“Frei Alberto, o Espírito não o deixará só”
27/05/2012
Moacir Beggo
Indaial (SC) – Frei Alberto Eckel Junior não poderia ter escolhido data melhor para ser ordenado presbítero. A solenidade de Pentecostes, que dá início à vida da Igreja de Jesus Cristo, marcou também o começo da vida presbiteral deste catarinense, que recebeu o segundo grau da Ordem pela imposição das mãos do bispo diocesano de Blumenau, Dom José Negri, durante a celebração eucarística na Igreja Nossa Senhora de Fátima, no dia 26 de maio, na cidade catarinense de Indaial.
Foi uma bonita celebração, que reuniu os frades de toda a Província, especialmente desta região e do Noviciado, com seus 19 noviços, para celebrarem esta dupla festa.
Também participaram os seminaristas do Seminário Franciscano de Ituporanga, diáconos da Diocese e o Pe. Frei Márcio Machado, da Comunidade São Francisco de Assis.
Os pais, Alberto e Jociane Mary Trindade Eckel, e os irmãos Thiago e Thaize, já não residem mais em Indaial, mas Frei Alberto quis voltar à cidade onde se formou e cresceu até se mudar para o seminário. O povo retribuiu a sua escolha lotando a igreja para celebrar este momento histórico em sua vida.
Muito simpático, Dom José presidiu a celebração, que teve como concelebrantes o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, e o pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Pe. Célio Ribeiro, e disse que estava muito feliz, pois era a primeira vez que ordenava um filho de São Francisco, santo por quem tem muita estima e veneração. Dom José nasceu na Itália.
Fazendo uma reflexão sobre o tema escolhido por Frei Alberto – “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37) -, Dom José disse que a sede pode expressar um desejo natural, como beber água, mas ela pode também simbolizar outro tipo de desejo: “São Francisco, por exemplo, na primeira fase de sua vida sentia sede, mas de riqueza, de poder, de vingança contra seus inimigos e corria, corria sem sossego atrás disso. Em certo ponto, a sua sede se transformou e o encontro com o Senhor lhe mudou a vida; ele passou a ter sede do Evangelho, de auxiliar os pobres e de atender os leprosos, que eram excluídos da sociedade”, explicou.
Segundo Dom José, essa sua sede é a de um jovem que quer doar a vida pelo Reino, é a sede de alguém que, depois de anos de caminhada vocacional, sente-se preparado não só para atender ao chamado de Jesus – “Venha a mim” -, mas, sobretudo, aceitar ser como o próprio Jesus. “Essa também não foi por acaso a experiência mística de Francisco? Ele procurou tanto o Cristo sofredor que O encontrou e, quando se uniu misticamente ao Crucificado, ficou marcado pelos estigmas, que se reproduziram em sua carne”, acrescentou.
Dom José disse que o mundo precisa de mais Franciscos e que ele está ao lado de Frei Alberto nesta sua doação, assim como o Espírito não o abandonará. “Ele o acompanhará ao longo de seu ministério e lhe promete – conforme diz o Evangelho (Jo 7,38) – que rios de água viva, frutos e bênção o acompanharão e a sua sede de Deus será saciada”.
Terminada a homilia teve início o rito de ordenação . Frei Alberto foi revestido das vestes litúrgicas por Frei Valdecir Schwambach, guardião do Convento da Penha e o diácono Frei João Francisco. Já como presbítero, Frei Alberto recebeu o cálice e patena de Dom José e, pela primeira vez, ele exerceu o seu ministério, concelebrando com o bispo e os presbíteros.
Alegria e agradecimentos
Frei Fidêncio, em nome de toda a Província, agradeceu a Dom José pela disponibilidade ao aceitar o convite de ordenar Frei Alberto. “Quero agradecer-lhe porque nos permite, como Frades Menores, fazer penitência na sua Diocese. Como São Francisco diz: fazer penitência é viver a nossa vocação e a nossa missão em Blumenau,em Gaspar, onde nossos frades se fazem presentes”, acrescentou.
Frei Fidêncio demonstrou toda a sua gratidão à comunidade e a Pe. Célio e Pe. Márcio que tornaram possível esta festa em Indaial. Fez um agradecimento especial a Frei Valdir Laurentino, guardião da Fraternidade do Noviciado, que recebeu os frades que participaram da celebração. Por último, agradeceu à família de Frei Alberto: “Sr. Alberto, Jociane, Thiago e Thayse, obrigado a vocês do fundo do nosso coração. Vocês foram abençoados tantas vezes e hoje mais uma vez foram abençoados por esse filho, irmão, sacerdote da Igreja. Obrigado a todos!”. Pe. Célio agradeceu aos frades por trazerem um pouco do carisma de São Francisco a Indaial. “Essa paróquia não será a mesma depois desta ordenação, depois deste momento tão bonito, tão sagrado e tão carregado do Espírito de Deus. Muito obrigado, Frei Alberto, muito obrigado, Frei Fidêncio!”, completou.
Mensagem Final
No final, Dom José deixou a seguinte mensagem ao novo presbítero: “Frei Alberto, hoje padre, escolheu um bispo para ordená-lo que é missionário. Você sabia disso? Então, não posso terminar esta celebração sem lhe dizer que, pelas minhas mãos episcopais, sacerdotais consagradas, quero que passe também este espírito missionário a você. Hoje é dia de Pentecostes. É graças a Pentecostes que a fé se espalhou pelo mundo inteiro. A Palavra de Deus correu até os confins da Terra”, disse, chamando os noviços angolanos para ficarem ao seu lado no altar. “A fé se espalhou no mundo inteiro. E nós estamos aqui representando esse mundo inteiro. Não esqueça, Frei Alberto, de ser franciscano, mas também de operar para o mundo. E o mundo te espera. Não é só o Estado do Espírito Santo. Tem muito mais Espírito Santo no mundo inteiro que espera a tua palavra!”. Em seguida, Dom José chamou ao seu lado os pais de Frei Alberto: “Eu acredito plenamente que a vocação de um jovem nasce numa família, como Frei Alberto já falou no seu agradecimento. Não esqueçam a grande responsabilidade que têm as famílias diante de Deus. Os filhos não são nossos. Eles são de Deus. Eu quero agradecer a esta família que ofereceu um filho à Igreja. Esse gesto de vocês foi corajoso e, acompanhar o seu filho até esse momento, é uma grande bênção”, finalizou, dando a bênção final. Se Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa, a ordenação de Frei Alberto também marcou o coroamento de uma série de onze ordenações presbiterais para a Província da Imaculada Conceição neste primeiro semestre de 2012.
ÍNTEGRA DA HOMILIA
Caro Frei Alberto!
Saiba da minha grande alegria por ter sido convidado para presidir esta Ordenação em que, pela imposição de minhas mãos, o Espírito o ungirá e como nosso novo apóstolo. Estou feliz, pois é a primeira vez que ordeno um filho de São Francisco, santo pelo qual tenho muita estima e veneração.
Hoje é um dia de festa. O povo, numeroso, vem confirmar a alegria de ter mais um irmão entre nós, o qual foi chamado a servir à Igreja como presbítero na Ordem dos Frades Menores que, há mais de cem anos, está semeando a boa nova nestas terras. Todos nós nos alegramos: a sua família aqui presente, a família franciscana, representada pelo Ministro Provincial, a Diocese em que você nasceu e que represento, a sua paróquia, onde você quis ser ordenado. Por essa graça, todos louvamos e agradecemos ao Senhor!
O lema que você escolheu – “Se alguém tem sede” – nos lembra um episódio importante do evangelho, relatado por João: o encontro de Jesus com a samaritana que tinha ido a um poço buscar água. Ao encontrar-se com Jesus ela teve saciada a sua sede, com a água que é fonte de vida e que somente Ele poderia proporcionar (Jo 4).
A sede pode expressar um desejo: um, entre os mais comuns, como o de algo tão natural, como a água; mas ela pode também simbolizar outro tipo de desejo. São Francisco, por exemplo, na primeira fase de sua vida sentia sede, mas de riqueza, de poder, de vingança contra seus inimigos e corria, corria sem sossego atrás disso. Em certo ponto, a sua sede se transformou e o encontro com o Senhor lhe mudou a vida; ele passou a ter sede do evangelho, de auxiliar os pobres e de atender os leprosos, que eram excluídos da sociedade. Por isso hoje, caro Frei Alberto, São Francisco lhe diz: “Venha a mim”, isto é, “veja como foi a minha vida, apreenda do meu exemplo, entenda e viva sua vida como eu vivi a minha, no caminho do Mestre”. E ainda: “Cultive em seu coração a sede do evangelho, tenha ‘sede’ dos pobres, dos que estão às margens da sociedade, tenha ‘sede e fome de justiça’”.
Essa sua sede, meu caro ordenando, é a de um jovem que quer doar a vida pelo Reino, é a sede de alguém que, depois de anos de caminhada vocacional, sente-se preparado não só para atender ao chamado de Jesus – “venha a mim” -, mas, sobretudo, aceitar ser como o próprio Jesus. A pergunta que lhe farei daqui a pouco será: “Queres unir-te cada vez mais ao Cristo, sumo sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com ele consagrado a Deus para a salvação da humanidade?”. Isso, em poucas palavras, é como se Jesus estivesse perguntando: “Você quer comigo subir à Cruz?” E não esqueçamos quando Jesus, nos últimos momentos de sua vida, deu tudo para todos. Quando ele disse: “Tudo está consumado!” também acrescentou: “Tenho sede!”. Ele deu tudo de si, a vida Dele foi uma doação total, que no fim Ele precisou de nós. “Tenho sede!”. Essa também não foi por acaso a experiência mística de Francisco? Ele procurou tanto o Cristo sofredor que O encontrou e, quando se uniu misticamente ao Crucificado, ficou marcado pelos estigmas, que se reproduziram em sua carne.
Hoje, o nosso mundo, a sociedade, precisa de outros Franciscos. No mundo em que nós vivemos, onde predomina o individualismo, a secularização tomou conta da sociedade. Precisamos de alguém que assuma na sua carne, na sua pele, na sua vida, os estigmas de Jesus. E hoje Francisco está aqui ao seu lado para lhe acompanhar nesta sua doação.
Essa doação exige sacrifícios. É claro que você não está sozinho na entrega de sua vida ao Reino. São Paulo, na carta aos Romanos, nos esclarece que “é o Espírito que vem em socorro da nossa fraqueza”. De fato, quem poderia doar-se, totalmente, com o peso da própria condição humana, dos próprios defeitos, das imperfeições? Justamente hoje, dia em que celebramos as vésperas da grande festa de Pentecostes, saiba que o Espírito não o deixará só. Ele o acompanhará ao longo de seu ministério e lhe promete – conforme diz o Evangelho (Jo 7,38) – que rios de água viva, frutos e bênção o acompanharão e a sua sede de Deus será saciada.
Dom José Negri,
bispo diocesano de Blumenau (SC)