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Jerusalém recorda encontro de Francisco com o Sultão

30/09/2019

Notícias

Jerusalém – Alguém o definiu um dos gestos de paz mais extraordinários da história do diálogo entre o cristianismo e o islamismo: o encontro entre Francisco de Assis e o Sultão do Egito Al Malik Al-Kamil, há exatamente 800 anos. Em plena quinta Cruzada, em junho de 1219, Francisco, depois de algumas tentativas fracassadas, subiu em um barco e chegou ao porto de São João de Acre, no norte da Palestina (atual cidade israelense de Acre) com o objetivo de visitar o Sultão do Egito.

O encontro aconteceu provavelmente na trégua de armas entre agosto e setembro, no porto de Damietta, no delta do Nilo, cerca de 200 km ao norte do Cairo, onde o sobrinho de Saladino, indo contra o conselho de seus dignitários, acolheu Francisco com grande cortesia, oferecendo-lhe também presentes que foram recusados em homenagem ao voto de pobreza. Um aniversário que se torna apelo a continuar o diálogo com o Islã.

E para recordar esse evento Jerusalém abre as suas portas para reviver os “800 anos da peregrinação de paz de São Francisco à Terra Santa (1219-2019)”. Com esse tema realiza-se na Cidade Santa um encontro que tem início nesta segunda-feira (30/09) e se conclui no próximo dia 3 de outubro, numa iniciativa dos frades da Custódia.

“Exatamente 800 anos atrás, durante a quinta Cruzada – explicou o custódio da Terra Santa à Rádio Vaticano, Vatican News, Frei Francesco Patton –, São Francisco veio como peregrino e testemunha de paz, ficando aqui até 1220, até retornar para a Itália.” O custódio recorda que “Francisco de Assis atravessou as linhas de guerra e superou a lógica do conflito de civilização em curso, seguindo a divina inspiração que o levou a acreditar na possibilidade do encontro fraterno com toda criatura”.

Foi graças a seu encontro com o sultão do Egito Al-Malik Al-Kamil e a sua longa permanência na Terra Santa que pôde elaborar aquele método de evangelização, feito de testemunho de vida e de anúncio da Palavra que inspirou ao longo destes oito séculos e guia ainda hoje a nossa presença franciscana no Oriente Médio, através da Custódia da Terra Santa”, acrescentou.

O encontro de São Francisco com o Sultão é visto como o ponto de origem da presença franciscana na Terra Santa.

Início dos trabalhos
Os trabalhos do convênio em Jerusalém têm início nesta segunda com a conferência do dr. Bartolomeo Piron, professor de Línguas e Literatura Árabe sobre o tema “O encontro entre Francisco e o Sultão através das fontes árabes”. Já o prof. Antonio Musarra centraliza a sua atenção sobre o tema “O encontro entre Francisco e o Sultão através das fontes cruzadas e ocidentais”.

O primeiro dia de trabalhos se conclui com as Vésperas presididas pelo Frei Narcyz Klimas.

Já o prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, cardeal Leonardo Sandri, presente no encontro na próxima quinta-feira (03/10), falará sobre o significado do encontro de Francisco com o Sultão “no magistério e nos gestos do Papa Francisco”. Cardeal Sandri preside na sexta-feira (04/10), na Igreja de São Salvador, a Missa Solene na festividade de São Francisco de Assis.

Por sua vez, o secretário geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Giovanni Rinaldi, falará sobre o significado atual do encontro entre São Francisco e o sultão Al-Malik Al-Kamil para a Ordem e para a presença franciscana na Terra Santa.

Pessoalmente, disse Frei Francesco Patton, acredito que o “sonhador” Francisco mostrou no encontro com o sultão muito mais clarividência, sentido prático e eficácia do que todos aqueles que preferiram o confronto ao diálogo. “O resultado é que, oito séculos depois, nós, Franciscanos, ainda estamos vivos e ativos na Terra Santa”.


ÍNTEGRA DA CARTA DE FREI FRANCESCO PATTON
O ano 2019 é particularmente significativo para nós, porque, há exatamente 800 anos, São Francisco veio como peregrino e testemunha da paz à Terra Santa, permanecendo aqui até 1220, antes de voltar à Itália.
Enquanto a Quinta Cruzada se enfurecia e parecia que a única linguagem possível fosse aquela das armas, Francisco de Assis atravessa as linhas de guerra e supera a lógica do embate da civilidade em ato, seguindo simplesmente a divina inspiração que o leva a crer na possibilidade do encontro fraterno com todas as criaturas.

É graças ao seu encontro com o sultão Al-Malik Al-Kamil e à sua prolongada permanência na Terra Santa, que poderá, depois, elaborar aquele método de evangelização, feita pelo testemunho de vida e anúncio da Palavra, que, ao longo desses oito séculos, inspirou e ainda guia nossa presença fanciscana no Oriente Médio, através da Custódia da Terra Santa.

Frei Francisco Patton, OFM,
Custódio da Terra Santa