Viver a pobreza na espiritualidade franciscana
Frei Almir Guimarães
Vivemos no mundo do dinheiro, da força, do poder, do euro, do dólar, dos bancos nacionais, dos bancos internacionais, do aumento ou da diminuição do PIB, das subidas e descidas das bolsas de valores, do lucro. Vamos refletir sobre a pobreza de Francisco de Assis. Temos diante dos olhos um texto feito pelo frade franciscano francês Pierre Brunette. Servimo-nos dele para fazer uma pequena meditação sobre a pobreza em Francisco sem pretensão de exaurir o tema.
Francisco nunca fala ou se refere a uma pobreza em si. Ele a personifica. Antes de designá-la de irmã ou de senhora, encontra-a na pessoa de Cristo e de sua mãe. Jesus é o pobre que ele anuncia, o perfeito itinerante, “nascido para nós em caminho”; na espiritualidade de Francisco, Jesus pede esmola, como um indigente e um andarilho, sofrendo as provações da vida como a fome, a sede, as humilhações, a fraqueza e a perseguição. Francisco vê Jesus rezar na cruz na condição de um mendigo, de alguém que foi abandonado, mas que confia.
Francisco apreciava uma expressão: “Seguir as pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Frei Leão recebeu este aviso carinhoso no bilhete que Francisco lhe deu. A atitude de pobreza está vinculada com a da humildade. Pobreza e humildade são as primeiras virtudes cantadas em seu Louvores às Virtudes. Pierre Brunette diz literalmente: “São os traços de Cristo que Francisco discerne no rosto de todo pobre que é encontrado. Assim, a pobreza é lugar de encontro, ao mesmo tempo que opção social”.
Ser pobre para Francisco é: um modo de se comportar fraternalmente, de se vestir de trajes rudes, de se alimentar frugalmente, de trabalhar com as próprias mãos, de prestar serviço nas terras de outros, de recusar dinheiro e privilégios, de recorrer à mendicância em caso de necessidade, de nada reivindicar.
A pobreza é uma herança: “Esta é aquela sublimidade da altíssima pobreza que vos constituiu, meus irmãos caríssimos, herdeiros e reis do reino dos céus, vos fez pobres de coisas, vos elevou em virtudes. Seja esta a vossa porção que vos conduz à terra dos vivos. Aderindo totalmente a ela, irmãos diletíssimos, nenhuma outra coisa jamais queirais de baixo do céu em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Regra Bulada 6).
Para Francisco, a primeira coisa pedida aos irmãos que chegam é que vendam seus bens, deem seus bens aos pobres para poderem viver evangelicamente. A pobreza exterior é decorrência de uma atitude interior. O espírito de pobreza é espírito de desapropriação do ser e dos bens, sobretudo da vontade própria. A ideia de restituir a Deus o que é de Deus nos escritos de Francisco é ressaltada em nossos dias. “E restituamos todos os bens ao Senhor Deus altíssimo e sumo e reconheçamos que todos os bens são dele e por tudo demos graças a ele, de quem procedem todos os bens. E o mesmo altíssimo e sumo, único Deus verdadeiro, os tenha, e lhe sejam restituídos, e ele receba todas as honras e reverências, todos os louvores e bênçãos, todas as graças e glória, ele de quem é todo o bem, o único que é bom” (Regra não bulada 17, 17-18).
A pobreza franciscana é um lugar social de solidariedade. Francisco pedirá a seus irmãos não somente que visitem os pobres, mas vivam entre eles, servi-los como pobres servem a pobres, submissos a todos. Os frades deveriam se assemelhar a eles por seu modo de vida e por sua mentalidade de desapropriação. Francisco não separa a pobreza material da pobreza em espírito tanto para os frades quanto para os leigos casados que queriam viver à maneira do Poverello.
Obs.: Inspirado em Pierre Brunette, François d’Assise et ses conversions, Ed. Franciscaines de Paris, p. 139ss.