No mundo, 340 milhões de cristãos perseguidos. Covid agrava discriminações.
15/01/2021
Há mais de 340 milhões de cristãos no mundo, cerca de um em cada oito, que sofrem um alto nível de perseguição e discriminação, um fenômeno que para 309 milhões desses fiéis se torna até “extremo” em 50 países. Esta é a denúncia do relatório anual da ONG Open Doors apresentado na quarta-feira (13) em Roma.
O trabalho da equipe de pesquisadores da Open Doors, empenhada em monitorar a situação dos cristãos em 100 nações ao redor do mundo, revelou um agravamento substancial das situações de vulnerabilidade de cristãos individuais e comunidades de crentes expostos à perseguição, devido à pandemia da Covid-19 que criou um contexto pretextual para novas restrições à liberdade religiosa e fomentou a agilidade de grupos fundamentalistas e criminosos.
Aumentam as mortes de cristãos
O documento afirma claramente que “a perseguição anti-cristã está crescendo em termos absolutos”. Estima-se que no último ano o número de cristãos mortos foi de 4.761 (uma média de 13 por dia) com um aumento de 60% e a Nigéria juntamente com outras nações da África Subsaariana estão entre os 10 principais países com mais mortes de cristãos. Os cristãos presos sem processo e encarcerados são 4.277 (11 a cada dia) e os cristãos sequestrados 1.710 (uma média de 4 por dia). Por outro lado, houve uma diminuição no número de fechamentos, ataques e destruição de Igrejas e edifícios relacionados (escolas, hospitais, etc.) para um total de 4.488 casos em comparação com 9.488 no ano anterior.
Onde ocorre as perseguições
Aumenta para 12 o número de nações que revelam perseguições que podem ser definidas como extremas. As cinco primeiras posições permanecem inalteradas. Em primeiro lugar desde 2002 encontramos a Coréia do Norte e depois o Afeganistão, Somália, Líbia e Paquistão, onde a perseguição se manifesta na violência anti-cristã, mas também na discriminação nas diversas áreas da vida cotidiana dos cristãos, em represália à lei antiblasfêmia. Neste quadro complexo condicionado por perseguições de diferentes origens – política, ideológica, étnica, religiosa, nacionalista – a pandemia tem evidenciado e agravado as vulnerabilidades sociais, econômicas e étnicas de milhões de cristãos no mundo. “É evidente”, continua o Relatório, “que se tornou um catalisador de atitudes opressivas e repressivas, muitas vezes ocultas”. O Relatório 2021 destaca o caso da Índia, onde mais de 100.000 cristãos receberam ajuda de parceiros da Open Doors/Portas Abertas e 80% deles disseram aos pesquisadores da WWList que foram afastados dos centros de distribuição de ajuda.
Aumenta a violência doméstica
A pesquisa de Open Doors também se detém em um aspecto específico, o da violência doméstica, que devido ao confinamento, tem crescido exponencialmente. “Muitos convertidos à fé cristã ficaram isolados em casa com pessoas que hostilizavam abertamente a sua nova fé. Para milhões de cristãos, o trabalho, a educação e outros compromissos externos proporcionam alívio do controle doméstico e/ou agressão, bem como abuso físico, emocional, verbal e psicológico” esclarece o Relatório.
O diretor da ONG Open Doors, Cristian Nani explica ao Vatican News que muitos cristãos são considerados “os últimos da fila” em muitos países.
Os critérios do relatório
“Não nos referimos apenas ao grau de violência que as comunidades cristãs podem sofrer em países onde existem formas de discriminação e perseguição”, explica o diretor, “mas aprofundamos o tema do ponto de vista dos vários aspectos da vida do cristão. Estes são a vida privada, isto é, a relação íntima com a fé; a vida familiar e como viver a fé dentro dela; depois há a vida comunitária ou civil e consequentemente também o mundo do trabalho; e obviamente a vida nacional, isto é, que tipo de leis podem discriminar uma minoria cristã e finalmente a vida da Igreja, isto é, a possibilidade de que a comunidade de cristãos possa sofrer formas de restrição às atividades religiosas”.
As matrizes da perseguição
O diretor Nani então apresenta as “nove matrizes” que são as causas das perseguição: a islâmica; nacionalismo religioso; antagonismo étnico; opressão tribal entendida como clã e família; fenômeno que se estende em muitos países africanos; protecionismo denominacional, ou seja, quando uma denominação cristã oprime outra; também opressão comunista e pós-comunista; a intolerância secular que se espalha em países tecnicamente mais livres como os Ocidentais; paranoia ditatorial; e por fim o crime organizado em países como Colômbia ou México.
Tendências emergentes
Além das consequências da Covid, algumas tendências surgiram em 2020, destacadas pelo próprio diretor Nani: “Aumentaram a violenta militância islâmica na África assim como as restrições e a vigilância das comunidades cristãs por parte dos governos mais autoritários. Outra tendência é o nacionalismo baseado em uma filiação religiosa majoritária que está crescendo em algumas nações como Turquia ou Índia; por fim a Covid que tem favorecido a consolidação de grupos criminosos como os narcos no México e na Colômbia que são uma fonte de perseguição contra os cristãos”.
Cristãos, recurso para a sociedade
Neste contexto, o diretor falou do sofrimento dos cristãos de todas as confissões “que pedem para não serem esquecidos, também em termos de oração”. “No nível das relações entre países, somos chamados – acrescenta o diretor – a levar em conta o estado de saúde da liberdade religiosa”. Concluindo, Cristian Nani destaca o fato de que, “embora a fé seja um fator de vulnerabilidade, ela também é um elemento na resolução de conflitos devastadores ou êxodos, porque as igrejas locais e os trabalhadores cristãos podem ser um recurso fundamental para trazer esperança e estabilidade”.
Fonte: Vatican News (texto de Marco Guerra)