Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Vida reencontrada de Francisco de Assis, de Jacques Delarum

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Introdução 

            Jacques  Dalarum, pesquisador francês, historiador da Idade Média, membro de conceituados Institutos de História da França, está se especializando no estudo das Fontes Franciscanas. Recentemente, as Éditions Franciscaines de Paris publicaram uma obra com textos de biografia de Francisco como uma Terceira Vida do santo segundo  Tomás de Celano. Cientificamente, Jacques Dalarum  dá satisfação pormenorizada de suas pesquisas. Descreve as condições em que o texto foi encontrado.  Fala mesmo de breviário antigo com rasuras. Nesta rubrica do  “Franciscanamente”, desejamos simplesmente transcrever as leituras preparadas pelo Celanense em vista do ofício coral  (Légende à l’usage   du choeur). Nossa fonte: La Vie retrouvée de François d’Assise, Ed. Franciscaines, Paris 2015.

Insistimos: limitamo-nos a transcrever leituras para o ofício coral.  A obra reencontrada tem outros textos.  Nossa base é a tradução francesa de Dalarum.  Novidades?  Talvez não.  Mais um texto que foi gerado em função da força e do vigor de Francisco.  Mais um que confirma a virulência do carisma do Poverello.

O autor das ditas nove leituras é Tomás de Celano que se dirige a Frei Elias, ministro da Ordem, designando-o de “frater benedicte”:

“Tu me pediste, frater benedicte, de destacar certos elementos da Legenda de nosso bem-aventurado Pai Francisco e de os ordenar  numa série de nove leituras de sorte que pudessem ser inseridas  nos breviários:  assim, em razão de sua brevidade,  todos poderiam tê-las”.

            Aqui começa a carta sobre a vida do bem-aventurado Francisco 

            Ao venerável e reverendo Frei Elias, Ministro Geral dos Frades Menores.

A vida de nosso gloriosíssimo Pai Francisco que, atendendo à ordem do senhor Papa Gregório, e com tuas instruções, compus há tempos atrás numa obra mais prolixa é tida como uma peça tendo abundância de pormenores.  Reduzi tudo num breve opúsculo e tive o cuidado de fazer um discurso sucinto, colocando abreviadamente os pontos essenciais e úteis, bem como omitindo outros. Há os que dizem que algumas coisas  deveriam ter  sido ditas de outra maneira, de maneira diferente do modo como as escrevi. Tu haverás de discernir com segurança esse assunto, já que Deus abriu teu espírito e exprimiu o desejo de fazer o que devia ser feito. Pai venerando,  segundo a sabedoria que te foi dada, haverás de suprimir e eliminar o que parecer entrave.  Que acolhas e conserves o que for útil.  Prolixidade ou brevidade, tudo é bom sob o signo da obediência.

Eis as nove leituras.  A tradução que apresentamos procurou respeitar o texto francês de Dalarum, o que faz com que, aqui e ali, pareça pesado. 

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Aqui começa a vida de nosso  bem-aventurado Pai Francisco 

Como se converteu a Deus.

Como vendeu seus bens.

Como seu pai o perseguiu e sua mãe o libertou. 

Primeira leitura

O homem de Deus Francisco, oriundo da cidade de Assis, que se situa no território vale de Espoleto, desde os primeiros anos de vida  foi educado desenfreadamente nas vaidades do século. Como seguisse os ensinamentos de seus pais até quase os vinte e cinco anos de sua existência, passou o tempo vivendo de maneira tão vã. Entre os que  buscam os miseráveis agrados do século, ele era tido, em sua pátria como o mais fútil e o mais desenfreado. Mesmo que o bom Deus o tenha preservado dos enormes pecados por meio dos quais os homens  arruínam sua origem e aviltam sua honra natural, Francisco, progredindo no mal das vaidades e  gracejos  mais do que todos de sua idade, procurava ser admirado em toda as suas ações. Era muito rico, não avarento, mas pródigo. Não guardava o dinheiro, mas o dissipava futilmente. Nesse tempo, ele percorria diversas regiões transportando  fardos de tecidos como comerciante que era. Muitos perceberam nele um senso de humanidade. Com esta dimensão, ele colocava em honra a amizade em todo o gênero humano.

Segunda leitura

Como ele continuasse com essa má mentalidade  para que tornasse  um exemplo de conversão a Deus para a posteridade, a mão de Deus esteve sobre ele e o jovem foi  mudado pela direita do  Altíssimo, afligindo seu corpo por longas enfermidades e ornando seu  espírito com a unção do Espírito Santo. De repente, com efeito, ele foi transformado em outro homem e renunciou aquilo com que anteriormente ele se alegrava.  Tudo o que antes o rejubilava passou a ser ocasião de desgosto.  Mas pelo fato de que as prosperidades elevam o que o negativo abaixa, tendo recuperado as forças do corpo, desejando ainda as benesses do mundo, decidiu se associar a um nobre de Assis que se preparava para batalha na Puglia. Como estivesse totalmente decidido de acompanhar  o dito nobre, certa noite teve uma visão de sua casa como cheia de armas cavalheirescas, casa  cujos cômodos normalmente  eram apenas ocupados por mercadorias.  Enquanto admirava tudo isso, em sonhos uma voz  dizia que essas armas seriam para ele e seus cavaleiros.

Terceira leitura

Ao despertar ia começando a se animar com tal  projeto mas tem dificuldade em compreender a mudança inesperada ocorrido, em silêncio e admirava-se de si mesmo. Procura, nesse momento, orientar sua vontade na direção da vontade de Deus e, tomando distância do alarido do século e do negócio, aplicou-se em fazer Jesus Cristo penetrar no homem interior. Queria ardentemente que ninguém o soubesse e não o consultasse a respeito desse novo, apenas Deus.  A um amigo, no entanto,  ele dizia, por enigma, que havia encontrado um tesouro. No intuito de buscar dito tesouro sentia-se convidado a entrar em lugares escondidos, entrava numa gruta onde rezava ao Pai que escuta no secreto. Assim, inundado de alegria divina, não podendo conter o ardor do Espírito, desistiu de dirigir-se à Puglia e comunica que fará grandes coisas em sua terra. Interrogado a respeito de casar-se, afirmou que estava quase no momento de tomar uma mulher muito sábia, mais bela e mais amável  que ninguém jamais vira.

Quarta leitura

Certo dia, como o Senhor lhe houvesse revelado na oração o que devia fazer, não cabendo mais de alegria, tendo tomado  tecidos preciosos para vender, dirigiu-se apressadamente até a cidade chamada Foligno.  Lá, como habitualmente acontecia, vendeu tudo o que havia levado. Depois que recebeu o preço abandonou,  contra seus hábitos,  o cavalo que havia usado como montaria.  De maneira admirável,  ele que tinha se convertido há pouco tempo  totalmente à obra de Deus, sentindo-se oprimido como  por um peso  por ter consigo  aquele dinheiro  por uma hora que fosse e  o considerando como poeira, entregou-o em benefício dos pobres a um padre pobre que morava numa igreja perto de Assis. O padre, perturbado por receio da reação dos pais e estupefato diante da maravilhosa conversão de seu estado de vida não quis aceitá-lo. Francisco como desprezador das riquezas, jogou o dinheiro na fresta de uma janela, desprezando-o como se fosse poeira.

Quinta-leitura

O pai, ouvindo falar de todas essas aberrações, ficou profundamente transtornado com esses inesperados acontecimentos  e chegando ao lugar onde habitava o servo de Deus,  procurou-o, mas não o encontrou. Ele, com efeito, havia se escondido perto de um mês numa cavidade onde toda ajuda era-lhe secretamente fornecida. Um dia em que ele entrava na cidade de Assis, vestido de vis tecidos, o pai, sem a menor cerimônia, lançou a mão sobre ele de modo desonroso e o arrastou até  à  casa.  Sem a menor piedade trancou-o durante dias num lugar tenebroso, acrescentando às palavras golpes e, aos golpes, impedimentos.  Tudo isso, no entanto, o tornava mais decidido no intuito de alcançar a meta a que se propusera. Pouco tempo depois, como o pai devia deixar o país e dirigir-se ao exterior, sua mãe, desvencilhando-o de tudo, deu-lhe a liberdade. Os cidadãos e todos que o haviam conhecido, zombavam dele como se fosse um louco e demente, lançando sobre ele a lama das praças e pedras.  O servo de Deus, nem alquebrado nem mudado com as injúrias, ficava como que surdo a tudo  isto.

Tradução e redação: Frei Almir Guimarães. Imagens do filme “Irmão Sol Irmã Lua” para retratar o início da vida de Francisco.

(continua)

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