Papa ensina: “Guardar a fé é manter o olhar voltado para o céu”
16/05/2021
“Hoje quero depor sobre o altar do Senhor os sofrimentos do vosso povo e rezar convosco para que Deus converta os corações de todos à paz. Que a oração de Jesus nos ajude a guardar a fé mesmo nos momentos difíceis, ser construtores de unidade, arriscar a vida pela verdade do Evangelho. E não percais a esperança! Jesus ainda hoje reza ao Pai e intercede por todos nós, para que nos guarde do maligno e nos livre do poder do mal.”
Foi o que disse o Papa na missa na manhã deste domingo – VII Domingo da Páscoa –, em muitos países também Ascensão do Senhor, celebrada com os fiéis birmaneses na Basílica de São Pedro, sinal de proximidade do Santo Padre para com o povo deste país do sudeste asiático, que passa por uma fase difícil de violências e opressões após o golpe militar de 1º de fevereiro passado.
Comentando o Evangelho pouco antes proclamado, Francisco ressaltou que ao aproximar-se o momento de carregar no seu coração e na sua carne todo o pecado do mundo, Jesus continua a amar-nos e reza por nós. “A partir desta oração de Jesus aprendamos, também nós, a atravessar os momentos dramáticos e dolorosos da vida”, foi o convite do Santo Padre.
Em seguida, Francisco deteve-se de modo particular no verbo guardar usado por Jesus na sua oração ao Pai. “Queridos irmãos e irmãs, tendo diante dos olhos Mianmar, o vosso amado país ferido pela violência, o conflito, a repressão, perguntemo-nos: Que somos chamados a guardar?”
Guardar a fé
Em primeiro lugar, disse o Papa, guardar a fé. “Devemos guardar a fé para não sucumbir à tribulação nem cair na resignação de quem já não vê uma via de saída. Com efeito, antes das palavras, o Evangelho faz-nos contemplar uma atitude de Jesus: rezava”, prosseguiu Francisco.
“Guardar a fé é manter o olhar voltado para o céu, quando na terra se combate e derrama sangue inocente. É não ceder à lógica do ódio e da vingança, mas ficar com o olhar voltado para o Deus do amor que nos chama a ser irmãos entre nós.”
A este ponto de sua reflexão, o Pontífice destacou que a oração é a única arma que temos para guardar o amor e a esperança no meio de tantas armas que semeiam morte.
“Talvez nos venha vontade de protestar, gritar o nosso sofrimento também a Deus: não devemos ter medo de o fazer; também isso é oração. Em certos momentos, é uma oração que Deus atende mais depressa que outras, porque nasce de um coração ferido, e o Senhor sempre escuta o clamor do seu povo e enxuga as suas lágrimas”, frisou o Papa.
Guardar a unidade
Um segundo aspecto do guardar, disse, guardar a unidade. Jesus reza ao Pai para que guarde os seus na unidade. São muitos os pecados contra a unidade: “as invejas, os ciúmes, a procura de interesses pessoais em vez do bem de todos, os juízos contra os outros. E estes pequenos conflitos que existem entre nós refletem-se depois nos grandes conflitos, como o que tem vivido nestes dias o vosso país”.
Quanta necessidade há de fraternidade, sobretudo hoje, frisou. “Sei que algumas situações políticas e sociais são maiores do que vós, mas o empenho pela paz e a fraternidade nasce sempre de baixo: cada qual, na medida das suas possibilidades, deve fazer a própria parte.”
“Cada um há de empenhar-se, na medida das suas possibilidades, por ser um construtor de fraternidade, um semeador de fraternidade, há de trabalhar por reconstruir o que se rompeu em vez de alimentar a violência. Somos chamados a fazê-lo, também como Igreja: promovamos o diálogo, o respeito pelo outro, a custódia do irmão, a comunhão!”
Guardar a verdade
Por fim, enfatizou, guardar a verdade. Jesus pede ao Pai para consagrar na verdade os seus discípulos, que são enviados por todo o mundo a fim de continuar a sua missão. “Guardar a verdade não significa defender ideias, tornar-se guardiões de um sistema de doutrinas e dogmas, mas permanecer ligados a Cristo e consagrados ao seu Evangelho.”
Francisco lembrou que Jesus reza para que os discípulos, vivendo no mundo, não sigam os critérios deste mundo. Que não se deixem fascinar pelos ídolos, mas guardem a amizade com Ele; que não dobrem o Evangelho às lógicas humanas e mundanas, mas guardem íntegra a sua mensagem. Guardar a verdade significa ser profeta em todas as situações da vida, isto é, consagrar-se ao Evangelho e tornar-se sua testemunha mesmo quando o preço a pagar seja o de ir contra corrente.
“Ser fiéis ao Evangelho e artesãos de paz onde há guerra, violência, ódio significa comprometer-se, mesmo através das opções sociais e políticas, arriscando a vida. Só assim podem mudar as coisas.”
Antes de concluir, Francisco fez uma premente exortação: “O Senhor não precisa de gente tíbia: quer-nos consagrados na verdade e na beleza do Evangelho, para podermos testemunhar a alegria do Reino de Deus mesmo na noite escura da tribulação e quando o mal parece mais forte.”
REGINA COELI – Sejamos testemunhas corajosas do Ressuscitado
“A evangelização, por mais empenhativa, exigente e superior às capacidades humanas, será tão verdadeira e eficaz quanto cada um de nós – e toda a Igreja – deixar o Senhor agir dentro de si e por meio de si. Isso é o que o Espírito Santo faz: nos torna instrumentos por meio dos quais o Senhor pode operar.”
Foi o que disse o Papa Francisco no Regina Coeli deste VII Domingo da Páscoa – Ascensão do Senhor e 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais – na alocução que precedeu a oração mariana deste tempo pascal.
Atendo-se ao Evangelho deste domingo, o Santo Padre destacou que a passagem do Evangelho de Marcos (16,15-20) apresenta-nos o último encontro do Ressuscitado com os discípulos antes de subir à direita do Pai.
A ascensão completa a missão de Jesus entre nós
Francisco observou que normalmente as cenas de despedida são tristes, dão aos que ficam uma sensação de perplexidade, de abandono; em vez disso, tudo isso não é o acontece aos discípulos.
“Apesar da separação do Senhor, não se mostram desconsolados, pelo contrário, estão alegres e prontos a partir como missionários ao mundo”, frisou o Papa, prosseguindo com duas interrogações: “Por que os discípulos não estão tristes? Por que também nós devemos nos alegrar ao ver Jesus que sobe ao céu?”
“A ascensão completa a missão de Jesus entre nós. Na verdade, se foi por nós que Jesus desceu do céu, é sempre por nós que ele sobe para lá. Depois de ter descido à nossa humanidade e tê-la redimido, ele agora sobe ao céu levando nossa carne com ele. À direita do Pai senta-se agora um corpo humano, o corpo de Jesus, e neste mistério cada um de nós contempla o próprio destino futuro.”
A oração de Jesus diante do Pai
“Não se trata de forma alguma de um abandono, Jesus permanece para sempre com os discípulos – conosco – permanece na oração, porque ele, como homem, reza ao Pai, e como Deus: homem e Deus”, destacou. Jesus mostra ao Pai as chagas, as chagas com as quais nos redimiu.
“A oração de Jesus está ali, com nossa carne: é um de nós, Deus homem, e reza por nós. E isto deve nos dar uma segurança, aliás, uma alegria, uma grande alegria! E o segundo motivo de alegria é a promessa de Jesus. Ele nos disse: “Eu vos enviarei o Espírito Santo”. E ali, com o Espírito Santo, é feito aquele mandamento que Ele dá precisamente na despedida: ‘Ide pelo mundo, proclamai o Evangelho’.”
A missão guiada pelo Espírito Santo
E será o Espírito Santo que nos levará pelo mundo, para levar o Evangelho. É o Espírito Santo daquele dia, que Jesus prometeu e, nove dias depois, Ele virá na festa de Pentecostes. Foi precisamente o Espírito Santo que tornou possível que todos nós sejamos assim hoje. Uma grande alegria! Jesus se foi: o primeiro homem perante o Pai. Ele partiu com as chagas, que foi o preço de nossa salvação, e reza por nós. Depois nos envia o Espírito Santo, nos promete o Espírito Santo, para irmos e evangelizar. Daí a alegria de hoje, daí a alegria deste Dia da Ascensão.
Francisco concluiu exortando a pedirmos a Maria, Rainha do Céu, que nos ajude a ser no mundo testemunhas corajosas do Ressuscitado nas situações concretas da vida.
APELO DO PAPA FRANCISCO
Um premente apelo às partes em conflito e a quem tem a responsabilidade de fazer cessar o ribombar das armas, e uma exortação a rezar para que israelenses e palestinos possam buscar o caminho para a paz. Após o Regina Coeli, o Papa se deteve longamente sobre a dramática escalada da violência no Oriente Médio:
“Acompanho com grande preocupação o que está acontecendo na Terra Santa. Nestes dias, violentos confrontos armados entre a Faixa de Gaza e Israel se impuseram, e correm o risco de degenerar em uma espiral de morte e destruição. Numerosas pessoas foram feridas e muitos inocentes morreram. Entre eles estão as crianças, e isto é terrível e inaceitável. A morte delas é sinal de que não quer construir o futuro, mas querem destruí-lo.
O Pontífice expressa sua preocupação também com a escalada das tensões nas cidades israelenses:
“Além disso, o aumento de ódio e violência que está envolvendo várias cidades em Israel é uma ferida grave para a fraternidade e a convivência pacífica entre os cidadãos, que será difícil de curar se não houver uma abertura imediata para o diálogo. Eu me pergunto: aonde o ódio e a vingança vão levar? Pensamos realmente que podemos construir a paz destruindo o outro? ‘Em nome de Deus que criou todos os seres humanos iguais em direitos, deveres e dignidade, e os chamou a viverem juntos como irmãos e irmãs entre si” (cf. Documento sobre a Fraternidade Humana) apelo à calma e, àqueles que têm responsabilidade para tal, a fazer cessar o ribombar das armas e a percorrer os caminhos da paz, também com a ajuda da comunidade internacional.
O caminho do diálogo
A exortação é a rezar, especialmente pelas crianças que são vítimas do conflito:
“Rezemos incessantemente para que israelenses e palestinos possam encontrar o caminho do diálogo e do perdão, para serem pacientes construtores de paz e justiça, abrindo-se, passo a passo, a uma esperança comum, a uma coexistência entre irmãos. Oremos pelas vítimas, especialmente pelas crianças; oremos pela paz à Rainha da Paz pela paz. Ave Maria…”
Fonte: Vatican News – texto de Raimundo de Lima