Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Davi é homenageado no programa de Luciano Huck

18/01/2021

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                                                                                                                     Imagem: Captura de tela do Programa de Luciano Huck

David Raimundo dos Santos, de 68 anos, o Frei David, criado em Vila Velha, no Espírito Santo, foi o homenageado do Caldeirão deste sábado, 16/1, por sua obra. Fundador da Educafro, ONG que já garantiu o acesso de mais de 60 mil negros no ensino superior, ele contou sua história e foi às lágrimas com a homenagem preparada pelo programa.

Inconformado com a Ditadura e desigualdade, o religioso decidiu que atuaria para melhorar o mundo, e ingressou no seminário. Ao sofrer racismo, assumiu sua negritude e decidiu que lutaria pelo povo negro.

“O primeiro fator que mexeu muito comigo foi ser jovem na Ditadura Militar, e vendo todas as consequências negativas para quem queria um Brasil igualitário. Fiz uma primeira opção: ‘Quero ser diplomata, porque quero ajudar o Brasil a ser melhor pelo caminho pacífico’.”

“Lá no Instituto Rio Branco, vi que ele foi pensado para rico. Então, eu voltei a me recolher e me refugiava no convento Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha. Ali, concluí que minha diplomacia deveria acontecer pelo caminho do reino de Deus. É impossível um mundo melhor sem combater as desigualdades sociais”, contou Frei David.

Religioso, que há quatro décadas dedica sua vocação para denunciar e combater o racismo no Brasil, ele foi o responsável por muitas reparações históricas com sua luta. “Me considero uma pessoa inquieta, descobri a partir do próprio sofrimento que devemos investir na consciência do povo negro, em criar oportunidades. Há mais de 40 anos, lutamos pela inclusão do negro nas oportunidades que todo branco tem.”

“No seminário, comecei uma experiência. Éramos 37 seminaristas e só oito afrodescendentes. Percebi que os oito estavam em autonegação. Por que eu negava minha negritude? Então houve um momento de discriminação muito forte comigo e decidi arrumar minha mala e ir embora. Um formador trabalhou comigo o seguinte: você sofre de uma doença, que se chama ideologia do embranquecimento. Você tem vergonha do seu cabelo, da sua cor, tudo o que é ligado ao seu povo negro.”

“Ali nasceu uma determinação: eu só aceito continuar a ser frade franciscano se for para dedicar minha vida a serviço da libertação do nosso povo negro no Brasil.”

Em um encontro com 100 jovens negros, ele descobriu que só dois pensavam em ir para a universidade. A partir daí, fundou o primeiro cursinho pré-vestibular comunitário do Brasil. Em um ano, eram mais de dois mil pelo país. A Educafro, em mais de 30 anos esteve à frente da lei das cotas nas universidades, do Prouni e mais recentemente do fundo eleitoral. “Fizemos nascer o pré-vestibular para negros carentes. Então esse movimento nasceu e contagiou o Brasil inteiro com mais de dois mil pré-vestibulares comunitários. A Educafro tem como objetivo criar uma rede de pré-vestibulares para jovens negros poderem fazer faculdade, para eles também serem formados na sua cidadania, e organizar grandes eventos para esses jovens irem para Brasília lutar por seus direitos. Aí que surgiu as cotas para negros e jovens da rede pública nas universidades brasileiras.”

Renato Ferreira, advogado e professor, foi um dos primeiros a ingressar na faculdade pela política de cotas raciais. “Fui um dos primeiros negros a chegar ali através desse projeto. Era realmente algo significativo. As pessoas negras eram as que estavam limpando. A gente chegou lá com a missão de fazer a diferença. Não só porque a gente era diferente, mas porque a gente tinha aquilo como oportunidade de vida”, disse Renato.

Hoje, o projeto tem um braço chamado Educafrotech, que forma jovens para trabalhar com tecnologia. “Tinha terminado o Ensino Médio e não sabia que carreira seguir, não sabia o que estudar, estava perdido. E pensei: ‘Vou fazer a Educafrotec’, porque é uma área que abrange muitas coisas e vou ter bastante oportunidades de emprego”, contou o estudante Leonardo.

“Eram dezenas de jovens pobres, negros que estudaram durante três meses conosco. Eram oito horas por dia, desempregados, passando fome e que hoje ganham, em média, seis mil reais bruto por mês. Isso é a revolução dos meus sonhos, em pouco tempo ter grandes resultados”, comemorou o frei.

“A humanidade é linda demais. Não percamos oportunidade de construir um mundo melhor, porque vale a pena. Todo mundo ganha. Pobres e ricos são mais felizes em um mundo melhor!”.

Coube a Zezé Motta entregar o prêmio, de forma remota, para frei David: “Tenho uma admiração por ele do tamanho do mundo. Não só pelo religioso, mas pelo militante que luta contra a desigualdade.”

Frei Davi chorou de emoção ao falar de seu lindo e importante trabalho, e do reconhecimento por sua luta incansável: “Queremos cada vez mais negros agindo a atuando, ajudando o Brasil a ser o país ideal que queremos.”
Mumuzinho e Sandra de Sá cantaram “Tributo a Martin Luther King” em homenagem ao religioso.

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