Arcebispo Carballo fala da crise vocacional
01/11/2013
Cidade do Vaticano – A cultura do provisório tem influência também nas crises vocacionais. Essa foi uma das constatações evidenciadas durante o dia de estudo sobre o tema, realizado nesta terça-feira no Instituto de Espiritualidade da Pontifícia Universidade Antonianum de Roma. A esse propósito, a Rádio Vaticano entrevistou o secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Dom Frei José Rodríguez Carballo, ex-Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, que falou sobre as cifras e as motivações das crises vocacionais de religiosos:
Dom Frei José Rodríguez Carballo:- “Quando se fala sobre a crise na vida consagrada e religiosa, geralmente, se recorre imediatamente aos números de abandonos e se esquece que na vida consagrada a grande maioria vive a fidelidade com muita convicção. Tenho certeza disso e o trabalho, nestes meses, na Congregação, convenceu-me mais ainda de que na vida consagrada hoje há muita “vida” e muita “consagrada”. Contudo, é verdade que os abandonos são preocupantes; assim como é verdade que não posso aceitar que tais abandonos sejam normais, porque depois de tantos anos de formação não é normal que um jovem frade ou uma jovem irmã diga: “Não quero mais isso. Deixo!”. Vemos que as cifras são significativas: estamos falando, mais ou menos, de três mil abandonos a cada ano. É o que chega à nossa Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e à Congregação para o Clero.”
RV: Ao estudar essa realidade o senhor analisou também as motivações dessas crises que, muitas vezes, levam ao abandono?
Dom Frei José Rodríguez Carballo:– “Segundo a documentação que temos, os motivos são fundamentalmente três. O primeiro é uma crise espiritual: diria também crise de fé, em muitos casos. Por isso, parece-me importantíssimo que tanto na formação permanente quanto na formação inicial se reforce a experiência de fé e se reforce também o Primado de Deus. A segunda causa é a falta de pertença afetiva – não jurídica – à fraternidade, à província e ao instituto. Essa falta leva, aos poucos, em alguns casos, a buscar fora aquilo que – dizem – não se encontra dentro, e, consequentemente, leva também ao abandono. O terceiro motivo é afetivo: muitas vezes pensamos que este seja o primeiro motivo. É verdade que muitas crises vocacionais desembocam no matrimônio, acabam em outras escolhas de vida, mas o início da crise é outro.”
RV: Esta cultura do provisório acaba tendo um peso também na vocação dos jovens. Como isso tem se concretizado nas várias áreas do mundo?
Dom Frei José Rodríguez Carballo:- “A influência desta cultura do provisório é diferente segundo o continente em questão e, portanto, influi também na perseverança. Daquilo que eu sei, onde mais há perseverança é na Ásia: talvez pelo fato de na Ásia, onde a Igreja é minoria, existir um sentido religioso muito forte e, consequentemente, isso dá um humus importante também para a vida consagrada. Na América Latina, neste momento, há um pouco de dificuldade: as vocações diminuem e aumenta o número de pessoas que deixam, o mesmo acontece com a Europa. Já na África os números se mantêm: não cresce como se poderia esperar, mas é normal, porque a fé cristã é recente em muitos países. Portanto, nem sempre se pensa segundo o cristianismo! Outro dado que realmente surpreende um pouco é que nos EUA – onde temos uma cultura muito secularizada e onde a Igreja teve uma crise forte, sobretudo devido aos escândalos de abusos sexuais – as vocações estão crescendo: de fato, espera-se que este ano se tenham muitas ordenações sacerdotais, tanto de diocesanos quanto de religiosos. Quando falamos sobre vocações, devemos considerar que não se trata de obra do homem e que a fidelidade não é somente empenho do homem: é Deus que dá a fidelidade, o homem deve acolhê-la. Eis a grande responsabilidade!”