Retiro Paroquial 2025: a ecologia que brota da história na Paróquia Santa Clara, em Duque de Caxias
08/07/2025

Neste momento de celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, o retiro de lideranças da Paróquia Santa Clara, no bairro Imbariê, em Duque de Caxias (RJ), foi mais que especial. Apoiado pela Pastoral Ecológica, o evento contou com a assessoria de Moema Miranda, antropóloga, membro da secretaria da Rede “Igrejas e Mineração” da CNBB, e, sobretudo, irmã. Professa na Ordem Franciscana Secular, Moema nos trouxe uma manhã leve e rica de amizade, conhecimento e cuidado. Iniciado com um ótimo café da manhã e um momento orante no qual refletimos sobre o que São Francisco nos diz por esse canto que ressoa pelos séculos, o Cântico das Criaturas. Foi um emocionante momento de imersão em nossa história e verdadeira conexão com a Criação.
Moema, ao iniciar o momento, pediu para que tirássemos nossos calçados e puséssemos os pés no chão, sentindo a terra e que nos alongássemos, elevando ao céu o que recebemos desse chão, e devolvendo à terra os nossos cansaços. Feito esse movimento e cantado o hino da Campanha da Fraternidade deste ano, foi iniciado um momento de deserto/reflexão, em que fomos convidados a escrever, elaborar e desenhar nossa autobiografia ecológica. Resgatamos memórias, anseios e vivências que nos levam a ter a perspectiva que levamos hoje, e que estão relacionadas à natureza. Dentre memórias de família, brincadeiras no quintal, de migração do nordeste, vivência em comunidade, relação com o mar…, nossa paróquia refletiu sobre como a ecologia vem de nossa própria história, do nosso chão.
Em seguida, Moema apresentou dados sobre a terra e os seus desafios, seus problemas, sua crise. O que nós enfrentamos é absurdo: apenas 1% da população mais rica do planeta consome mais da natureza do que um só de nós demoraria 800 anos para consumir, e são eles os principais responsáveis pela crise socioambiental. “O que podemos fazer diante disso? Humanamente, não há nada que possamos fazer, disse.
Entretanto, a antropóloga e franciscana nos lembra do canto de Maria, no Magnificat, “Deus olhou para a humildade de sua serva”, “derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes”, nos chamando à esperança como a de Jesus, que não nasceu em berço de ouro nem andou com os poderosos, mas com as pessoas simples, com os pescadores, e buscando fazer o Bem nesta terra. A solução para os nossos problemas não vem dos ricos e poderosos, nas vem do nosso próprio chão, da nossa organização para lutar por uma terra mais justa, em que tenhamos liberdade, sem medo e com vida plena.
Para o fim do retiro, contamos com falas de representantes de diversos coletivos que atuam em nossa região, que nos trouxeram experiências concretas de cuidado com a Casa Comum. Dentre eles, Sidney, da articulação diocesana da Pastoral do Meio Ambiente, que falou sobre a experiência com os catadores, promovendo a reciclagem de resíduos e geração de renda; Vitor, do Fórum Estadual de Cozinhas Solidárias, que também denunciou dados sobre a desigualdade e como a riqueza que se encontra na mão de poucos poderia acabar com a pobreza no mundo mais de 20 vezes, e falou sobre os cuidados com as pessoas a partir da experiência das cozinhas solidárias; Ana Maria, de Barra Mansa, que apresentou informações sobre uma experiência de reaproveitamento de materiais que se tornou política pública; e Sergio, integrante do coletivo MANGA e outras articulações em favor da agroecologia, que falou sobre elas, suas idealizações e ações, inclusive muito próximas de nós, em Parada Angélica, na Horta Pedagógica Bióloga Ana Alice. Inserido nesse propósito também estão nossos paroquianos, membros da Pastoral Ecológica, Frei Fabio e irmã Clarice, que lembraram os compromissos assumidos pela paróquia a partir da Campanha da Fraternidade 2025 e as atividades da Pastoral Ecológica.
A atividade contou, ainda, antes de encerrar com um delicioso almoço servido no Centro Paroquial, com a entrega de mudas para as comunidades, como um presente e um gesto concreto do compromisso da paróquia com a ecologia integral, e uma ciranda que simboliza a nossa união e compromisso com a terra. Mais do que um renovo para as lideranças da paróquia, o retiro foi também um momento rico de integração e partilha com diversos irmãos e movimentos com os mesmos objetivos que os nossos, de buscar o Reino de Deus, que envolve o Bem Comum e a vida em plenitude, para a nossa realidade e para todas as pessoas.
Texto: Francisco Martins Fotos: PasCom Paroquialo






