Frei Paulijacson: pronto para “curar feridas”
01/12/2014
Moacir Beggo
São Miguel (RN) – “Ser presbítero, antes de tudo, é curar feridas”. Foi com esse propósito que Frei Paulijacson Pessoa de Moura foi ordenado presbítero no sábado, dia 29 de novembro, em São Miguel, cidade a 450 quilômetros da capital Natal (RN), por Dom Bernardo Johannes Bahlmann, bispo de Óbidos e confrade de Frei Paulijacson na Província da Imaculada Conceição do Brasil.
A volta do jovem franciscano a São Miguel, uma cidade com cerca de 25 mil habitantes, foi o assunto na cidade, principalmente porque durante uma semana o Serviço de Animação Vocacional, com o apoio da Paróquia de São Miguel, preparou este momento com a Missão Franciscana. Uma equipe de frades, seminaristas, religiosos e religiosas, e leigos visitou escolas, rezou nas praças, visitou doentes e celebrou o Tríduo Vocacional. E não poderia ser diferente no dia da festa. O povo compareceu e lotou a praça da matriz, que leva o nome de outro franciscano, o servo de Deus Frei Damião.
O altar foi preparado em frente à Igreja e à noite, com céu estrelado, teve um clima surpreendentemente agradável por causa de a cidade estar localizada numa serra. A celebração durou 3 horas e o povo não deixou a praça até a bênção final, mesmo a grande maioria que acompanhou em pé.
Às 18h30 teve início a celebração presidida por Dom Bernardo, e concelebrada por Frei Germano Guesser, Definidor da Província da Imaculada e representante do Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel; o pároco de São Miguel, Pe. Valdeci Donato da Silva; e o diácono Frei Sérgio Silas Damesceno. Frei Diego de Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional, foi o comentarista. Além do povo de São Miguel e região, familiares que vieram de todo o Brasil, destaque para a presença de uma caravana de fiéis da Paróquia de São Pedro Apóstolo de Gaspar, onde Frei Paulo reside atualmente, e de um grupo de amigos de Imbariê (RJ), onde o ordenando morou durante um ano e fez a pastoral nos finais de semana enquanto era estudante de Teologia em Petrópolis.
Frei Paulo foi acompanhado na procissão de entrada pela mãe Elisabeth e o irmão João, que permaneceram com ele até ser chamado para perto do bispo, depois da liturgia da Palavra. Em seguida, despediu-se da mãe e do irmão com um abraço e teve início o rito da ordenação propriamente.
Aliás, esse gesto fraternal deu o tom à celebração. Dom Bernardo estava muito feliz por estar ordenando um jovem que ele havia acolhido há onze anos como candidato à vida religiosa quando ainda era guardião do Convento São Francisco. Frei Germano deu testemunho e apresentou o ordenando em nome da Província da Imaculada, afirmando que Frei Paulo “era digno” de receber o Sacramento da Ordem.
Na sua homilia, Dom Bernardo sempre se dirigiu com muito carinho a Frei Paulo. Lembrou que o convidou para cuidar dos frades idosos do Convento São Francisco, tarefa que Frei Paulo fez com muita dedicação. Para Dom Bernardo, jamais eles poderiam imaginar que se encontrariam hoje, onde anos depois, como bispo e ordenando. “É um desses pequenos milagres de Deus”, disse D. Bernardo.
D.Bernardo também não poupou elogios a Frei Paulo pela escolha das leituras e do lema para a ordenação, tirado da parábola do bom samaritano: “Chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão”. Segundo o bispo, a primeira leitura (Hb 13,1-3.5b-6) ressaltou o amor fraterno e a hospitalidade. “Temos que ser hospitaleiros não importa a quem. Para isso, é preciso termos o nosso coração aberto e confiar em Deus, que vai nos amparar”, disse D. Bernardo.
Na segunda leitura, tirada do Testamento de São Francisco, mostrando a conversão e o beijo ao leproso, o bispo lembrou que foi uma experiência difícil para São Francisco e não será fácil para nós. “Ir ao encontro dos leprosos não foi nada fácil para São Francisco. Mas ele não desistiu desse processo de conversão, porque ele transformou o seu coração. Não será também fácil para nós, mas vamos conseguir abraçar o outro por amor a Deus”, acrescentou.
O evangelho (Lc 10,25-37) trouxe a bela parábola do samaritano e que, segundo o bispo, não precisa de muitas explicações. “O samaritano teve misericórdia e cuidou. Esse cuidado, Frei Paulijacson soube ter logo no início de sua caminhada vocacional na Província”, disse D. Bernardo, apresentando ao povo Frei Nazareno Lütke, foi o animador vocacional do Convento e que acompanhou a preparação de Frei Paulo até ingressar no Aspirantado.
Para D. Bernardo, o sacerdócio é esse serviço que nos indica o Evangelho. “Como leigos, religiosos e religiosos, temos que nos colocar a serviço. O sacerdócio não é status, dinheiro. E nós, padres, devemos lutar mais para servir e estar próximos dos mais necessitados. Isso é o mais importante. E tenho certeza que Frei Paulo faz isso!”, disse o bispo, que lembrou do falecimento de Frei Agostinho Piccolo, seu confrade na Província, que deu exemplo de alguém que viveu neste serviço a Deus.
Após a homilia, o rito continuou com o propósito do eleito (VEJA MAIS SOBRE O RITO DE ORDENAÇÃO). Em seguida, foi cantada a Ladainha de todos os Santos, quando o eleito prostrou-se, como sinal de sua total entrega a Deus. Veio, então, o momento central da ordenação com a imposição das mãos e a Prece de Ordenação. Na sequência, a última parte do rito: unção das mãos, vestição do eleito com a casula e a estola – Frei Germano e sua mãe o ajudaram neste momento – e a entrega do pão na patena e o vinho e a água no cálice para dar sequência à celebração eucarística.
AGRADECIMENTOS
Frei Germano falou em nome do Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição. “Estou aqui como porta-voz para comunicar a alegria de todos por este momento. Devido à distância, a presença de muitos aqui não foi possível, mas eu trago mensagens e orações de todos os cantos da Província, meu caro Frei Paulijacson!”, disse o Definidor, que lembrou a Frei Paulo uma frase de S. João M. Vianney – “o sacerdote não é sacerdote para ele mesmo” – e disse para ele nunca se esquecer do pedido do Papa Francisco: ter sempre o cheiro das ovelhas.
Frei Germano agradeceu carinhosamente ao bispo e confrade D. Bernardo, que veio de Óbidos para ordenar Frei Paulo, à Paróquia de São Miguel, na pessoa do Pároco Pe. Valdeci Donato da Silva, à Equipe Missionária que preparou a ordenação, aos familiares, especialmente a mãe e os irmãos, e não economizou palavras amorosas ao hospitaleiro e acolhedor povo de São Miguel, que deu um grande exemplo de hospitalidade ao acolher a caravana dos catarinenses em suas casas.
Frei Paulo também fez os seus agradecimentos e disse que tem consciência que a ordenação sacerdotal não é um ponto de chegada, mas é sobretudo um ponto de partida ao longo do ministério que irá exercer daqui em diante. “Vou me tornar, com ajuda de todos vocês, meus caros irmãos na fé, sempre mais padre. Sei que a minha vocação não é um favor que faço a Deus. É a resposta ao imenso favor que Deus me fez chamando-me para o seu serviço”, garantiu.
Frei Paulo disse que entende o sacerdócio como apresenta o Papa Francisco. “O sacerdote é chamado a proclamar a misericórdia de Deus, ter um coração que se comove. É necessário curar as feridas, há muitas pessoas necessitadas. Nós, sacerdotes, precisamos estar perto dessas pessoas. Ser presbítero, antes de tudo, significa curar feridas”, completou.
Primeira parte da ordenação: até o propósito do Eleito.
Segunda parte da ordenação: da Ladainha até o final da celebração.