Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Clara fez no terreno da Igreja o jardim da humildade

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“Cultivou no campo da fé a vinha da pobreza”. (Bula de Canonização 9)

Paz e bem!

O Papa Alexandre IV, por ocasião da publicação da Bula de Canonização de Santa Clara, escreve que ela, além de brilhar claramente e irradiar do alto a grandeza do prêmio eterno (“reluz no céu”), é uma mulher virtuosa que transmite vida e luz entre os mortais (“foi clara na terra”). E a mesma Bula usa três símbolos para ilustrar a grandeza da vida de Clara no coração da Igreja e do mundo:

“Clara foi a ÁRVORE destacada e eminente, de ampla ramagem, que deu o doce fruto da religião no campo da Igreja, e em cuja sombra agradável e gostosa acorreram e acorrem de toda a parte muitas discípulas de fé para saborear um fruto tão especial”.

“Clara foi o VEIO LÍMPIDO do vale de Espoleto, que proporcionou uma nova fonte de água de vida para refazer e ajudar as almas. E se espalhou em ribeiros diversos no território da Igreja, regando o plantio da religião”.

“Clara foi um elevado CANDELABRO da santidade, brilhando com força no tabernáculo do Senhor, e para seu enorme esplendor correram e correm tantas, querendo em sua luz acender suas lâmpadas”.

Se Clara de Assis, na linguagem da Bula de Canonização, foi a ‘árvore’ fecunda que produziu sombra e frutos, foi ‘água límpida’ que saciou a sede e foi o ‘candelabro’ que irradiou luz, estas três imagens simbólicas retratam perfeitamente as virtudes que emanaram de Clara de Assis e que as suas coirmãs relatam com muita reverência ao longo do chamado ‘Processo de Canonização’. Para as companheiras de vocação e missão contemplativa no Mosteiro de São Damião, Clara de Assis foi mãe, alento, abrigo, consolo, pobre, humilde, misericordiosa, paciente, honesta, benigna, compassiva, casta, transfigurada, contemplativa, iluminada, angélica, orante, austera, penitente, estudiosa, sensível, acolhedora e, acima de tudo, pobre.

Depois de apresentar Clara de Assis nas três imagens simbólicas, a Bula de Canonização conclui este parágrafo, afirmando: “É certo que ela plantou e cultivou no campo da fé a vinha da pobreza, da qual se colhem frutos de salvação, abundantes e ricos. Ela fez no terreno da Igreja o jardim da humildade, formada pela falta de muitas coisas, em que se colhe uma grande variedade de virtudes. Ela edificou nas terras da religião a fortaleza da abstinência estrita, em que se serve a refeição abundante dos pratos espirituais”.

Este empenho pessoal de Clara em plantar, cultivar e edificar moveu-se, sem dúvida alguma, pela forma corajosa com que trocou os valores do século quando encontrou no ‘campo da fé a vinha da pobreza’, valor supremo e privilégio de que ela jamais abriu mão.

Foi assim que as ‘discípulas de fé’, animadas pelo testemunho da mãe-Clara, ‘preclara nos seus claros méritos’, no cultivo diário do exercício penitencial de se colocarem diariamente diante do Espelho, enfeitando-se todas com as flores e roupas das virtudes todas, e contemplando particularmente o esplendor da santa pobreza, da santa humildade e da inefável caridade, ‘plantaram e cultivaram no campo da fé a vinha da pobreza’.

Neste Ano da Fé, nós todos, Franciscanos e Franciscanas, somos convidados e provocados a revigorar a condição primeira que Francisco e Clara de Assis nos propuseram, antes de abraçarmos esta Forma de Vida: “sejam examinados na fé católica”. E assim, na proclamação diária da nossa fé, e “firmes na fé católica, observemos sempre a santa pobreza e a humildade de nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima”. A fé no “Filho de Deus que fez-se para nós o Caminho” (Test. 5) nos conduz à essência de toda contemplação: a busca do “Reino de Deus e a sua justiça” (Reg. Eremitérios). Nesse sentido, gostaria de fazer minhas as palavras do Papa Francisco, pronunciadas no início da homilia, no dia 27 de julho, na Catedral do Rio de Janeiro:

“Creio que é importante reavivar em nós esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia a dia: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi”, diz-nos Jesus. Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Temos que nos lembrar sempre deste primeiro chamado. Fomos chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus, unidos a Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com São Paulo: “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim”. Este viver em Cristo configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta vida em Cristo é justamente o que garante a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: “Eu vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça”. Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os frutos, isso ajuda e muito, mas temos que ser fiéis a Jesus, que nos diz com insistência: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. E nós sabemos bem o que isso significa: Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e no abraço às pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é se isolar, mas é um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: Devemos estar muito orgulhosos da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir a Cristo nos pobres”.

A todas vós, Irmãs Clarissas, nossos votos de boas festas nesta solenidade de Santa Clara de Assis e que sobre todas vós, por intercessão do Seráfico Pai São Francisco, desça a mais copiosa bênção de Deus. E também suplico pelas vossas orações e a bênção de Santa Clara sobre a nossa Província.

Fraternalmente,
Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM
Ministro Provincial

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