Expectativa aumenta pela divulgação da encíclica do Papa com visão franciscana da ecologia
16/06/2015
A primeira encíclica do Papa Francisco sairá nesta quinta-feira (18), mas a expectativa já toma conta do mundo. O jornal italiano “L’Espresso” aumentou ainda mais essa ansiedade ao conseguiu com exclusividade o texto da carta, que traz uma introdução, seis capítulos e duas orações finais. Em quase duzentas páginas, o Papa Francisco oferece ao mundo a sua encíclica “Laudato si, sobre o cuidado da casa comum”.
Imediatamente, o Vaticano reagiu com uma nota do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, dizendo que este texto italiano é um rascunho da Encíclica do Papa “Laudato Si” e “não é o texto final”. Segundo a nota, pede-se para “ respeitar a correção jornalística que pede para se aguardar a publicação oficial do texto final”.
Neste texto ‘em rascunho’, o Papa abre a encíclica com o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Segundo o Pontífice, nesta bela canção, Francisco de Assis recordou-nos que a nossa casa comum também é como uma irmã, com quem partilhamos a existência, e como uma bela mãe que nos acolhe em seus braços: “Louvado sejas, meu Senhor, Por nossa irmã a mãe Terra Que nos sustenta e governa, E produz frutos diversos E coloridas flores e ervas”.
“Acredito que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado para o que é fraco e uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade”, escreve o Papa.
É a primeira encíclica “verde” da história da Igreja e promete polêmica e vai colocar sob pressão os participantes da Conferência do Clima 2015, marcada para Paris e onde serão debatidas as alterações climáticas e o fracasso do protocolo de Quioto.
No documento, segundo fontes do Vaticano e o ‘rascunho’ publicado, o Papa vai esquentar o tema da internacionalização da Amazônia. “Existem propostas de internacionalização da Amazônia, que servem apenas os interesses econômicos das multinacionais”, escreve o Papa. Ainda no governo Lula, o jornal “The New York Times” questionou a capacidade brasileira de zelar pelo riquíssimo patrimônio amazônico. Na época, o presidente Lula bradou: “A Amazônia tem dono, e são os brasileiros”.
Mas a polêmica é antiga. Já em 1989, o ex-vice-presidente americano e Nobel da Paz, Al Gore, disse: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é só deles, mas de todos nós”.
O Papa também tece críticas duras ao “capitalismo selvagem” e às empresas multinacionais – apelidadas de “predadoras” do planeta que enriquecem “à custa do aumento do fosso entre ricos e pobres”.
A encíclica, publicada em seis línguas, aborda também as “injustiças” na distribuição de recursos, a fome, o desperdício de alimentos, a exploração de recursos naturais em continentes como a África, o aquecimento global, a desmatamento ou a poluição.
Esta é a primeira encíclica totalmente dedica à ecologia, mas o Papa Francisco lembra João Paulo II e Bento XVI que abordaram o tema. O Papa polaco insistiu bastante, no início da década de 1990, na degradação da camada do ozono e o Papa emérito chegou a ser apelidado de “Papa verde” devido às referências constantes à sustentabilidade e aos avisos deixados aos líderes mundiais sobre as alterações climáticas. Em 2013, Bento XVI publicou o livro “Pensamentos sobre o Ambiente”, em que defende o direito de todos os seres humanos à alimentação e aos recursos naturais.
Já é certo que Francisco irá falar sobre a encíclica numa cimeira especial da Assembleia Geral da ONU, a 25 de Setembro, durante uma visita aos Estados Unidos. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, esteve no Vaticano para participar de um encontro sobre alterações climáticas organizado pela Santa Sé e pelas Nações Unidas e anunciou que Francisco será o primeiro Papa a discursar num encontro do gênero.
Pouco tempo depois, de 30 de novembro e 11 de dezembro, será realizada a Conferência do Clima 2015. Espera-se que seja definido um novo acordo climático global, centrado na redução de emissões para limitar o aumento médio da temperatura em dois graus.
São esperadas entre 40 e 50 mil pessoas, de mais de 95 nações, na Conferência do Clima, em Paris. Com previsão de efeito a partir de 2020, o acordo de Paris determinará todos os esforços para contenção das emissões de gases do efeito estufa que tem prejudicado o desequilíbrio climático do planeta, que faz com que secas, inundações e tempestades sejam cada vez mais comuns, além do preocupante aumento do nível dos mares.
O objetivo da ONU, para os próximos anos, é limitar a elevação do aquecimento global em até 2ºC. Cientistas dizem que, se continuar pelos níveis de crescimento atuais, o clima terrestre poderá entrar em colapso.