Um pequeno buquê de critérios vocacionais

1. Nossas fraternidades franciscanas seculares estão espalhadas pelo mundo afora com suas luzes e sombras. Elas são constituídas por homens e mulheres que buscam sair de uma vida cristã medíocre, apenas de práticas religiosas, e desejam encontrar-se de verdade com o Senhor Deus e o seu Cristo. Não buscam uma “associação” piedosa. Embora pertençam geograficamente a territórios paroquiais, seu horizonte não se restringe à paróquia. De alguma forma são sacudidos pela força do Evangelho. Depois de um período de estudo e de reflexão aceitam fazer uma profissão: seguir o Evangelho de Cristo por toda a vida à maneira de Francisco e da espiritualidade francisclariana. São pessoas que estão sempre a caminho. Não são, repetimos, agregados a paróquias e esquemas paroquiais. Com isto não dizemos que se alheiam da comunidade paroquial. No entanto, aí se fazem presentes de maneira crítica, no bom sentido da palavra.

2. São cristãos que vivem no mundo, na família, no trabalho, na qualidade de leigos em sério processo de maturação. Normalmente não podem ser pessoas imersas em atividades paroquiais que as impeçam de construir sua verdadeira identidade: leigos no meio do mundo com espírito franciscano (simplicidade, cortesia, fraternismo, etc). Não devem ingressar na Ordem os que, mesmo casados, alimentam uma “saudade” de uma vida de consagrados ou de ministros do altar. O lugar, espaço, seio dos franciscanos seculares, é a realidade secular.

3. Insistimos. Podem ser chamados a fazer parte das Fraternidades Seculares cristãos que andam insatisfeitos com sua prática mecânica e sem alma. Não querem fracassar na vida. São pessoas às quais o Cristo dos Evangelhos, o Cristo ressuscitado andou chamando e convocando. Têm vontade de responder ao apelo: “Vem e segue-me”. Os melhores candidatos à vida franciscana secular não são aqueles que já estão engajados e compromissados com mil e uma pastorais, mas os que estão num estado de busca das estrelas. Os melhores candidatos são aqueles que têm senso crítico diante de pessoas e comunidades alienadas, preocupadas apenas com devocional e com a dimensão caritativa assistencialista, bem como os cultivadores de intensas emoções religiosas.

4. Podem ser chamados a ingressar na Ordem Franciscana Secular os que foram e continuam sendo tocados pelo Sermão da Montanha: os que são sal da terra e luz do mundo, os que gostam de rezar no quarto com a porta fechada, os que, quando solicitados, além do manto dão a túnica, os que não andam atrás de honras e cargos, os que não se contentam com as aparências e buscam o cerne das coisas. Os franciscanos seculares, como Francisco, desejam acolher de maneira espontânea, os pedidos e as exigências do Evangelho.

5. São aptos para fazer caminhada espiritual da Ordem Franciscana Secular os que desejam se desvencilhar de determinadas amarras: dinheiro e bens, sempre mais dinheiro e mais bens, os que querem tomar distância da sociedade da rentabilidade, da competição, da indiferença para com os outros, sociedade que usa as pessoas como coisas. Não estão de acordo com o individualismo empobrecedor e o regime ou império da provisoriedade. Os franciscanos seculares são pessoas contestadoras de uma sociedade que não tem senso crítico, mas cria robôs.

6. São pessoas que podem optar pelas fileiras da Ordem Franciscana Secular os que valorizam a vida em fraternidade, a vida dos irmãos. Os grupamentos em que vivem se denominam precisamente de fraternidades. Há o sacramento da reunião geral e de outras reuniões dos irmãos, da visita aos mais necessitados (doentes, presidiários, os jogados à beira do caminho), dos engajamentos sérios em vista dos direitos dos irmãos, etc. Sem vocação para a fraternidade fica difícil ser bem-sucedido no caminho da Ordem Franciscana Secular. Estão dispostos a ir pelo mundo sem descanso, porque o Amor não é amado.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM