“Brasil, que matas o povo negro e oprimis sua gente, que vergonha!”.
04/02/2022
O arcebispo de Feira de Santana (BA) e referencial para a Pastoral Afro Brasileira da CNBB, dom Zanoni Demetino Castro, escreveu o artigo “Brasil, que matas o povo negro e oprimis sua gente, que vergonha!”.
Brasil, Brasil, ainda não reparaste o crime de lesa humanidade, os três séculos de escravidão.
Brasil, que matas o povo negro e oprimis sua gente, Que vergonha!
Desde o dia 24/01/2022, temos recebido notícias sobre a morte do jovem negro congolês Moise Mugenyi. O fato não pode ser visto isolado do contexto que vivem e passam milhares de jovens negros e negras mortos nos últimos tempos. Das 34 .918 mortes violentas de jovens divulgadas no final do ano de 2021, 80% são de jovens negros. O cenário é desolador para nossas famílias e comunidades negras. Queremos manifestar nossa solidariedade à família de Moise Mugenyi e às demais famílias, pela dor, sofrimentos e o luto.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que, a ninguém é lícito tirar a vida de um inocente, pois é um ato contrário à dignidade da pessoa e à santidade do Criador. “Não mates o inocente e o justo” (Ex 23,7). Entendemos que a missão da Igreja é evangelizar seguindo os passos e atitudes de Jesus, acolhendo seus ensinamentos e proclamando o Evangelho. “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo dá” (Jo 14,27). Entendemos que a violência é contraria à verdade da nossa fé, à verdade da nossa humanidade. Portanto, a verdadeira paz é vida em plenitude.
Queremos externar nossa indignação com o genocídio de nossa juventude negra. Vidas negras importam. Somos 56% do total da população brasileira e por isso, conclamamos as autoridades civis e jurídicas competentes a tomar uma atitude em favor da vida, a favor das vidas negras. Pedimos que os autores destas mortes sejam punidos na forma da Lei.
Como Pastor, chamado a cuidar e consolar as pessoas, compartilho com todos, sobretudo que mais sofrem neste momento, minhas orações e bênçãos.
CNBB, REDE CLAMOR BRASIL E REDEMIR EMITEM NOTA SOBRE O ASSASSINATO DO CONGOLÊS MOÏSE KABAGAMBE
A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Rede CLAMOR Brasil e a Rede Solidária para Migrantes e Refugiados (RedeMiR) emitiram uma nota, nesta quinta-feira, 3 de fevereiro, por justiça no caso do brutal assassinato do jovem congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, na última semana no Rio de Janeiro, por ter cobrado o seu salário pelos dias trabalhados. O crime aconteceu próximo de um quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
De acordo com a nota, “a barbárie tem sido normalizada quando envolve pessoas pobres, em situação de vulnerabilidade, da periferia. Grande parte da população migrante e refugiada se insere nesse grupo”.
No documento, as instituições destacam que garantir os direitos mais básicos de migrantes e refugiados é um desafio constante no Brasil. “Nunca será demais reafirmar a importância da defesa dos Direitos Humanos em um país que lamentavelmente segue marcando sua história enraizada na violência”, destaca o texto.
Na nota, entidades expressam seus sinceros sentimentos e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa no Brasil e cobram das autoridades públicas “justiça pelo assassinato de Moïse Kabagambe com a responsabilização dos culpados por essa inaceitável e brutal conduta de quem covardemente tirou a vida deste jovem de 24 anos.”
Fonte: CNBB