrigir os irmãos. O visitador vai conhecer e examinar as condições e as iniciativas dos confrades, das Casas, da Província. Com um olhar “de fora”, o visitador pode ter uma visão geral das situações em que os confrades vivem e atuam e deve ajudá-los a discernir o melhor caminho para o presente e o futuro. Tendo visitado todos os confrades, examinado a situação pessoal, comunitária e econômica da fraternidade e as atividades desenvolvidas pelos irmãos, o visitador faz um relatório a ser enviado para o Ministro Geral e para o Capítulo da Província. Este relatório deve apresentar a realidade levando em conta o essencial da vida franciscana, especialmente vida de oração, vida fraterna, minoridade, formação, trabalho, evangelização, situação econômica e perspectivas.

Dentre as diversas atribuições de um visitador geral, qual você considera a mais difícil?
Frei Valmir – Certamente é a tarefa de corrigir um irmão que está distante da “medula do Evangelho” e afirma com toda convicção que ele está certo e toda a fraternidade está equivocada. As dificuldades fazem parte da vida, mas quando nós enveredamos por um caminho que não condiz com o ser do religioso, parece que nós mesmos as criamos. Aí precisamos da ajuda de um irmão que nos corrija. Se aceitamos a correção, crescemos.

Como você vê hoje o Capítulo na vida dos frades e da Fraternidade Provincial?
Frei Valmir – O Capítulo será uma oportunidade especial para avaliar o caminho percorrido e planejar o futuro. São Francisco experimentou o Capítulo como momento especial de fraternidade em que o Espírito Santo estava agindo. A alegria de encontrar-se, de juntos se colocarem em oração, de olhar para a vida e descobrir juntos o melhor modo de viver o Evangelho, especialmente diante das interpelações das várias realidades que nos cercam, tudo isso deve motivar cada frade a participar ativamente do Capítulo. Vejo o Capítulo como o momento celebrativo da Fraternidade e, para a Província da Imaculada Conceição, será a oportunidade de dar passos importantes diante das novas configurações de pessoal e de estruturas. Também deverá ser um momento especial para olhar a presença missionária em Angola como realidade adulta e resultado da dedicação de tantos confrades.

FICHA BIOGRÁFICA

Frei Valmir Ramos (Pároco)
Nascimento: 31/05/1965 – Natural de Franca – SP
Vesticão: 16/01/1989
Primeira Profissão: 02/02/1990
Profissão Solene: 30/04/1993
Ordenação Diaconal: 11/08/1993
Ordenação Presbiteral: 28/01/1994
Em 1994: nomeado guardião e vice-mestre do aspirantado em Franca
1995-1998: Especialização em Teologia Bíblica – Faculdade Pontifícia da Itália Meridional – Nápoles, Itália; Formador dos frades brasileiros estudantes de Teologia em Nápoles.
1998-1999: No dia 06 de julho de 1998, retornou da Itália e residiu em Bebedouro até janeiro de 1999.
1999 -2000: Olímpia, SP, na função de guardião e formador dos freis estudantes de Teologia. Professor de Teologia Bíblica no curso de Teologia da Diocese de São José do Rio Preto.
2001-2010: Custódio da Custódia do Sagrado Coração de Jesus
2003-2005: Formador dos frades estudantes de Teologia, Marília, SP
2011: Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Bebedouro
2014-2015: Professor de Teologia Bíblica da Diocese de São José do Rio Preto
2005: Visitador da Fundação Nossa Senhora das Graças – Piauí
2009: Visitador da Fundação Nossa Senhora de Fátima – Triângulo Mineiro
2011: Visitador da Província de Santo Antônio (NE)
2013: Visitador da Província São Francisco de Assis (RS)
2006: Participante do Capítulo Geral extraordinário da OFM
2009: Participante do Capítulo Geral da OFM
2013: Participante do Conselho Plenário da Ordem – Varsóvia/Constancin, Polônia
Obras Sociais:
1999-2015: Supervisor/Diretor Franciscano do Educandário Santo Antônio de Bebedouro, SP
2001-2010: Supervisor/Diretor Franciscano do Patronato Juvenil Garcense, Garça, SP
2001-2010: Supervisor Franciscano da Casa Maternal São Francisco de Assis, Franca, SP
2001-2010: Supervisor Franciscano da Cidade da Imaculada, Olímpia, SP
2004-2015: Supervisor/Diretor Franciscano da Casa de Santa Clara, Bebedouro, SP
2011-2015: Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Bebedouro, SP