Francisco é bom exemplo daquele que aposta tudo pela fé
Francisco de Assis compreende que a fé é uma chama muito frágil no meio da noite. Ele vai andar ao encalço da fé como alguém que deseja abrir um poço no deserto, como alguém que remexe a terra para encontrar um tesouro. Nunca esquecerá que a aventura evangélica começa sempre por uma ruptura. O “homem velho”, todo dobrado sobre si mesmo, ouve o estalar de seus ossos quando aprende a colocar-se de pé e abrir seus braços livres à luz de Deus. Como acolher a gratuidade dos dons do Senhor sem deixar cair de nossas pobres mãos nossas falsas riquezas? Os primeiros anos foram decisivos para o Poverello.
O Evangelho passou a feri-lo como o bisturi de um cirurgião. A pacífica homilia que mantinha adormecida a assembleia dominical se converteu para ele num evangelho de fogo. O contrário do medo é precisamente a fé. Ter a coragem de tudo arriscar. Renunciar ao desejo de manejar sua vida, seus dons, seus bens, de cada dia seguir solitariamente o seu caminho, para abandonar-se à vontade de Deus, para entrar num projeto amoroso sobre cada um de nós… Esse é todo o mistério da fé. Francisco é bom exemplo daquele que aposta tudo pela fé. Não se pode entender nada de suas decisões se não partirmos deste fundamento inicial: a conversão de Francisco é o desejo do homem que se abre ao desejo de Deus.
Michel Hubaut, “El camino franciscano”