Vigário Geral fala dos “novos franciscanos e nova evangelização”
23/04/2013
Como realizar a prática do Reino de Deus.
Frei Michael Perry (*)
Queridos irmãos, bom dia! Que a paz de nosso Senhor Ressuscitado esteja sempre com vocês.
É uma grande alegria para mim e os outros membros do Definitório Geral, do secretariado Geral para Missões e a Evangelização e outros ofícios da Cúria Geral, poder participar deste Congresso onde todos tratemos de encontrar os caminhos para levar adiante nosso testemunho franciscano. Este testemunho franciscano missionário evangélico está ligado ao crescimento a ao aprofundamento da nossa humanidade partilhada na fraternidade e no mundo, em diálogo com todas as pessoas e em uma colaboração muito mais profunda e desenvolvida com os leigos. A finalidade de nosso testemunho e a prática da evangelização missionária é nada mais nada menos que a renovação de nossa presença e ação, criando novas respostas e formas, e respondendo as grandes mudanças sócio-culturais, políticos e eclesiais e ao mesmo tempo, respondendo ao chamado do Espírito de Deus.
Se me tem pedido refletir com vocês sobre o tema da prática de nossa missão franciscana na Ordem franciscana, com uma particular atenção ao âmbito da América Latina e Caribe. Antes de tudo, devo confessar-lhes que não sou um especialista do contexto franciscano missionário para o qual sou chamado a refletir. É muito claro para mim que o processo da contextualização não pode ser feito a partir de fora; deve ser feito por vocês, irmãos menores junto com a igreja local, os demais religiosos, os leigos e as demais pessoas de boa vontade presentes na sociedade em que vocês vivem.
Nossa fé cristã deve ser encarnada, interiorizada e contextualizada em nossa vida, na vida da Igreja e na vida do povo ao que estamos chamados a viver e a quem somos chamados a servir. Isto pode parecer evidente a todos desde o ponto de vista teórico, porém, devemos iniciar uma análise objetiva do modo o qual o mandato missionário de Cristo é cumprido por nós, os irmãos e os demais, para ver quanto é difícil para nós passar da palavra a ação, e abandonar as velhas visões e práticas que eram instrumentos poderosos para a evangelização no passado, porém que não falam aos novos desafios de um mundo globalizado e fragmentado e a igreja. Devem ser imaginadas novas formas, criadas , atualizadas e outras reformadas ou deixadas, afim de formar sempre novos modos para comunicar a incrível experiência de Jesus Cristo de modo que toque o coração humano e contribua a transformação das sociedades humanas em nas que nós nos encontramos, da parte de Deus no caminho e junto com toda a humanidade para o Reino de Deus.
A um nível mais profundo, uma nova lógica evangélica deve ser buscada, desenvolvida e atualizada, se queremos testemunhar a razão de nossa esperança no mundo de hoje. Esta nova lógica será contemporaneamente trinitária/ relacional, de transformação, integrada a tal ponto de levar ao cumprimento da libertação de toda a humanidade, como promessa de Deus desde o início do tempo e levada a perfeição na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, o Senhor de nossa vida. Em sua Encíclica Redemptoris missio, no número 15, o Beato João Paulo II escreve: “O Reino se refere a todos: as pessoas, a sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino quer dizer reconhecer e favorecer ao dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar pela libertação do mal em todas suas formas. Em síntese, o Rein o de Deus, é a manifestação e a atuação do desígnio divino de salvação em toda sua plenitude”.
Fica claro nas reflexões contidas no documento do Congresso Missionário de Córdoba de 2008, que são necessários novos odres para conter o vinho novo que Deus quer esvaziar neles. Nossos irmãos na Ordem, o povo de Deus na Igreja e nossos irmãos e irmãs na sociedade em que nos encontramos hoje, estão sedentos do vinho novo. A pergunta é: Estaremos a ponto de abrir nossos corações e espíritos, nossas fraternidades e atividades de evangelização, nossas visões e nossos métodos para ser odres novos de que modo que o povo de hoje possa gostar e ver a bondade do Senhor presente em nossas vidas e em nossas presenças missionárias? Obviamente isto estava na mente da organização desse Congresso que nos reúne: “Novos franciscanos e nova evangelização”.
Na preparação para este encontro, tenho tido a oportunidade de consultar dois importantes documentos: um proveniente da V Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe que teve lugar em Aparecida, no Brasil em 2007 ( Documento de Aparecida) e o outro, o documento intitulado Carisma e Missão: Urgência e Audácia.
Este documento saído do I congresso Missionário OFM da América Latina, Córdoba, Argentina, realizado de 14 a 19 de abril de 2008. Certamente há conexões entre os dois documentos, desde o ponto de vista teológico, analítico, e nas propostas que surgem. O segundo documento é : “Celebremos e renovemos nosso ardor missionário”!
Limitarei minhas observações a nosso documento franciscano Carisma e Missão: Urgência e Audácia!, e as propostas que se encontram nele , porém isto será feito a luz do Documento de Aparecida. Há muito em nosso documento porém tenho a suspeita que há havido uma dificuldade para tratar de difundir a sua mensagem, atuar suas recomendações, em particular o chamado a conversão pessoal e coletiva, uma conversão do coração, porém também da visão e da prática da evangelização franciscana e sobre o futuro e a qualidade de nossa presença evangelizadora franciscana na América Latina e Caribe.
Uma das características mais surpreendentes do documento é sua honesta intenção de examinar a pluralidade das visões teológicas e práticas contextuais da missão franciscana dos irmãos que trabalham nas regiões de interesse primário. A história da missão franciscana tem sido objeto de algumas das bondades, desafios, erros que tem estado presentes na vida da Igreja católica. O que o documento esclarece eminentemente é que os primeiros missionários franciscanos estavam bem adestrados e tomavam a serio a urgência de adaptar a mensagem cristã a vida do povo. Enquanto alguns missionários franciscanos talvez foram coptados pelo sistema de exploração dos conquistadores, muitos movidos pela cruz e livres da lógica do domínio e da repressão tem defendido valorosamente a dignidade dos povos indígenas e a promoção de uma vida alternativa de Deus, da Igreja e da pessoa humana. Isso se tem refletido nos esforços missionários franciscanos para promover a integração da visão e dos valores dos povos indígenas na vida das comunidades cristãs e a prática da justiça e da caridade, para permitir ao poder do Evangelho transformar os elementos da cultura necessitados de transformação.
O documento Carisma e Missão: Urgencia e Audácia!, põe uma série de interrogações a visão e a prática da evangelização e missão franciscana dos irmãos que vivem e trabalham na América Latina e Caribe. Quero assinalar cinco desses pontos e perguntar como fazem referencia aos objetivos centrais deste II Congresso Missionário Franciscano, que são: a) Reafirmar o primado da práxis na evangelização e missão franciscana e b ) Animar e estimular aos irmãos na região da América Latina e do Caribe, através de um processo de conversão pessoal e coletiva que transformará a visão e a prática da missão franciscana abrindo novas oportunidades e conduzindo a criação de práticas transformadoras em todas as áreas da evangelização missionária.
1. Chamado a Conversão Evangélica: a conversão é uma leitura que corre por todo o documento e nas orientações e recomendações. Esta conversão nos leva a uma relação profunda e constante com Jesus Cristo. Toca dois níveis da nossa vida franciscana, ou seja, a visão teológica ou prospectiva, e as formas e as estruturas que dão forma a pratica da missão evangelizadora em toda sua diversidade – tradicional, novas formas, “Inter gentes”, ou “Ad gentes”. No documento do Capítulo Geral de 2009, “portadores do dom do |Evangelho”, um chamado semelhante se faz a todos os irmãos da Ordem. Lemos: “talvez o nó do problema não consiste no fato de que não cremos, mas sim sobretudo em perguntar-nos que ideia de Deus temos posto ao centro de nossa fé”. (nº12). Este mesmo documento assinala um segundo chamado a conversão, ou seja, a entrar em uma “conversão eclesiológica, a superar a mentalidade clerical que ainda prevalece entre alguns irmãos” (nº25). Creio que estas duas mesmas formas de conversão se encontram seja no documento “Carisma e Missão: urgência e audácia” no documento de Aparecida. Ao mesmo tempo há um grande temor e consternação sobre o modo melhor para responder a este chamado a conversão: o temor de abandonar tudo que existe ainda quando não logre promover conversão evangélica, e o temor daquilo a que deus possa chamar-me/chamar-nos a iniciar. Proponho-lhes duas perguntas para refletir sobre como avaliar se tem respondido individual ou coletivamente ao chamado a conversão evangélica:
a) Quais medidas específicas e passos se têm adotado para responder ao chamado a conversão da visão e da prática da missão franciscana evangelizadora nestes últimos cinco anos depois da adoção e das orientações e recomendações contidas no documento “Carisma e Missão: urgência e audácia”?
b) Como podemos responder de forma mais criativa ao chamado a conversão evangélica e a transformação com vem descrito no documento “Carisma e Missão: urgência e audácia” e em Portadores do Dom do Evangelho para integrar a identidade e a ação, o ser e o fazer como dois reforços recíprocos dos aspectos da missão evangelizadora.
2. Evangelização missionária Franciscana integral: um segundo e continuo desafio para a evangelização missionária no contexto de América Latina e Caribe, que se encontra no Documento 2008 Carisma e Missão: Urgência e Audácia, é a de integrar os princípios fundamentais e as prioridades de nossa vida franciscana em nossa visão e prática da missão franciscana evangélica. Refiro-me aqui a necessidade de integrar nossa vida com Deus, nossa experiência de fraternidade, de formação permanente e inicial. Evangelização e missão e Justiça, Paz e Integridade da Criação em nossa visão teológica e prática da missão evangelizadora. No documento Carisma e Missão: Urgência e Audácia, nas declarações de Aparecida de 2007 e no documento do pós-Capítulo 2009, Portadores do Dom do Evangelho, está claro que o anúncio do Evangelho não se pode efetivar sem estar enraizados em Deus e na Palavra de Deus. A tarefa da evangelização se expressa através da fraternidade e se reforça através da formação permanente. E deve ser enraizada em uma profunda compreensão das realidades sociais de nosso tempo. O Papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi no número 31, põe a pergunta fundamental: “Como se pode proclamar o mandamento novo sem promover a justiça e a verdadeira paz e o autêntico crescimento do homem?” O mesmo Papa dá a resposta a sua própria pergunta: “É impossível acertar”, “que na evangelização se possa ou se deva descuidar da importância dos problemas, hoje tão debatidos, que tem haver com a justiça, a libertação, o desenvolvimento e a paz do mundo”. Na encíclica Sollicitudo Rei Socialis (1987), o Beato João Paulo II, deixa clara a relação que existe necessariamente entre o Evangelho do Senhor e a missão evangelizadora, por um lado está a libertação integral e o desenvolvimento integral prometidos por Deus, e por outro lado, a opção fundamental pelos pobres, que segundo João Paulo II, serve como lente teológica através da qual se interpreta e realiza a evangelização missionária.
a) Quais experiências e instrumentos são mais uteis para expandir nossa visão teológica e a práxis missionária franciscana com o objetivo de garantir uma maior integração dos diferentes aspectos de nossa vida franciscana e garantir que nossa prática de evangelização missionária que esteja enraizada na realidade vivida pelas pessoas de nosso tempo?
b) Como pode nossa opção preferencial Franciscana pelos pobres, os marginalizados, os excluídos, as vítimas da violência e das opressões, e as muitas ameaças à integridade da criação, informar e transformar nossa visão franciscana e a prática da missão evangélica, no sentido individual e fraterno?
3. Discípulos e Evangelizadores: Criação de espaços para os leigos (Nº 17 do documento): outro importante desafio para a visão e prática de nossa evangelização missionária franciscana está ligado a nossa compreensão teológica do papel dos leigos franciscanos na evangelização missionária. Encontramos no documento de 2007 de Aparecida, no documento 2008, Carisma e Missão: Urgência e Audácia, e no documento de 2009, Portadores do Dom do Evangelho, indicações claras de como é difícil para muitos presbíteros e irmãos reconhecer o autêntico dom do discipulado e da vocação missionária que pertence aos leigos por direito e a corresponsabilidade que tem recebido através do batismo. O chamado para mudar nossa compreensão teológica da vocação dos leigos e integrá-los no planejamento e realização da Evangelização Missionária aparece vinte e duas vezes no Carisma e Missão: Urgência e Audácia! O Cardeal Bergoglio – hoje Papa Francisco – propõe a seguinte reflexão (entrevista em 2011 em Buenos Aires): Nós os sacerdotes tendemos a clericalizar os leigos. Nós não nos damos conta, mas é como se os infectássemos com nossas enfermidades. E os leigos – não todos, mas muitos – nos pedem de joelhos que os clericalizemos, porque é mais cômodo ser um pequeno clérigo que um protagonista de um caminho laical.
a) Quais mudanças houve em nossa compreensão teológica franciscana da vocação dos leigos e de sua interferência na evangelização franciscana missionária?
b) Quais são os programas e instrumentos que se tem e foram desenvolvidos para ajudar, seja aos irmãos seja aos leigos, para transformar sua visão teológica da vocação dos leigos? Como se tem aplicado isto na formação dos leigos para a evangelização missionária em nossas paróquias, nas escolas e em sua missão na sociedade, como pediu o documento Franciscano de 2008?
4. Diálogo inter-religioso, intercultural e ecumênico: No capítulo 16 da Regra não Bulada de 1221, Francisco de Assis disse aos irmãos: os irmãos que vão entre os infiéis, podem comportar-se espiritualmente em meio deles de dois modos. Um modo é que não litiguem, nem briguem, mas que se submetam a toda criatura humana por amor de Deus e confessem que são cristãos. Outro modo é que, quando virem que agrada a Deus, anunciem a Palavra de Deus para que assim creiam em Deus… O documento de 2007 de Aparecida evidencia as mudanças “sísmicas” que tiveram lugar no interior do cristianismo nas regiões, das quais a maior é a diversidade religiosa, que não era característica dos primeiros 500 anos de evangelização. A Igreja Católica já não é a única na transformação do cristianismo na região. Assim, a Igreja se encontra forçada a aceitar esta realidade que mudou e a buscar novos modos de pregar o Evangelho, de modo particular através do testemunho dos crentes católicos – leigos, religiosos e sacerdotes, da mesma hierarquia e através de suas estruturas existentes. Nós, os franciscanos, devemos enfrentar estes mesmos desafios. Ademais, há um crescente reconhecimento dos valores, as visões de mundo, a dignidade e direitos das comunidades/culturas indígenas e afro-americanas na região. A Igreja deve enfrentar muitos desafios no campo do diálogo e da inculturação, ou seja, no diálogo intercultural, ecumênico e inter-religioso, assim como o diálogo entre as realidades urbanas e rurais. A conversão de nossa visão franciscana e nossa prática de evangelização missionária exigirá que nos submetamos a cada criatura humana por amor de Deus, que desenvolvemos a arte evangélica da escuta – a Palavra de Deus que fala em toda diversidade existente, da presença do Espírito em todos os lugares, os tempos e povos, e do grito do sofrimento de Deus nos pobres. É a partir desta visão de escuta que poderemos começar a construir uma visão teológica e uma práxis pastoral evangélica capaz de comunicar mais plenamente a verdade do Evangelho e a missão da Igreja.
a) Que esforços foram feitos, depois da reunião de Córdoba na Argentina em 2008, para desenvolver a visão teológica e a habilidade necessária para ajudar aos irmãos a entrar num espírito de diálogo autentico em suas diferentes instâncias?
b) Em que direção o Espírito de Deus chama, a nós os irmãos, a mover-nos a fim de responder de modo mais eficaz aos desafios e as numerosas oportunidades que se derivam da diversidade, sempre mais presente no interior das regiões a que nos propusemos a responder as solicitações do Espírito?
5. Novos missionários para uma nova evangelização: a quinta área em que eu gostaria de chamar sua atenção é a do desafio sobre os modos nos quais nós, como franciscanos, recebemos o convite para compartilhar o dom do Evangelho que temos recebido. No documento Carisma e Missão: Urgência e Audácia vemos uma tentativa para que sejamos mais engajados quanto nos é possível, o esforço de possibilitar que nenhum ministério venha excluído para levar adiante o mandato dado por Jesus e pela Igreja de evangelizar. Há três distinções no documento que tem a ver com as formas de atividade missionária que eram, amplamente, e agora estão em função em toda a região. Estas três englobam aquilo que era definido como “tradicional”, “novas formas” “ad gentes” e “Inter gentes”, todas as formas de evangelização missionária. Enquanto que cada um destes campos missionários tem suas próprias características específicas, que requerem um conjunto específico de métodos para ser mais eficaz, a pergunta mais importante permanece: como podemos fazer uma evangelização missionária Franciscana de um modo mais integrado e unificado? A missão de Deus é uma! Como podemos tomar isto que estamos aprendendo no campo dos ministérios educativos franciscanos e conseguir compartilhar a visão evangélica e as práticas pastorais em nossos santuários e paróquias e vice-versa? Que novas formas devemos criar, que novas fraternidades destinar às missões, de modo que nossa missão franciscana seja testemunho da unidade do Espírito, tudo isto para que o Bom Deus possa chegar, cada vez mais, a mais pessoas? Como podemos integrar em todas nossas distintas formas de evangelização missionárias a mensagem da força libertadora do Evangelho, uma libertação que eleve em todas as pessoas a dignidade, a liberdade e o desenvolvimento humano integral? Um desenvolvimento muito positivo na direção da integração das diversas áreas da evangelização missionária com a força libertadora do Evangelho se encontra no Projeto Amazônia em Requena, Peru, projeto que se concentra na renovação da evangelização “tradicional”, na promoção dos direitos e dignidade das populações indígenas e na salvaguarda do meio ambiente. Todavia sublinho os grandes esforços em outras partes da região da América Latina e do Caribe, com a criação de “fraternidades” inseridas, que vivem entre os pobres, as populações rurais, as comunidades afro-indígenas e de outras semelhantes iniciativas franciscanas que dão testemunho do compromisso de suas Entidades para a renovação de todas as atividades missionárias franciscanas. O desenvolvimento de um Projeto fraterno de vida e missão, como o pede Portadores do Dom do Evangelho (número 28, p.19) pode ser também um instrumento muito útil.
O que é mais importante em todos estes esforços é que busquemos uma conversão da mente, do coração e do espírito, todos juntos, como irmão no Evangelho, e não apenas mudarmos nossos endereços postais. Novos Missionários para uma Nova Evangelização exigirá um grande compromisso, um grande ânimo, a vontade de assumir o valor o “sine próprio” e, portanto, estar disposto a meter-se no caminho de Emaús, compartilhando nossos sonhos, nossas visões, nossos erros e nossa fé. Devemos aprender a ser comunidade de fé, de esperança e de amor, disposto a aprender a cruzar as fronteiras entre as respectivas formas de evangelização missionária. E devemos também estar dispostos a acolher o Senhor Jesus, que continuará a encontrar-nos no caminho para fazer a viagem conosco.
Conclusão:
Deus está conosco, meus queridos irmãos. Animem-se e não nos dispensemos da tarefa de ser um sinal e símbolo da presença viva de Deus, um com o outro na fraternidade, em primeiro lugar, porque é aí onde damos testemunho do Evangelho, e, portanto, é desde aí, sucessivamente à Igreja e ao mundo. Concluo minha reflexão com as palavras tomadas da Evangelii nuntiandi (n. 80):
Conservemos, pois, o fervor espiritual. Conservemos a doce e confortadora alegria de evangelizar, inclusive quando tiver que semear entre lagrimas. Façamos-lhe – como João Batista, como Pedro e Paulo, como os outros Apóstolos, como essa multidão de admiráveis evangelizadores que os sucederam ao longo da história da Igreja – com o ímpeto interior que nada nem nada seja capaz de extinguir. Seja esta a maior alegria de nossas vidas entregadas. E oxalá que o mundo atual – que busca às vezes com angustia, às vezes com esperança – possa assim receber a Boa Nova, não através de evangelizadores tristes e sem alentos, impacientes ou ansiosos, senão através de ministros do Evangelho, cuja vida irradia o fervor de quem receberam, antes de tudo em si mesmos, a alegria de Cristo, e aceitaram consagrar sua vida à tarefa de anunciar o Reino de Deus e de implantar a Igreja no mundo.
(*) Frei Michael Perry, norte-americano, é o Vigário Geral da Ordem dos Frades Menores