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“Acompanhamento na Vida fraterna” é tema de Congresso Franciscano em São Paulo

01/09/2017

Notícias

 

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – A Formação Permanente está no centro dos estudos e palestras do Congresso Continental da Ordem dos Frades Menores, que tem início neste domingo, 3 de setembro, em São Paulo. “Este é o segundo Congresso da Ordem neste ano e vai reunir os formadores da América Latina e Caribe, já que o primeiro congresso foi realizado na Indonésia, em julho passado, para os países da Ásia”, explica o Vice-Secretário para Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic, que representa a Cúria Geral no evento junto com o Secretário Geral para a Formação e Estudos, Frei Cesare Vaiani.

Este Congresso, que tem o apoio da Província da Imaculada Conceição, reúne três frades representantes das províncias e custódias que fazem parte das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupena e Cone Sul. Por cada província ou custódia participa o Secretário para a Formação e Estudos, o Moderador para a Formação Permanente e o Animador Vocacional, num total de 67 participantes.

O tema escolhido é o “Acompanhamento na Vida Fraterna” no contexto da Formação Permanente. No próximo ano, haverá mais dois congressos continentais: um para os países de língua inglesa (EUA, Canadá, Inglaterra etc.) e um para a Europa do Oeste (Espanha, Portugal, Itália, Europa Central e Custódia de Terra Santa). Em 2019, todos os Continentes serão contemplados com os dois eventos que faltarão: um para a África e outro para a Europa do Leste (Polônia, Eslováquia, Croácia etc.).

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Frei Cesare Vaiani, Secretário Geral

Segundo Frei Cesare, a formação permanente é a base da formação inicial e da animação vocacional. “Também as nossas Constituições Gerais, quando falam de formação, citam antes a formação permanente e depois a inicial. Muitos perguntam por quê? Cronologicamente temos a formação inicial e depois a formação permanente, mas a primeira é apenas uma fase da formação permanente. Acreditamos que o grande desafio para nós, hoje, seja o da formação permanente, porque é um problema com o qual nos confrontamos, principalmente na passagem dos jovens frades da formação inicial à formação permanente”, explica Frei Cesare, um dos principais escritores da Ordem sobre franciscanismo e formação religiosa.

Segundo o Secretário, o problema desta “passagem” não está na formação inicial. “O problema é a vida que se vive nas casas ou fraternidades, que muito frequentemente não correspondem àquilo que foi proposto na formação inicial. Por muitas razões, os frades estão muito empenhados – e isso é bom – nos trabalhos pastorais, apostólicos, mas estão menos presentes, por exemplo, na vida fraterna, na oração de cada dia, nos encontros diários da fraternidade, como, por exemplo, nas refeições. Estes momentos são muito importantes para que a nossa vida seja fraterna. Vemos muitos frades brilhantes como “manager” (administradores) pastorais mas pouco presentes na fraternidade. Por esta razão, a formação permanente é o ponto para se trabalhar mais hoje”, acrescenta Frei Cesare, natural de Milão e professor de História da Espiritualidade e Teologia Espiritual.

Segundo o frade, a formação inicial não é um “serviço militar” para passar depois à outra fase. “Isso não é bom. Devemos trabalhar na formação permanente para fazer a passagem correta entre a formação inicial e a formação permanente”, enfatizou. O frade também questionou a forma com que se pensa a animação vocacional. “Hoje, muitas províncias pensam que o animador vocacional é o encarregado da animação vocacional. É, de fato, e isso deve continuar. Mas o primeiro anúncio da nossa vocação ao jovem é tarefa de todos os frades. É preciso mudar esta mentalidade e lembrar a todos os frades na formação permanente que são eles os primeiros animadores vocacionais. Depois o animador vocacional vai ajudar no discernimento da pessoa que se apresenta”, destacou.

Ao falar do tema, Frei Cesare se deteve sobre a palavra “acompanhamento”. “Nós usamos essa palavra ‘acompanhar’ para indicar a formação à maneira franciscana. Neste conceito, aquele que acompanha, não está à frente nem atrás, mas caminha ao lado, como um companheiro ajudando na formação. O protagonista principal na formação, dizem nossos documentos, é o frade mesmo. Eu sou protagonista da minha formação. Outro protagonista fundamental é o Espírito Santo. O formador ajuda na mediação entre a pessoa e o Espírito Santo na tomada de decisão sob a luz de Deus. A formação para nós é esse acompanhamento. Não substitui você, não decide por você, mas o ajuda a tomar a decisão na direção certa. A palavra ‘acompanhamento’, talvez, exprime bem este modelo formativo proposto por nossos documentos”, explicou.

A FORMAÇÃO DOS FORMADORES

Para preparar adequadamente os formadores para essas etapas, a Ordem possui alguns cursos, mas Frei Sinisa diz que ela enfrenta um desafio sobretudo nos países onde temos um crescimento numérico vocacional, como na África. “Ali, temos muitos, muitos ingressos de jovens e frades na etapa formativa, e poucos, muitos poucos formadores. Por isso, é um desafio grande e uma necessidade que enfrentamos”, adianta. Entre os cursos que cita, está o Master para Formadores criado pela Universidade Antonianum de Roma e que  já dura dez anos. “Mas ultimamente tornou-se pouco frequentado em nível mundial porque também deixamos de sugerir aos Provinciais e Visitadores que mandem frades a este Master. São dois anos que oferecem um percurso integrador de toda a formação”, adiantou.

Segundo o frade, em diversos continentes tem-se procurado criar centros que possam oferecer um percurso formativo para os formadores. “Temos nas Filipinas, que atende aos países da Ásia. É feito na língua inglesa, fundamental para um curso em nível mundial. Depois, no próximo ano, oferecemos um curso, juntamente com os Frades Capuchinhos e Conventuais, para todos os formadores das três famílias da Primeira Ordem, tendo em vista a necessidade da África. Este ano já teve um modelo na Nigéria e no ano que vem será organizado em Zâmbia. Seguramente vamos sugerir, neste Congresso, aos nossos formadores, que busquem, em nível provincial ou de conferência, que organizem este curso. Sabemos bem que algumas conferências já organizam este curso para refletir sobre os desafios concretos de sua própria região”, completou Frei Sinisa.

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Frei Cesare citou o congresso para formadores que a Conferência Brasileira organiza a cada dois anos e adiantou que neste Congresso Continental um outro tema será a formação de guardiães na perspectiva da formação permanente. “O guardião é um formador natural em cada convento ou fraternidade, tendo presente que hoje, diferentemente de 20 anos atrás, ele comandava e o frade obedecia. Era tudo muito simples. Agora não é assim. O guardião tem hoje o papel de animar a fraternidade. Mas isto não é fácil, requer competência, requer formação. Então, falar de formação de guardião significa falar de formador fundamental da vida de todo frade e sobre isso trataremos neste congresso”, adiantou.

CONTEXTO DA AMÉRICA LATINA

Ao falar sobre as perspectivas da Ordem na América Latina, Frei Cesare foi mais enfático ainda. O frade destaca a presença, a força e o testemunho dos frades na América Latina, mas vê com preocupação a diminuição do número de vocações. “Um desafio real creio seja o da perseverança, porque nos preocupa não só o número de ingressos mas de egressos da Ordem, embora este seja um problema em toda Ordem. É um problema com o qual nos confrontamos, sobretudo, na formação permanente porque é esta que tem o papel de acompanhar os frades e evitar a saída deles da Ordem. Outro dado preocupante para a Ordem e muito significativo é que um terço dos frades que saem da Ordem o fazem para se tornarem sacerdotes diocesanos. Isso nos questiona, porque evidentemente o problema é a vida fraterna.

Esses frades continuam com o ministério mas não querem continuar na vida fraterna. Quero dizer que este ponto, o da vida fraterna, deveremos trabalhar mais. Porque a finalidade da formação inicial é ajudar os frades jovens a compreenderem a diferença entre a escolha de nossa vida e a de um sacerdote diocesano, com todo respeito pelo sacerdote diocesano, evidentemente, mas são duas vocações diferentes. E a diferença está, sobretudo, no tema da vida fraterna, que é a nossa característica”, insistiu.

Frei Cesare, contudo, lembrou que cada país da América Latina tem sua história, sua tradição, seus problemas. “É difícil fazer um discurso geral para todos os países. Há uma situação formativa no Brasil, por exemplo, outra na Argentina, no Chile, no México, na Colômbia, no Equador. Há uma notável diferença em relação aos cinco países da América Central, que são Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicaragua e Panamá. Cada um desses países é diferente dentro de uma única Conferência. São diversas dificuldades em diversas regiões no Continente Latino-americano. Depois, uma última coisa diz respeito à nossa Ordem, que é muito descentralizada e cada Província responde pela formação. O Secretariado Geral para a Formação e Estudos pode ajudar, desde que queiram ajuda, mas também podemos sugerir àqueles que não querem ajuda. Raramente podemos intervir diretamente, porque estamos longe e o princípio de solidariedade pede que sejamos solidários com eles”, completou, reafirmando a importância deste Congresso.

Os frades serão acolhidos neste domingo, 3 de setembro, no Centro de Formação Sagrada Família, no bairro do Ipiranga, onde permanecerão até o próximo sábado, dia 9.

congresso_010917PROGRAMAÇÃO

No dia 4, o encontro se inicia com as Laudes e a Eucaristia, presidida por Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro da Província da Imaculada Conceição do Brasil, que faz as saudações iniciais logo em seguida. Depois, às 11 horas, haverá a primeira palestra de Frei Cesare com o tema “O acompanhamento recíproco na vida fraterna”. A tarde será destinada para os trabalhos em grupos, ficando às 17h30 reservado o horário para a apresentação e plenário dos grupos.

No dia 5, Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção, preside a Eucaristia. O tema deste dia é “A formação permanente como acompanhamento na vida ordinária”, que será apresentado por Frei Sinisa Balajic. À tarde, os frades se reúnem em grupos e fazem o plenário no final da tarde.

No dia 6, o Definidor Geral Frei Valmir Ramos preside a Eucaristia e Frei Brandão aborda o tema do dia: “O guardião que ordinariamente acompanha a Formação Permanente: seu papel, sua formação”. A tarde é reservada para os trabalhos em grupos e discussões em plenário.

No dia 7, Frei Ramiro de la Serna, da Província de São Francisco Solano, da Argentina, preside a Eucaristia e aborda o tema do dia: “Os que acompanham a promoção vocacional: todos irmãos e animadores provinciais. Alguns elementos do primeiro anúncio vocacional”. Continuam os trabalhos em grupos e as conclusões.

No dia 8, Frei Cesare Vaiani preside a Eucaristia e o Comitê Diretivo apresenta em Assembleia uma declaração que resume os trabalhos em grupo. À tarde, os frades farão uma visita ao Centro antigo da cidade de São Paulo, incluindo o Convento São Francisco, que neste ano celebra 370 anos de fundação, além do Mosteiro da Luz, onde conhecerão o túmulo do primeiro santo brasileiro, Frei Galvão. O encontro termina no sábado, 9 de setembro, com a Eucaristia, presidida por Frei Sinisa.