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Frei Felipe Carretta se prepara para sua ordenação presbiteral no Espírito Santo

07/10/2025

Entrevistas, Notícias

 

“Completai em mim a obra começada”. Inspirado pelo Salmo 137, versículo 8, Frei Felipe Medeiros Carretta se prepara para dar seu sim definitivo à caminhada franciscana, assumindo também o compromisso com o ministério presbiteral.

Imbuído pela força da fé e marcado pelo testemunho de São Francisco de Assis em sua vida, no seguimento de Jesus Cristo, o jovem frade será ordenado presbítero no dia 11 de outubro de 2025, em sua terra natal, Vila Velha (ES), pelas mãos de Dom Andherson Franklin Lustoza de Souza.

A celebração, que reunirá frades, presbíteros, religiosos, religiosas, familiares, amigos e comunidade, será realizada no Santuário do Divino Espírito Santo, às 18h, local profundamente ligado à história de Frei Felipe, especialmente ao seu encontro com o chamado vocacional na Ordem dos Frades Menores.

A Ordenação Presbiteral será transmitida ao vivo pela TV Franciscanos, no YouTube; e pelo Facebook.

Acompanhe, na entrevista abaixo, os testemunhos do frade sobre sua caminhada na Ordem, sua missão franciscana e suas expectativas.

Site Franciscanos  Como o senhor descreve sua caminhada religiosa na Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil? (Aqui seria interessante o senhor falar um pouco do seu chamado vocacional e sua caminhada)

Frei Felipe Medeiros Carretta Caros irmãos, com alegria chego até vocês através desta entrevista, partilhando minha história de vida e vocacional. Falar da minha caminhada na Província é também falar da minha vocação, falar do meu primeiro amor, falar e relembrar do meu chamado à vida religiosa franciscana. Pois bem, sou natural da bela Vila Velha, lugar escolhido pela Mãe das Alegrias para fazer morada, no estado do Espírito Santo.

Lá, a Província da Imaculada tem uma história fecunda. Atualmente, temos duas presenças naquela cidade. A primeira é o Convento de Nossa Senhora da Penha, lugar onde o santo Frei Pedro Palácios ergueu uma ermida para abrigar o quadro da Mãe das Alegrias. Acredito que esta história é bem conhecida e dispensa maiores explicações. A outra presença é a minha paróquia de origem, Nossa Senhora do Rosário, que conta com o cuidado pastoral dos frades há mais de 80 anos.

Desta forma, a presença dos frades sempre foi uma realidade em minha história. Toda a minha formação eclesial foi com os frades; todo o meu jeito de ser Igreja foi moldado por eles e pela espiritualidade franciscana. Assim, os frades e eu sempre tivemos uma importante aproximação. Podemos falar de algumas personas que merecem destaque, tais como: Frei Ladi Antoniazzi, o primeiro frade que conheci e com quem tive contato; o grande e afamado em santidade Frei Aurélio Stulzer, que não conheci pessoalmente, mas cuja história vivida naquelas terras sempre esteve presente na memória do povo e na minha; Frei Clarêncio Neotti, por quem nutro grande admiração; Frei Florival Mariano, um grande amigo; Frei Paulo Pereira, nosso Provincial, enfim, muitos frades que, com seu testemunho e singularidade de vida, foram me apresentando este belo modo de viver: no serviço à Igreja e em fraternidade.

Sempre fui muito participativo em minha comunidade de origem, o Santuário do Divino Espírito Santo, onde minha família tem histórias enraizadas. Meus avós ajudaram na construção daquele templo, liderado por Frei Firmino Matuschek. Lá fui coroinha, catequista de Crisma, participei das equipes de canto e liturgia, do grupo de jovens e trabalhei na secretaria paroquial. Interessante notar que esses serviços realizados ali sempre me davam muito gosto e alegria de executar.

E assim o tempo se passa e a vida nos impele a dar respostas. Uma delas que tive que dar foi sobre a faculdade que deveria cursar. Já estava finalizando o ensino médio e, então, comecei a cursar Engenharia de Petróleo , tudo a ver comigo… só que não.

Ah, neste ponto podemos voltar um ano. O Frei Paulo Pereira me fez o convite para entrar no processo formativo de nossa Província, e minha resposta foi logo um “não” enfático, como ele mesmo diz. Mas posso afirmar que aquele convite ficou ressoando em meu coração.

No ano de 2012, no Santuário, começaram os preparativos para a Ordenação Presbiteral de Frei Vanderlei Grassi. Posso afirmar que, na vivência desses preparativos, meu coração já pulsava esta querência de viver de outra forma — não mais pelo que eu tinha vivido e estava empenhando minha vida até aquele momento, mas pelo desejo de doar-me por inteiro àquilo que surgia como uma nova possibilidade de ser e viver.

A Semana Missionária foi um dos pontos altos: foram muitos frades ajudar nas missões, e aquilo me enchia os olhos. Toda a preparação do rito de ordenação, em si, também me gerava muita alegria. Saí daqueles momentos celebrativos com a decisão de querer viver como os frades, de fazer do serviço esporádico que outrora tinha o ordinário da minha vida. Posso dizer que esses dois motes foram o meu ponto de partida.

Lembro-me até hoje da conversa com Frei Paulo sobre esta minha recente decisão de ir para o seminário. Sua fala foi certeira: “Eu já sabia, estava estampado no seu rosto. Só faltava você mesmo descobrir.” E assim começamos nosso processo de caminho vocacional. Gosto sempre de contar esta história porque ela nasceu de um chamado. Nós, frades, temos que chamar os jovens para conhecer, viver e experimentar nossa forma de vida. Assim foi comigo.

Não posso deixar de mencionar minha grande devoção a Nossa Senhora da Penha, a Virgem das Alegrias. Como todo bom capixaba, sempre me entreguei à sua maternal intercessão em todo o meu caminho de consagração religiosa franciscana. Ela sempre esteve  e está  comigo. A certeza de sua presença e intercessão me encoraja a cada dia a manifestar meu “sim” diário ao projeto do Reino de Deus, à fraternidade e, agora, sendo presbítero da Igreja.

Site Franciscanos   O que representa a Ordenação Presbiteral nessa etapa de sua vida, no mesmo ano em que a Província celebra 350 anos de história?

Frei Felipe Carretta Celebrar os 350 anos de nossa amada e histórica Província da Imaculada é uma grande graça para todos nós frades e irmãos e irmãs que dividem conosco a nossa missão evangelizadora. É olhar para trás e perceber que a província foi feita por frades que doaram a sua vida pela causa do Reino; por frades que acreditaram e construíram com as próprias mãos na concretude da vida, o Evangelho encarnado. Para mim é uma graça muito grande ser ordenado presbítero em nossa província e uma responsabilidade enorme pela herança espiritual junto ao povo de Deus que nossa província possui. Embasado nestes termos afirmo que eu também quero ser parte desta construção viva do evangelho encarnado. Quero ser mais um contributo para levar a verdade libertadora do Evangelho a todos que esperam e olham para nós com sede de esperança. Isso, esperança. Esta é a chave de leitura que quero dar e ser ainda mais. Evangelho e esperança andam juntos, quero ser ministro do evangelho levando a todos a esperança, neste terreno fértil que é a Igreja e a nossa Província.

Site Franciscanos  Por que a escolha do tema inspirado do Salmo 138, versículo 8: “Completai em mim a obra começada”?

Frei Felipe Carretta Este versículo do Salmo 137,8 já me acompanha há bastante tempo. Já é uma oração pessoal. Posso afirmar que este salmo me coloca na pura dependência de Deus, eu sozinho não me basto e também não consigo ser e nem realizar absolutamente nada. O ministério que assumirei não exercerei por graça pessoal, mas somente pela graça de Nosso Senhor. Quem completa e realiza a obra é Ele, assim quero que meu ministério seja, uma obra que Ele complete, que ele realize e que eu seja instrumento em suas mãos. Outra inspiração foi a imagem utilizada em meu convite, um afresco da Basílica de São Francisco que retrará a estigmatização de nosso Pai Seráfico. Francisco é para mim este exemplo de que se deixou ser conduzido pelo Altíssimo, a sua estigmatização é este gesto claro de que Deus completou a obra começada. É a planificação do amor.  A entrega de uma vida que é abraçada e completada por Deus. Por isso peço: “Completai em mim a obra começada”.

Site Franciscanos  Quais as expectativas para o dia da Ordenação Presbiteral e para sua primeira celebração como presbítero?

Frei Felipe Carretta Muitas são as expectativas. Primeiramente uma emoção muito grande toma conta de mim. Estar ali no Santuário que é a minha comunidade de origem, lugar de meu crescimento e amadurecimento humano e religioso, onde tenho fortes laços com amigos, e viver mais este sacramento, confesso que aquece o coração e mareja os olhos. Porém, com o sentimento de gratidão a Deus por me escolher e chamar parta servir na sua vinha. Como frade jovem e ordenado presbítero quero ser anunciador das abundantes graças e misericórdias de Deus. Quero servir a mesa do altar e a vida do povo. Ser sinal de luz e esperança, em um mundo que ofusca a esperança. Enfim, quero servir!

Site Franciscanos  De que forma o senhor se imagina vivendo o ministério presbiteral à luz do carisma franciscano?

Frei Felipe Carretta São Francisco sempre foi um profundo admirador do mistério da Eucaristia, encontrava nela a fonte de sua missão e da nascente forma de vida. Também tinha uma grande veneração pelos sacerdotes, pois através deles o Senhor se faz presente na modesta aparência do pão. Outra reflexão de Francisco é sobre o modo de que os frades devem pregar sempre tendo o teor da misericórdia e bondade de Deus. Assim quero levar o ministério a mim confiado, levando esperança, amor e misericórdia. A nossa forma de vida muito contribui para o ministério, o nosso modo de viver em fraternidade é hoje uma profecia também. Onde uma onde personalista e egoísta toma conta de nossa sociedade, a fraternidade pode ser um dos remédios que temos as mãos. Francisco nos impele a sermos profetas, sua forma de vida é profética, e eu quero ser este anunciador com o ministério presbiteral.

Site Franciscanos  Que mensagem o senhor deixaria àqueles que pensam em trilhar a vocação franciscana?

Frei Felipe Carretta Se eu pudesse deixar uma mensagem a quem sente no coração o desejo de trilhar a vocação franciscana, eu diria assim:

A religiosa e vida franciscana não é uma estrada fácil, mas um caminho de radicalidade evangélica, de simplicidade e de entrega. É viver como São Francisco, que não quis outra coisa senão configurar-se a Cristo pobre, humilde e crucificado. Ser frade menor é assumir a beleza de ser irmão de todos, pequeno diante de Deus, servidor junto dos últimos, e construtor da fraternidade onde quer que esteja.

Se você sente esse chamado, não tenha medo! Deus não tira nada, Ele dá tudo. Ele lhe dará irmãos, uma família, uma missão, uma alegria profunda que o mundo não pode dar. Claro, haverá renúncias, haverá cruzes, mas também uma liberdade que só quem se entrega ao Evangelho conhece.

Portanto, escute a voz do Senhor: “Vai, reconstrói a minha Igreja”. Se entregue, confie, e vá descobrindo dia a dia a graça de ser pobre, livre e alegre no Senhor. Venha ser um frade menor! Paz e Bem!


Adriana Rabelo Rodrigues