Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Íntegra do discurso do Papa aos frades capitulares

28/05/2015

Notícias

Caros Frades Menores,

Sejam bem-vindos! Agradeço ao Ministro Geral, Frei Michael Perry, por suas cordiais palavras e desejo a ele todo bem na missão para a qual foi confirmado. Estendo meus cumprimentos a toda a Ordem, especialmente aos irmãos enfermos e idosos, que são a memória da Ordem e a presença de Cristo Crucificado na Ordem.

Nestes dias de reflexão e oração, vocês têm se deixado guiar em particular por dois elementos essenciais da sua identidade: a minoridade e a fraternidade.

E eu pedi um conselho a dois amigos franciscanos, jovens, da Argentina: “Devo dizer algo sobre a minoridade, deem-me um conselho”. Um deles me respondeu: “Deus me conceda a minoridade cada dia.” O outro me falou: “É isto que procuro fazer todos os dias”. Esta é a definição de minoridade que estes dois amigos, jovens franciscanos da minha terra, me deram.

A minoridade convida a ser e a sentir-se pequenos diante de Deus, confiando-se totalmente à sua infinita misericórdia. A perspectiva da misericórdia é incompreensível para aqueles que não se reconhecem “menores”, isto é, pequenos, necessitados e pecadores diante de Deus. Quanto mais somos conscientes disto, mais próximos estamos da salvação; quanto mais somos convencidos de sermos pecadores, tantos mais estamos dispostos a sermos salvos. Assim acontece no Evangelho: as pessoas que se reconhecem pobres diante de Jesus alcançam a salvação; quem, ao contrário, acredita que não tenha necessidade, não recebe a salvação, não porque ela não lhe seja oferecida, mas porque não a acolhe. Minoridade também significa também sair de si mesmo, dos próprios esquemas e visões pessoais; significa ir além das estruturas – que também são úteis se usadas sabiamente -, ir além dos hábitos e das seguranças, para testemunhar uma concreta aproximação dos pobres, dos necessitados, dos marginalizados, em uma autêntica atitude de partilha e serviço.

Também a dimensão da fraternidade pertence de maneira essencial ao testemunho evangélico. Na Igreja das origens, os cristãos viviam a comunhão fraterna a ponto de constituírem um sinal eloquente e atraente de unidade e caridade. As pessoas se maravilhavam ao verem os cristãos unidos daquela forma no amor, disponíveis no dom e no perdão mútuos, solidários na misericórdia, na benevolência, na ajuda mútua, unânimes em dividirem as alegrias, os sofrimentos e as experiências da vida. A família religiosa de vocês é chamada a exprimir esta fraternidade concreta, mediante o resgate da confiança recíproca – e sublinho isto: resgate da confiança recíproca – nas relações interpessoais, a fim de que o mundo veja e creia, reconhecendo que o amor de Cristo cura as feridas e unifica.

Nesta perspectiva, é importante que venha recuperada a consciência de serem portadores da misericórdia, da reconciliação e da paz. A vocação e missão de vocês alcançarão frutos à medida que vocês sejam sempre mais uma congregação “em saída”. Este é o carisma de vocês, conforme está atestado no “Sacrum Commercium”. Nesta história sobre a origem de vocês, narra-se que aos primeiros frades foi pedido que mostrassem qual era o seu claustro. Para responder, eles subiram em uma colina, “mostrando toda a terra onde o olhar alcançasse”, e disseram: “Este é o nosso claustro”. Caros irmãos, neste claustro, que é o mundo inteiro, caminhem ainda hoje, impulsionados pelo amor de Cristo, como os convida a fazer São Francisco, que na Regra Bulada diz: “Aconselho, admoesto e exorto aos meus irmãos no Senhor Jesus, que, quando forem pelo mundo, não litiguem e evitem as disputas de palavras e não julguem os outros; mas sejam brandos, pacíficos e modestos, mansos e humildes, falando honestamente com todos. … Em qualquer casa que entrarem, digam antes de tudo: “Paz e esta casa”; e seja lícito comerem de todos os alimentos que lhes sejam oferecidos. (RB III, 10-14). Esta última recomendação é particularmente boa!

Estas exortações são de grande atualidade; são profecia de fraternidade e de minoridade também para o nosso mundo de hoje. Como é importante viver uma existência cristã e religiosa sem se perder em disputas e conversas inúteis, cultivando um diálogo sereno com todos, com brandura, mansidão e humildade, em meio aos pobres, anunciando a paz e vivendo sobriamente, felizes por aquilo que é oferecido. Isto requer também um empenho decidido na transparência, no uso ético e solidário dos bens, num estilo de sobriedade e desapego. Se, ao contrário, vocês forem apegados aos bens e às riquezas do mundo, e puserem aí a sua segurança, será o Senhor mesmo quem despojará vocês deste espírito de mundaneidade para preservar o precioso patrimônio de minoridade e de pobreza ao qual vocês foram chamados por meio de São Francisco. Ou vocês sejam livremente pobres e menores, ou então vão terminar despojados.

O Espírito Santo é o animador da vida religiosa. Quanto mais espaço damos a Ele, mais Ele se faz animador das nossas relações e da nossa missão na Igreja e no mundo. Quando os consagrados vivem deixando-se iluminar e guiar pelo Espírito, descobrem nesta visão sobrenatural o segredo de sua fraternidade, a inspiração de seu serviço aos irmãos, a força de sua presença profética na Igreja e no mundo. A luz e a força do Espírito os ajudarão também a enfrentar os desafios que vocês têm diante de si, em particular o declínio numérico, o envelhecimento e a diminuição de novas vocações. Tudo isto é um desafio. Mas eu lhes digo: o povo de Deus ama vocês. O Cardeal Quarracino uma vez me disse mais ou menos assim: “Em nossa cidade existem alguns grupos e pessoas um pouco irreverentes, e quando passa um sacerdote, dizem isto a ele: ‘Corvo!’ – na Argentina dizem isto -, o insultam, não fortemente, mas dizem algo semelhante. Jamais, jamais, jamais – me dizia Quarracino – dizem estas coisas diante de um hábito franciscano”. E por quê? Vocês conquistaram uma autoridade moral junto ao povo de Deus com a minoridade, com a fraternidade, com a brandura, com a humildade, com a pobreza. Por favor, conservem-na! Não a percam! O povo quer bem a vocês, ama vocês.

Sirva de encorajamento em vosso caminho a estima desta boa gente, assim como o afeto e o apreço dos Pastores. Confio toda a Ordem à materna proteção da Virgem Maria, venerada por vocês como especial Padroeira com o título de Imaculada. Acompanhe também a vocês minha bênção, que de coração os concedo; e, por favor, não se esqueçam de rezar por mim, eu preciso. Obrigado!

PAPA FRANCISCO

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES DO CAPÍTULO GERAL DA ORDEM DOS FRADES MENORES

Sala Clementina
Terça-feira, 26 de maio de 2015