Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Papa Francisco pede aos jovens coragem para construir pontes e abater os muros

30/07/2016

Papa Francisco

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Cracóvia – Na parte da tarde deste sábado (30/7), o Santo Padre se dirigiu ao “Campus Misericordiae”, situado a 12 quilômetros de Cracóvia. Este é lugar central dos principais eventos da JMJ, neste sábado e domingo, que são a Vigília de Oração e a Missa conclusiva da JMJ. O Campo da Misericórdia situa-se na localidade de Brzegi, uma região de atividades econômicas de Wieliczka. Trata-se de uma área de aproximadamente três mil hectares, capaz de acolher até dois milhões de pessoas. Depois da JMJ este lugar se tornará Asilo para Idosos e Centro de caridade para enfermos.

O altar no “Campus Misericordiae”, encontra-se em uma estrutura de 11 metros de altura, 150 de largura, bem visível de qualquer ponto do campo. Serão utilizados 66 autofalantes e 30 telões para uma maior participação dos jovens dos eventos conclusivos da JMJ.

Para se chegar ao “Campus Misericordiae” foram melhorados 17 quilômetros de estradas, instaladas antenas de Wi-Fi gratuito, além de uma Capela para adoração Eucarística, pontos de informação entre outros para necessidades pessoais.

No centro do “Campus Misericordiae” foi construído um grande lago natural no qual se destaca uma “Arca de Noé”, para evocar os 1050 anos de Batismo da Polônia.

Neste local, milhares de jovens participam, na noite deste sábado (30/7), da Vigília de Oração, presidida pelo Papa Francisco, que terá como tema: “Jesus, fonte de Misericórdia”! O evento prevê alguns testemunhos pessoais dos jovens e uma cenografia, com base no tema, dividida em cinco partes: fé aos duvidosos; esperança aos desencorajados; amor aos indiferentes, perdão a quem comete o mal, alegria às pessoas tristes.

Durante a Vigília de Oração no “Campus Misercordiae”, o Papa Francisco fez um longo pronunciamento, partindo dos testemunhos de vida apresentados pelos jovens.
Referindo-se ao depoimento de Rand, um rapaz da Síria, que pedia para “rezar pelo seu amado país”, o Papa disse: “O que há de melhor, para começar a nossa Vigília, do que rezar?

Viemos de várias partes do mundo, de continentes, países, línguas, culturas e povos diferentes. Somos «filhos» de nações que, talvez, estejam em paz ou, talvez, em guerra.

Neste sentido, Francisco convidou os presentes a rezar pelos sofrimentos das vítimas da guerra, embora nada justifica o sangue derramado de um irmão. A nossa resposta a este mundo em conflito tem um nome: fraternidade, irmandade, comunhão, família.

Aqui, pediu aos jovens presentes para fazer um momento de silêncio e rezar (pausa).

 

A seguir, o Pontífice recordou a imagem dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Eles estavam fechados no Cenáculo, com medo e ameaçados pelo ambiente circunstante. Naquele contexto, aconteceu algo de espetacular e grandioso: a vinda do Espírito, que os impeliu a uma aventura impensável.

Os jovens, que acabaram de partilhar conosco as suas experiências, pareciam os discípulos, que temeram e se fecharam. Ficaram paralisados!
Com Jesus somos capazes de contagiar os demais com a alegria, que nasce do amor e da misericórdia de Deus; devemos vê-lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no doente, no amigo em perigo, no encarcerado, no refugiado, no migrante, no próximo solitário.

Deus, frisou Francisco, quer abrir as portas das nossas vidas. O mundo de hoje pede-nos para ser protagonistas da história. A história pede-nos para defender a nossa dignidade e o nosso futuro.

 

O Senhor, com o dia de Pentecostes, realiza em nós um dos maiores milagres: torna-nos sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer que as nossas mãos sejam suas mãos para construir um mundo novo.

O Senhor, concluiu o Papa, aposta no nosso futuro; Ele nos convida a deixar a nossa marca no mundo e na vida, que determina a história humana.
Logo, o Santo Padre exortou a juventude, presente em Cracóvia, a saber viver na diversidade, no diálogo, na partilha; a ter coragem de construir pontes e de abater os muros!

Por fim, como sinal de unidade, o Papa pediu aos jovens para dar-se as mãos, para formar uma grande ponte de fraternidade e amizade!

Ao término do pronunciamento do Pontífice, foi exposto sobre o altar do “Campus Misericordiae” o ostensório com o Santíssimo Sacramento para a adoração dos presentes.
Recordamos que este domingo, no mesmo “Campus Misericordiae”, o Papa Francisco presidirá à Santa Missa de encerramento da JMJ, da qual concelebrarão cerca de 1.200 bispos e 15 mil sacerdotes.


 

O discurso previsto do Santo Padre, sem os acréscimos improvisados:

 

“Queridos jovens!
É bom estar aqui convosco nesta Vigília de Oração.

Na parte final do seu corajoso e emocionante testemunho, Rand pediu-nos uma coisa. Disse-nos: «Peço-vos, sinceramente, que rezeis pelo meu amado país». Uma história marcada pela guerra, pelo sofrimento, pela ruína, que termina com um pedido: o da oração. Que há de melhor para começar a nossa Vigília do que rezar?
Vimos de várias partes do mundo, de continentes, países, línguas, culturas, povos diferentes. Somos «filhos» de nações que estão talvez em disputa por vários conflitos, ou até mesmo em guerra. Outros vimos de países que podem estar «em paz», que não têm conflitos bélicos, onde muitas das coisas dolorosas que acontecem no mundo fazem parte apenas das notícias e da imprensa. Mas estamos cientes duma realidade: hoje e aqui, para nós provenientes de diversas partes do mundo, o sofrimento e a guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa anónima, já não são uma notícia de imprensa, mas têm um nome, um rosto, uma história, fizeram-se-me vizinhos. Hoje a guerra na Síria é a dor e o sofrimento de tantas pessoas, de tantos jovens como o corajoso Rand, que está aqui entre nós e pede-nos para rezar pelo seu país amado.

Há situações que nos podem parecer distantes, até ao momento em que, de alguma forma, as tocamos. Há realidades que não entendemos porque vemo-las apenas através dum monitor (do telemóvel ou do computador). Mas, quando tomamos contacto com a vida, com as vidas concretas e já não pela mediação dos monitores, então algo mexe connosco, sentimo-nos convidados a envolver-nos: «Basta de cidades esquecidas», como diz Rand; nunca mais deve acontecer que irmãos estejam «circundados pela morte e por assassinatos» sentindo que ninguém os ajudará. Queridos amigos, convido-vos a rezar juntos pelo sofrimento de tantas vítimas da guerra, para podermos compreender, uma vez por todas, que nada justifica o sangue dum irmão, que nada é mais precioso do que a pessoa que temos ao nosso lado. E, neste pedido de oração, quero-vos agradecer também a vós, Natália e Miguel, pois também vós partilhastes connosco as vossas batalhas, as vossas guerras interiores. Apresentastes-nos as vossas lutas e o modo como as superastes. Sois um sinal vivo daquilo que a misericórdia quer fazer em nós.

Agora, não vamos pôr-nos a gritar contra ninguém, não vamos pôr-nos a litigar, não queremos destruir. Não queremos vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família. Alegramo-nos pelo facto de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em oração. Façamos um momento de silêncio, e rezemos; ponhamos diante de Deus os testemunhos destes amigos, identifiquemo-nos com aqueles para quem «a família é um conceito inexistente, a casa apenas um lugar para dormir e comer», ou com aqueles que vivem no medo porque creem que os seus erros e pecados os baniram definitivamente. Coloquemos na presença do nosso Deus também as vossas «guerras», as lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração.

 

(SILÊNCIO)
Enquanto rezávamos, veio-me à mente a imagem dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Uma cena que nos pode ajudar a compreender tudo aquilo que Deus sonha realizar na nossa vida, em nós e connosco. Naquele dia, os discípulos estavam fechados dentro de casa pelo medo. Sentiam-se ameaçados por um ambiente que os perseguia, que os forçava a estar numa pequena casa obrigando-os a ficar ali imóveis e paralisados. O medo apoderou-se deles. Naquele contexto, acontece algo espetacular, algo grandioso. Vem o Espírito Santo, e línguas como que de fogo pousaram sobre cada um deles, impelindo-os para uma aventura que nunca teriam sonhado.

Ouvimos três testemunhos; tocamos, com os nossos corações, as suas histórias, as suas vidas. Vimos como eles viveram momentos semelhantes aos dos discípulos, atravessaram momentos em que estiveram cheios de medo, em que parecia que tudo desmoronava. O medo e a angústia, que nascem do facto de uma pessoa saber que saindo de casa pode não ver mais os seus entes queridos, o medo de não se sentir apreciado e amado, o medo de não ter outras oportunidades. Eles partilharam connosco a mesma experiência que fizeram os discípulos, experimentaram o medo que leva ao único lugar possível: o fechamento. E, quando o medo se esconde no fechamento, fá-lo sempre na companhia da sua «irmã gémea», a paralisia; faz-nos sentir paralisados. Sentir que, neste mundo, nas nossas cidades, nas nossas comunidades, já não há espaço para crescer, para sonhar, para criar, para contemplar horizontes, em suma, para viver, é um dos piores males que nos podem acontecer na vida. A paralisia faz-nos perder o gosto de desfrutar do encontro, da amizade, o gosto de sonhar juntos, de caminhar com os outros.

 

Na vida, porém, há outra paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ! Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar; porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos enquanto outros – talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós. Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; para muitos, isto resulta mais conveniente do que ter jovens vigilantes, desejosos de responder ao sonho de Deus e a todas as aspirações do coração.

Mas a verdade é outra! Queridos jovens, não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade.

É precisamente aqui que existe uma grande paralisia: quando começamos a pensar que a felicidade é sinónimo de comodidade, que ser feliz é caminhar na vida adormentado ou narcotizado, que a única maneira de ser feliz é estar como que entorpecido. É certo que a droga faz mal, mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis, que acabam por nos tornar em todo o caso muito mais escravos. Umas e outras despojam-nos do nosso bem maior: a liberdade.

Amigos, Jesus é o Senhor do risco, do sempre «mais além». Jesus não é o Senhor do conforto, da segurança e da comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a «loucura» do nosso Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no refugiado e migrante, no vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso Deus, que nos convida a ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais; que nos encoraja a pensar uma economia mais solidária. Em todos os campos onde vos encontrais, o amor de Deus convida-vos a levar a Boa Nova, fazendo da própria vida um dom para Ele e para os outros.

 

Poderíeis replicar-me: Mas isto, padre, não é para todos; é só para alguns eleitos! Sim, e estes eleitos são todos aqueles que estão dispostos a partilhar a sua vida com os outros. Tal como o Espírito Santo transformou o coração dos discípulos no dia de Pentecostes, assim o fez também com os nossos amigos que partilharam os seus testemunhos. Uso as tuas palavras, Miguel: disseste-nos que no dia em que te confiaram, lá na «Fazenda», a responsabilidade de contribuir para o melhor funcionamento da casa, então começaste a compreender que Deus te pedia algo. Assim começou a transformação.

Este é o segredo, queridos amigos, que todos somos chamados a experimentar. Deus espera algo de ti, Deus quer algo de ti, Deus espera-te. Deus vem quebrar os nossos fechamentos, vem abrir as portas das nossas vidas, das nossas perspetivas, dos nossos olhares. Deus vem abrir tudo aquilo que te fecha. Convida-te a sonhar, quer fazer-te ver que, contigo, o mundo pode ser diferente. É assim: se não deres o melhor de ti mesmo, o mundo não será diverso.

O tempo que hoje estamos a viver não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, calçados com as botas. Aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para reservas. O mundo de hoje pede-vos para serdes protagonistas da história, porque a vida é bela desde que a queiramos viver, desde que queiramos deixar uma marca. Hoje a história pede-nos que defendamos a nossa dignidade e não deixemos que sejam outros a decidir o nosso futuro. O Senhor, como no Pentecostes, quer realizar um dos maiores milagres que podemos experimentar: fazer com que as tuas mãos, as minhas mãos, as nossas mãos se transformem em sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer as tuas mãos para continuar a construir o mundo de hoje. Quer construí-lo contigo.

Dir-me-ás: Mas, padre, eu sou muito limitado, sou pecador… que posso fazer? Quando o Senhor nos chama não pensa naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou deixamos de fazer. Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar. Ele aposta sempre no futuro, no amanhã. Jesus olha-te projetado no horizonte.

Por isso, amigos, hoje Jesus convida-te, chama-te a deixar a tua marca na vida, uma marca que determine a história, que determine a tua história e a história de muitos.

A vida de hoje diz-nos que é muito fácil fixar a atenção naquilo que nos divide, naquilo que nos separa. Querem fazer-nos crer que fechar-nos é a melhor maneira de nos protegermos daquilo que nos faz mal. Hoje nós, adultos, precisamos de vós para nos ensinardes a conviver na diversidade, no diálogo, na partilha da multiculturalidade não como uma ameaça mas como uma oportunidade: tende a coragem de nos ensinar que é mais fácil construir pontes do que levantar muros! E todos juntos pedimos que exijais de nós percorrer as estradas da fraternidade. Construir pontes… Sabeis qual é a primeira ponte a construir? Uma ponte que podemos realizar aqui e agora: um aperto de mão, estender a mão. Coragem! Fazei agora, aqui, esta ponte primordial, e dai-vos a mão. É a grande ponte fraterna, e podem aprender a fazê-la os grandes deste mundo… Não para a fotografia, mas para continuar a construir pontes cada vez maiores. Que esta ponte humana seja semente de muitas outras; será uma marca.
Hoje, Jesus, que é o caminho, chama-te a deixar a tua marca na história. Ele, que é a vida, convida-te a deixar uma marca que encha de vida a tua história e a de muitos outros. Ele, que é a verdade, convida-te a deixar as estradas da separação, da divisão, do sem-sentido. Aceitais? Que respondem as vossas mãos e os vossos pés ao Senhor, que é caminho, verdade e vida? “