Entre os dias 1º e 4 de outubro, a Paróquia São Francisco de Assis, em Rodeio (SC), celebrou, em comunhão com a Ordem Franciscana Secular e as Irmãs Catequistas Franciscanas, a solenidade do “Poeta das Criaturas”, aquele que, na Terra, foi um humilde Repetitor Christi, como afirma São Boaventura (cf. Opera Omnia V, 295).

Para bem celebrar a solenidade do Padroeiro italiano, foi realizado, nos dias 1º, 2 e 3, o Tríduo com a participação da Ordem Franciscana Secular e das Irmãs Catequistas Franciscanas.

O primeiro dia do Tríduo teve por tema: “São Francisco: Peregrino de Esperança”, em razão do Ano Jubilar e para propagar a figura do Poverello de Assis enquanto homem da esperança, instrumento de pax et spes para o povo assisense e toda a Igreja.

No segundo dia do Tríduo, celebrou-se “A Criação e o Santo de Assis”. Escolhido como patrono da Itália e da Ecologia por São João Paulo II, em 1979, São Francisco inspira-nos por diversos motivos: os 800 anos do Cântico das Criaturas, os 10 anos da Encíclica Laudato Si’ e a Campanha da Fraternidade de 2025.

“O que para Jesus Cristo foi a Ressurreição — onde, nas palavras de Orígenes, o Reino se realizou de forma pessoal, na pessoa de Cristo — foi para Francisco o Cântico das Criaturas. Aí aparece a exaustiva unidade e completa reconciliação de toda a criação diante de Deus. O mundo agora está livre do pecado: é irmão e irmã cantando, até com a morte, o louvor do Criador e Pai.” (Cf. BOFF, Leonardo; et al. Nosso Irmão Francisco de Assis. Petrópolis: Vozes, 1975.)

Francisco era um “Homem todo criação” e à frente de seu tempo. Regozijava-se com a obra de Deus, o Artista da Criação. Sua contemplação diante das maravilhas divinas fazia sua alma transcender pela obra da Sabedoria e do Sumo Criador.

“Amar é trabalhar pela Beleza; trabalhar pela Beleza é trabalhar para o bem da Humanidade, é crer em Deus. O gênio da Pobreza, do Amor e da Fraternidade deu aos homens um tesouro: o Cântico di frate sole.” (Cf. AMORIM, Guedes. Francisco de Assis: Renovador da Humanidade. Petrópolis: Vozes, 1965.)

O Seráfico Pai intuiu ser parte integrante da criação ao renunciar às riquezas, vivendo em pobreza e tratando a ecologia como irmandade universal, percebendo a interligação entre todas as criaturas. Essas intuições de Francisco permanecem no coração do nosso carisma franciscano, que deseja seguir Jesus Cristo segundo os ensinamentos do Santo de Assis.

“A humildade franciscana é aquela disponibilidade interior que nos faz acolher Deus, acolhendo-nos a nós mesmos, tolamente, na nossa condição de criaturas, com todas as nossas ligações com a Terra, com a vida cósmica, com toda a criação.” (Cf. LECLERC, Éloi. O Sol nasce em Assis. Petrópolis: Vozes, 2000.)

O Papa Bento XVI, em audiência geral, descreveu — com teologia regada de poesia — essa espiritualidade franciscana da criação:

“Do amor a Cristo nasce o amor às pessoas e também a todas as criaturas de Deus. Eis outra característica da espiritualidade de Francisco: o sentido da fraternidade universal e o amor pela criação, que lhe inspirou o célebre Cântico das Criaturas. É uma mensagem muito atual. […] Francisco recorda-nos que, na criação, manifesta-se a sabedoria e a benevolência do Criador. A natureza é entendida por ele precisamente como uma linguagem na qual Deus fala conosco, na qual a realidade se torna transparente e nós podemos falar de e com Deus.” (Cf. PAPA BENTO XVI. Audiência Geral, 27 de janeiro de 2010.)

E tudo isso se concretiza em nossas obras. Nós, filhos e confrades de São Francisco de Assis, temos a missão de tornar nosso carisma uma continuidade da missão e do legado de Cristo. Frei Dorvalino Fassini, na Legenda dos Três Companheiros, escreve:

“Na verdade, a obra que Francisco começa a realizar não é nada dele. A obra, o serviço, é de Deus. Francisco é um agente-paciente. É um operário que mais padece e sofre a ação de Deus do que faz e age para Deus.” (Cf. FASSINI, Dorvalino, p. 94.)

No terceiro dia do Tríduo, celebrou-se o Trânsito de São Francisco, com a participação do Coral São Francisco de Assis e do Grupo de Canto da Comunidade do Glória, sob a regência de Bárbara Cristofolini e com a participação do organista Erick Eduardo dos Santos.

A celebração do Transitus alegrou os fiéis com a beleza litúrgica do rito, dos cantos italianos e dos símbolos. Os “devotos rodeienses” transbordavam de alegria, emoção e piedade. A noite de sábado, na Igreja Matriz, assemelhava-se àquela descrita por São Boaventura na Legenda Maior:

“E os irmãos e filhos que foram chamados ao trânsito do pai dedicaram — juntamente com toda a multidão — aquela noite em que morreu o confessor de Cristo aos louvores divinos, de modo que pareciam não exéquias dos defuntos, mas vigília dos anjos.” (Cf. Legenda Maior, cap. 15.)

A Solenidade do dia 4 foi aguardada com júbilo por todos. Dentro da clausura, freis e vocacionados rezaram todas as horas propostas pela Liturgia das Horas da Família Franciscana, para que, desse modo, fosse reverenciada a memória do saudoso Pai Seráfico.

Durante o dia, os noviços abençoaram os animais trazidos à Igreja Matriz e saíram em peregrinação com a imagem de São Francisco de Assis, aspergindo a cidade de Rodeio. Às 19h, foi celebrada a Santa Missa Solene, presidida pelo aniversariante do dia, Dom Frei Luís Flávio Cappio, OFM.

Foram muitos os motivos para celebrar a memória do Santo Italiano: a investidura de novos Ministros Extraordinários da Eucaristia, a acolhida e bênção dos acólitos e a comemoração dos 150 anos da imigração italiana em Rodeio (SC), com a presença do Circolo Trentino di Rodeio.

Hoje, São Francisco de Assis goza das felicidades e recompensas eternas, juntamente com seus confrades (in memoriam Frei José Bertoldi) e as Clarissas! O Santo da Esperança e da Ecologia contempla, face a face, o Magno Autor da Criação e a causa de nossa esperança — o próprio Deus. Oxalá sejamos também agraciados com tamanha graça, para um dia estar com a Santíssima Trindade e contemplar a obra da criação na Pátria Definitiva, junto dos Santos e Santas da Ordem Seráfica.

Salve Francisco de Assis!

---

Frei Luís Naldo (Noviço 2025) e Paróquia São Francisco de Assis