Papa: inspirar-se em Pedro e Paulo para uma Igreja humilde e aberta
29/06/2023
Seguimento e anúncio: estas foram as duas palavras ressaltadas pelo Papa na homilia da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, festejada neste 29 de junho. No Brasil, a data foi transferida para o próximo domingo, 2 de julho.
Na Basílica de São Pedro, concelebraram com o Pontífice os 32 arcebispos nomeados no ano passado. Entre eles, há quatro lusófonos: três brasileiros e um moçambicano: Dom José Carlos Souza Campos, de Montes Claros (MG); Dom Juarez Sousa da Silva, de Teresina (PI); Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, de Olinda e Recife (PE); e Dom João Carlos Hatoa Nunes, de Maputo. Na celebração, o Papa abençoou os pálios, que depois serão impostos pelo Núncio na arquidiocese, junto à comunidade local.
Na Basílica, como é tradição, também estava presente uma delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. A Santa Sé retribui o gesto fraterno, enviando um representante na Festa de Santo André, em 30 de novembro, padroeiro da Igreja local.
Já em sua homilia, Francisco se inspirou na pergunta que Jesus dirige aos discípulos, contida no Evangelho de Mateus: “Vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16, 15). Para o Pontífice, esta é a pergunta fundamental, a mais importante: Quem é Jesus para mim?
Os dois Apóstolos responderam a esta pergunta de modo diferente. A de Pedro poderia se resumir em uma palavra: seguimento. Pedro largou tudo para ir atrás do Senhor. E o Evangelho sublinha que foi “imediatamente”, não disse a Jesus que iria pensar, fazer cálculos para ver se lhe convinha, não apresentou desculpas para adiar a decisão, mas deixou as redes e O seguiu. Haveria de descobrir tudo dia após dia, no seguimento de Jesus.
Aquela anotação “imediatamente”, acrescentou o Papa, vale também para nós: se há tantas coisas na vida que podemos adiar, o seguimento de Jesus não pode ser uma delas. E atenção! Pois algumas desculpas aparecem disfarçadas de espiritualidade, como “não sou digno”, “não sou capaz”. Para Francisco, são artimanhas do diabo, que nos rouba a confiança na graça de Deus. A lição de Pedro, portanto, é: devemos nos desprender de nossas seguranças terrenas, imediatamente, e seguir Jesus todos os dias.
Já a resposta de Paulo se resume na palavra anúncio. No caminho de Damasco, Jesus foi ao seu encontro e cegou-o com a sua luz, ou melhor, graças àquela luz, Saulo deu-se conta de quanto era cego. Assim, consagra a sua vida a percorrer terra e mar, cidades e aldeias, para anunciar Jesus Cristo.
Portanto, à pergunta “quem é Jesus para mim”, Paulo não responde com uma religiosidade intimista, mas com a inquietação de levar o Evangelho aos outros. Também hoje, observou o Papa, a Igreja tem necessidade de colocar o anúncio no centro, que não se cansa de repetir: “Ai de mim se eu não evangelizar”. Uma Igreja que precisa anunciar como necessita de oxigênio para respirar.
Francisco exortou os fiéis a se inspirarem nos Apóstolos Pedro e Paulo para crescer como Igreja do seguimento, como Igreja humilde que nunca dá por terminada a busca do Senhor, tornando-se simultaneamente uma Igreja aberta, que encontra a sua alegria não nas coisas do mundo, mas no anúncio do Evangelho ao mundo.
Dirigindo-se aos Arcebispos que recebem o Pálio, pede que sejam apóstolos como Pedro e Paulo, discípulos no seguimento e apóstolos no anúncio. Por fim, o Pontífice saudou a Delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, enviada por Bartolomeu. “Obrigado pela presença! Caminhemos juntos, no seguimento e no anúncio da Palavra, crescendo na fraternidade. Que Pedro e Paulo nos acompanhem e intercedam por nós.”
ÍNTEGRA DA HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 29 de junho de 2023
Pedro e Paulo, dois Apóstolos enamorados do Senhor, duas colunas da fé da Igreja… E enquanto contemplamos a sua vida, o Evangelho de hoje coloca diante de nós a pergunta que Jesus dirige aos seus: «Vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15). Esta é a pergunta fundamental, a mais importante: Quem é Jesus para mim? Quem é Jesus na minha vida? Vejamos como os dois Apóstolos responderam a esta pergunta.
A resposta de Pedro poder-se-ia resumir numa palavra: seguimento. Pedro vive os seus dias no seguimento do Senhor. Naquele dia, quando Jesus interpelou os discípulos em Cesareia de Filipe, Pedro respondeu com uma estupenda profissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo» (Mt 16, 16). Uma resposta impecável, precisa, pontual! Poderíamos falar duma resposta «de catecismo» perfeita. Mas tal resposta é fruto dum caminho: só depois de ter vivido a fascinante aventura de seguir o Senhor, só depois de ter caminhado com Ele, seguindo os seus passos durante muito tempo, é que Pedro chegou àquela maturidade espiritual que, por graça, por pura graça, o leva a tão clara profissão de fé.
De facto, como narra o mesmo evangelista Mateus, tudo tinha começado naquele dia em que Jesus, passando ao longo do mar da Galileia, o chamou, juntamente com seu irmão André: «eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-No» (Mt 4, 20). Pedro largou tudo, para ir atrás do Senhor. E o Evangelho sublinha: «imediatamente». Pedro não disse a Jesus que iria pensar nisso, não fez cálculos para ver se lhe convinha, não apresentou desculpas para adiar a decisão, mas deixou as redes e seguiu-O, sem pedir antecipadamente qualquer segurança. Haveria de descobrir tudo dia após dia, no seguimento de Jesus, caminhando atrás d’Ele. Não é por acaso que as últimas palavras – segundo os Evangelhos – que Jesus lhe dirige são: «Tu, segue-Me» (Jo 21, 22), isto é, o seguimento.
Assim Pedro diz-nos que, à pergunta «quem é Jesus para mim», não basta responder com uma fórmula doutrinal impecável nem mesmo com uma ideia que formamos duma vez por todas. Não. Mas é perseverando todos os dias no seguimento do Senhor que aprendemos a conhecê-Lo; é fazendo-nos seus discípulos e acolhendo a sua Palavra que nos tornamos seus amigos e experimentamos o amor d’Ele que nos transforma. Aquela anotação «imediatamente» vale também para nós: se há tantas coisas na vida que podemos adiar, o seguimento de Jesus não pode ser uma delas; nisto não se pode hesitar, nem apresentar desculpas. E atenção! Pois algumas desculpas aparecem disfarçadas de espiritualidade, como quando se diz «não sou digno», «não sou capaz», «que posso fazer eu?». Trata-se de artimanhas do diabo, que nos rouba a confiança na graça de Deus, fazendo-nos crer que tudo depende das nossas capacidades.
Devemos desprender-nos das nossas seguranças – seguranças terrenas –, imediatamente, e seguir Jesus todos os dias: tal é a lição que Pedro nos dá hoje, convidando-nos a ser uma Igreja-em-seguimento. Igreja-em-seguimento. Igreja que deseja ser discípula do Senhor e humilde serva do Evangelho. Só assim será capaz de dialogar com todos e tornar-se lugar de acompanhamento, proximidade, esperança para as mulheres e os homens do nosso tempo. Só assim, quem está mais longe e muitas vezes nos olha com desconfiança ou indiferença, poderá finalmente reconhecer que «a Igreja – como dizia o Papa Bento – é o lugar de encontro com o Filho de Deus vivo e, deste modo, constitui o lugar de encontro entre nós» (Homilia do II Domingo do Advento, 10/XII/2006).
Consideremos agora o Apóstolo dos gentios. Se a resposta de Pedro consistia no seguimento, a de Paulo é o anúncio, o anúncio do Evangelho. Também para ele, tudo começou por graça, por iniciativa do Senhor. No caminho de Damasco, enquanto se empenhava com orgulho na perseguição dos cristãos, entrincheirado nas suas convicções religiosas, veio ao seu encontro Jesus ressuscitado e cegou-o com a sua luz, ou melhor, graças àquela luz, Saulo deu-se conta de quanto era cego. Fechado no orgulho da sua rígida observância, descobre em Jesus a realização do mistério da salvação. E desde então, comparando-as com a sublimidade do conhecimento de Cristo, considera todas as suas seguranças humanas e religiosas como «esterco» (Flp 3, 8). Assim Paulo consagra a sua vida a percorrer terra e mar, cidades e aldeias, não se importando de padecer carências e perseguições, contanto que possa anunciar Jesus Cristo. Por outro lado, quase parece que ele, quanto mais anuncia o Evangelho, tanto mais conhece Jesus. O anúncio da Palavra aos outros permite-lhe, a ele também, penetrar nas profundezas do mistério de Deus; a ele, Paulo, que escreveu «ai de mim se eu não evangelizar» (1 Cor 9, 16); a ele que confessa, «para mim, viver é Cristo» (Flp 1, 21).
Portanto Paulo diz-nos que, à pergunta «quem é Jesus para mim», não se responde com uma religiosidade intimista, que nos deixa tranquilos sem fomentar em nós a inquietação de levar o Evangelho aos outros. O Apóstolo ensina que tanto mais crescemos na fé e no conhecimento do mistério de Cristo, quanto mais formos seus arautos e testemunhas. E isto acontece sempre: quando evangelizamos, ficamos evangelizados. É experiência de todos os dias: quando evangelizamos, ficamos evangelizados. A Palavra, que levamos aos outros, regressa a nós numa medida maior do que a usada para a oferecer (cf. Lc 6, 38). E também hoje a Igreja tem necessidade disto: de colocar o anúncio no centro, de ser uma Igreja que não se cansa de repetir, «para mim, viver é Cristo» e «ai de mim se eu não evangelizar». Uma Igreja que precisa de anunciar, como necessita de oxigénio para respirar, que não pode viver sem transmitir o abraço do amor de Deus e a alegria do Evangelho.
Irmãos e irmãs, festejamos Pedro e Paulo. Eles responderam à pergunta fundamental da vida – quem é Jesus para mim? – vivendo o seguimento de Jesus e anunciando o Evangelho. É bom crescer como Igreja do seguimento, como Igreja humilde que nunca dá por terminada a busca do Senhor, tornando-se simultaneamente uma Igreja aberta, que encontra a sua alegria, não nas coisas do mundo, mas no anúncio do Evangelho ao mundo a fim de semear no coração das pessoas a inquietação de Deus. Com humildade e alegria, há de levar o Senhor Jesus a todo o lado: à nossa cidade de Roma, às nossas famílias, às relações e vizinhanças, à sociedade civil, à Igreja, à política, ao mundo inteiro, especialmente onde se verifica pobreza, degradação e marginalização.
E, hoje, enquanto alguns dos nossos irmãos Arcebispos recebem o Pálio, sinal de comunhão com a Igreja de Roma, quero dizer-lhes: Sede apóstolos como Pedro e Paulo. Sede discípulos no seguimento e apóstolos no anúncio; juntamente com todo o Povo de Deus, levai por toda a parte a beleza do Evangelho. Por fim, quero dirigir a minha afetuosa saudação à Delegação do Patriarcado Ecuménico, enviada aqui pelo caríssimo irmão Sua Santidade Bartolomeu. Obrigado pela vossa presença. Obrigado! Caminhemos juntos, caminhemos juntos no seguimento e no anúncio da Palavra, crescendo na fraternidade. Que Pedro e Paulo nos acompanhem e intercedam por todos nós.
Papa no Angelus: Pedro não é um super-herói. A Igreja precisa de pessoas verdadeiras
Depois de celebrar a missa na Basílica Vaticana por ocasião da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa rezou com os fiéis reunidos na Praça São Pedro a oração do Angelus. É feriado no Vaticano e na cidade de Roma, que celebra os seus padroeiros.
Em sua alocução, Francisco comentou uma frase do Evangelho de Mateus, quando Jesus diz a Simão: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). Pedro, explicou o Pontífice, é um nome que tem vários significados: pode significar rocha, pedra ou simplesmente pedregulho. E a personalidade do Apóstolo inclui um pouco de todos os três aspectos.
Pedro é uma rocha: em muitos momentos ele é forte e firme, genuíno e generoso. Ele deixa tudo para seguir Jesus. Com franqueza e coragem, ele anuncia Jesus no Templo, antes e depois de ser preso e flagelado. A tradição também nos fala de sua firmeza diante do martírio.
Pedro, porém, é também uma pedra, apta a oferecer apoio aos outros: uma pedra que, fundada em Cristo, atua como apoio aos irmãos para a construção da Igreja. Cuida de quem sofre, promove e encoraja o comum anúncio do Evangelho.
Mas Pedro também é um simples pedregulho: sua pequenez frequentemente vem à tona. Diante da prisão de Jesus, é tomado pelo medo e o nega, depois se arrepende e chora. Ele se esconde com os outros no cenáculo, com medo de ser preso. Em Antioquia, se sente envergonhado por estar com os pagãos convertidos e de acordo com a tradição do Quo vadis, tenta fugir diante do martírio, mas encontra Jesus na estrada e tem coragem para retornar.
Pedro então não é um super-homem, afirmou o Papa: é um homem como nós, que diz “sim” a Jesus com generosidade em sua imperfeição. E é com essa humanidade verdadeira que o Espírito forma a Igreja. “Pedro e Paulo eram pessoas verdadeiras, e nós, hoje mais do que nunca, precisamos de pessoas verdadeiras.”
Francisco se dirige aos fiéis, exortando-os a fazer algumas perguntas: somos pedras, não pedras de tropeço, mas de construção para a Igreja? Pensando no pedregulho: temos consciência de nossa pequenez? E acima de tudo: em nossas fraquezas, confiamos no Senhor, que realiza grandes coisas em quem é humilde e sincero?
“Maria, Rainha dos Apóstolos, ajude-nos a imitar a força, a generosidade e a humildade dos Santos Pedro e Paulo.”
Pálio, um chamado para viver a comunhão com o Papa
“Serei sempre fiel e obediente ao Bem-aventurado Apóstolo Pedro, à Santa e Apostólica Igreja de Roma, a ti, Sumo Pontífice, e a teus legítimos sucessores. Assim me ajude Deus Onipotente.”
Este é o juramento a ser feito na manhã deste dia 29 de junho pelos arcebispos metropolitanos nomeados durante o ano, a quem o Papa Francisco concede o pálio, o paramento litúrgico símbolo da comunhão com a Igreja de Roma. O rito tem lugar no início da Celebração Eucarística da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, na Basílica Vaticana, às 9h30, horário italiano.
São 32 arcebispos metropolitanos que pediram para receber o pálio e aos quais será imposto na própria sede pelo núncio apostólico local. Destes, 29 que estarão presentes na Missa presidida pelo Papa, entre os quais quatro lusófono, três brasileiros e um moçambicano. Trata-se de Dom José Carlos Souza Campos, de Montes Claros (MG); Dom Juarez Sousa da Silva, de Teresina (PI); Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, de Olinda e Recife (PE); e Dom João Carlos Hatoa Nunes, de Maputo.
Também presente Dom Ivan Maffeis, nomeado no dia 16 de julho do ano passado à frente da Arquidiocese de Perugia – Città della Pieve. Falando ao Vatican News, o arcebispo italiano destaca que o pálio é um chamado à comunhão quer para os pastores como para as comunidades de fiéis.
O senhor ocupou vários cargos na Conferência Episcopal Italiana e há cerca de um ano é arcebispo de Perugia – Città della Pieve, agora recebes o pálio. Qual o valor, o significado do pálio?
É um sinal de profunda comunhão com o Santo Padre; por um lado, é um chamado a viver esta comunhão e, por outro, é também um dom que acolho como sinal de Igreja, portanto com um sopro de gratidão e responsabilidade.
O pálio é um símbolo de comunhão com a Igreja de Roma. Como os fiéis vivem esta comunhão?
Acredito que seja importante para nós bispos ser cada vez mais fiéis, estar cada vez mais em conformidade com o Magistério do Papa, portanto, procurar ouvi-lo, abrir espaço antes de tudo na nossa vida e, portanto, no nosso serviço, às suas indicações e ao seu testemunho, à palavra e à obra que o Santo Padre está realizando. Nas comunidades encontro grande atenção pela figura do Papa, encontro carinho, encontro estima, e encontro também uma expectativa de que as reformas que ele está realizando possam se concretizar, a começar por uma reforma que nos reconduza ao frescor e alegria do Evangelho.
Fonte: Vatican News (texto de Bianca Fraccalvieri e Tiziana Campisi )